“Facilmente se desmonta esta cabala para acabar comigo e com a minha carreira e com o museu da presidência”, disse o antigo diretor do Museu da Presidência, acrescentando: “Deixaram-me trabalhar, deram-me corda, depois ataram-me e atiraram-me ao rio. Os factos não correspondem à verdade, depois de um processo em que fui detido e exposto perante a comunidade. Essa foi a minha primeira condenação”.
Na primeira sessão do julgamento no Campus da Justiça, em Lisboa, o principal arguido do caso, que envolve mais três arguidos, revelou também que a denúncia anónima que esteve na origem da investigação foi assente na “inveja”, partindo de antigos colaboradores do Museu da Presidência da República.
“Nunca vi no meu comportamento que houvesse algum desvio. O meu comportamento enquanto diretor do museu foi sempre legal”, notou, sem deixar de ressalvar: “Houve um conjunto de pessoas, pelas razões que elas saberão, que me prejudicaram neste processo, vilipendiando a minha vida pessoal e profissional. Grande parte foram pessoas a quem eu dei a mão: porque lhes dei trabalho, porque os ajudei no seu trabalho ou nos seus estudos”.
A manhã ficou também marcada por um diferendo entre o juiz Luís Ribeiro e o advogado de defesa de Diogo Gaspar, Raul Soares da Veiga. Depois de inicialmente se mostrar atencioso para com o arguido antes das declarações de abertura, o juiz começou a questionar repetidamente o ex-diretor do Museu da Presidência se estendia a tese da cabala à Polícia Judiciária, ao Ministério Público ou até à juíza de instrução.
Ato contínuo, o presidente do coletivo de juízes interrompeu Diogo Gaspar, sublinhando que este devia começar por cingir-se aos factos da acusação e não os da contestação. O representante do arguido invocou que era “um direito inalienável” do arguido prestar “declarações da maneira que entender”, mas o requerimento viria a ser indeferido após uma pausa de cerca de dez minutos nos trabalhos.
Posteriormente, as declarações de Diogo Gaspar começaram a seguir os pontos constantes no despacho de acusação, incidindo no âmbito das funções e responsabilidades do arguido enquanto diretor do Museu da Presidência.
O processo ‘Operação Cavaleiro’ conta com quatro arguidos – Diogo Gaspar, José Dias, Paulo Duarte e Vítor Santos -, que respondem por 42 crimes, entre os quais abuso de poder, participação económica em negócio, tráfico de influências, falsificação de documentos, peculato e branqueamento de capitais.
A investigação, que ficou a cargo do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, teve início em abril de 2015, na sequência de uma denúncia anónima. Em junho de 2016, a PJ efetuou buscas e apreendeu em casa de Diogo Gaspar e de amigos alguns artefactos que pertenceriam ao Museu da Presidência, com o Tribunal de Instrução Criminal a decidir levar o caso a julgamento em 10 de julho de 2019.
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