Questionado pelo deputado do PS João Paulo Correia sobre se se considera devedor do Novo Banco, Rafael Mora considerou que "tecnicamente, não".

"Tecnicamente não sou devedor porque as empresas nas quais eu trabalhei e geri, efetivamente contraíram dívidas com o Novo Banco, é verdade. Quando eu saí, não estavam ainda em incumprimento", respondeu, acrescentando que não é acionista nem gestor de nenhuma das empresas.

Rafael Mora foi hoje ouvido durante cerca de duas horas e meia na Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução.

O gestor reconheceu, no entanto, que "efetivamente" teve responsabilidades na assinatura de créditos, mas "a pessoa que geria a área financeira e a relação com o BES chama-se doutor Vasconcellos, é um facto".

"Eu não negociava contratos com o BES, não negociava crédito, a minha função era operacional", disse Rafael Mora, detalhando que "cumpria ordens do dono do grupo".

Falando sobre o montante de dívida de 600 milhões de euros, Rafael Mora considerou ser difícil recuperar-se o total do valor, mas que caso "as empresas tecnológicas e de media" tivessem sido bem geridas e reestruturadas, talvez se pudesse ter chegado aos 400 milhões de euros.

Anteriormente, Rafael Mora já tinha dito na audição que, numa ida ao Novo Banco em 2015 por parte de Nuno Dias, administrador da empresa H&S (na esfera da Ongoing) para falar com o administrador Vítor Fernandes com vista a uma reestruturação, foi dito à empresa que o banco estava "tranquilo com a gestão do acionista".

"Em 2016, a H&S foi à falência em Portugal, porque no Brasil continua", revelou hoje aos deputados Rafael Mora.

Noutro episódio contado no parlamento, disse que em 2016 enviou "dois Whatsapps" ao presidente executivo do Novo Banco, António Ramalho, e ao administrador Jorge Cardoso acerca das empresas IBT Portugal e Brasil estarem a ser esvaziadas de contratos e recursos humanos.

"Foram avisados em 2015. Tiveram um ano para processar essa informação. Demoraram", respondeu ao deputado Hugo Carneiro, classificando o processo como 'kafkiano'.

As mensagens descreviam que "no processo de falência da IBT Portugal, solicitada pelo Novo Banco em dezembro de 2016, constituiu-se como credor a EDP Comercial", com uma dívida de 1.736 euros.

Rafael Mora revelou que "até ontem [terça-feira]" o representante da empresa de eletricidade foi "o advogado do doutor Vasconcellos".

"Como é que o advogado do doutor Vasconcellos pode representar a EDP Comercial num crédito de 1.736 euros num processo de falência e solicitar a subordinação da dívida do Novo Banco? E aparecem um ano depois do fim do prazo, neste esquema, 20 milhões de euros de duas sociedades brasileiras que nunca na vida tiveram relação até dezembro de 2015?", questionou.

"Portanto, o que quer dizer é que nos processos de insolvências de empresas da Ongoing foram reclamados créditos fictícios?", perguntou Hugo Carneiro (PSD).

"Claro. É uma estratégia genial. Utilizam a EDP Comercial, com uma dívida de 1.700 euros - não são 1.700 milhões, são 1.700 euros - para pedir a subordinação de uma dívida num processo de insolvência - e subordinação implica que acabou - e em paralelo aparecem dois créditos fantasmas de 20 milhões de euros", detalhou.