A exposição “José de Almada Negreiros. Uma maneira de ser moderno” encerra esta segunda-feira e centenas de pessoas não quiseram perder hoje a oportunidade de conhecer melhor a obra deste artista português, mesmo que para isso tenha sido necessário esperar quase duas horas.
Hoje à tarde, a fila para entrar na galeria principal, no edifício principal da Gulbenkian – a exposição divide-se em duas salas, uma no primeiro piso e outra no piso inferior – prolongava-se por toda a escadaria, ultrapassava a cafetaria e chegava ao jardim.
Sara, mãe das três crianças, descreveu à Lusa que a família estava “muito descontraída”.
“Viemos à hora de almoço, descontraidamente, comprámos os bilhetes, comemos um gelado, eles brincaram. Vimos que a fila estava enorme e temos estado fora da fila, eles têm estado a desenhar e a brincar”, relatou.
A filha mais velha, Joana, de 10 anos, ainda não sabe muito sobre Almada Negreiros: “Acho que é um pintor e também faz um bocadinho de cubismo”. Mais tarde, já na exposição, a pequena Sancha tinha adormecido no colo da mãe.
A mãe afirma que, sempre que podem, visitam exposições em família porque, “cada um à sua maneira e dentro da sua idade, as crianças vão absorvendo qualquer coisa”.
Pouco antes das 18:00, Judite, 50 anos, e a mãe eram as últimas da fila, mas estavam confiantes que iriam conseguir superar a espera.
Judite reconheceu que se enganou nas datas e pensava que a exposição, patente desde o início de fevereiro, estaria mais algum tempo na Gulbenkian.
A visitante afirmou-se apreciadora de Almada Negreiros, “um visionário e extremamente inovador na altura dele”.
Para ajudar a passar o tempo, algumas pessoas levam livros, a maioria conversa, outros comem e há mesmo quem aproveite para estudar.
De caderno A3 na mão, Leonor, de 14 anos, revê a matéria de matemática para o teste que vai ter esta segunda-feira, mas admite que não está muito confiante.
Luís, 19 anos, ia conversando e teve “mesmo de comer” durante a hora e meia que esperou. Como antigo aluno de Artes Visuais, é um grande apreciador da obra de Almada Negreiros e não quis mesmo perder a exibição.
Alexandra, 50 anos, foi persistente. Na quinta-feira tentou visitar a exposição, mas depois de “muito tempo na fila”, trocou os bilhetes para regressar hoje.
A visitante afirma conhecer “muito da obra do Almada” e a expectativa para esta exposição “era ver o conjunto da obra”.
Luciano Amaral, 52 anos, trouxe o filho, João, de 12, e os dois conseguiram visitar a mostra, depois de mais de duas horas de espera.
João, que está a terminar o 6.º ano, afirmou que ainda não ouviu falar na escola deste artista, mas sim “em casa e noutros sítios”.
Já o pai, que disse estar familiarizado com alguma da obra de Almada Negreiros, afirmou que nesta exposição viu “várias coisas” que não conhecia.
A apresentação de obras inéditas é precisamente um dos fatores de atração da exposição, disse à Lusa a curadora, Mariana Pinto dos Santos.
“Para quem já conhecia [a obra de Almada Negreiros], foi uma surpresa”, relatou, fazendo um balanço “muito positivo” da exposição.
Apesar de se tratar de uma exposição sobre um autor, o objetivo foi também “pensar um pouco o que foi o século XX do ponto de vista artístico”, mostrando as linguagens do “cinema, do humor, da narrativa gráfica, da banda desenhada, do cartoon”, explicou a historiadora de arte e investigadora.
Uma oportunidade para dar a conhecer melhor o legado de Almada Negreiros aos portugueses, mas também aos estrangeiros, que representaram cerca de 10% dos perto de 120 mil visitantes da exposição.
O cenário de hoje foi semelhante ao de sábado: a fundação anunciou o alargamento do horário até à meia-noite durante o fim de semana, para responder ao esperado aumento de afluxo de público, e, durante todo o dia, foram centenas as pessoas que se dirigiram à Gulbenkian.
Segundo fonte do gabinete de comunicação da Fundação Calouste Gulbenkian, no sábado mais de duas mil pessoas passaram pelo local. Hoje, a afluência foi ainda maior porque, por ser domingo, as entradas são gratuitas a partir das 14:00.
A mostra reúne perto de quatro centenas de obras, muitas delas inéditas, e acontece cerca de um quarto de século depois da última retrospetiva dedicada ao artista do modernismo português.
Almada Negreiros (1893-1970) deixou uma vasta obra de pintura, desenho, teatro, dança, romance, contos, conferências, ensaios, livros manuscritos ilustrados, poesia, narrativa gráfica, pintura mural e artes gráficas, cuja produção se estendeu ao longo de mais de meio século.
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