
“O A-Z Padel nasce a partir de uma união entre alguns clubes”, informa Jorge Gonçalves. “Neste caso, com o Top Padel e a Rackets Pro, cadeias com mais experiência no padel, em Portugal”.
“Começaram a construir clubes em 2011 e 2013, se não estou em erro”, adianta o empresário nortenho em conversa telefónica com o SAPO24 após a intervenção (“A consolidação do padel em Portugal: o caso A-Z Padel”) na segunda edição do Expo Padel World, feira internacional que decorreu no MEO Arena, em Lisboa.
Pertencente à terceira geração do grupo TMG - Têxtil Manuel Gonçalves, de Famalicão, fundador e acionista da plataforma de jogo online casinoportugal.pt, Jorge Gonçalves centrou apostas no padel, modalidade desportiva com um notável crescimento em Portugal.
Segundo os últimos números tornados públicos pela Federação Portuguesa de Padel (FPP), federação que está a desenvolver um estudo com a Nova SBE sobre o peso e o valor da modalidade, existem à volta de “300 clubes” em Portugal, mais do dobro dos registados em 2021, “15 mil jogadores filiados” num universo de perto de “300 mil praticantes regulares”, de acordo com fonte da FPP.
O empresário e investidor explica a génese do A-Z Padel, criado à boleia de uma modalidade que está na moda e mais rapidamente cresce na componente social.
Arrancou com a junção aos dois grandes players no mercado português. “Gente com muita experiência no negócio, na gestão de clubes, mas já fizeram muita coisa mal, muita tentativa e erro. Propus ao Top Padel e ao Racket Pro criar uma empresa de serviços partilhados que conseguisse aglomerar todo este conhecimento adquirido ao longo de anos para tornar a gestão eficiente dos clubes”, explica.
A gestão não-profissional é, para Jorge Gonçalves, o calcanhar de Aquiles dos clubes. “Há adesão do público, campos reservados, receitas, os clubes até são bonitos, têm uma boa imagem, mas falhavam na parte da gestão”, acentua. “Queremos colmatar essa parte”.
13 clubes em 11 localidades. 200 campos em 2026
Atualmente, o A-Z Padel, maior grupo de padel em Portugal, tem 13 clubes no portfólio e presença em 11 locais: Guimarães, Santo Tirso, Porto, Gaia, Maia, Sintra, Cascais, Santa Iria da Azóia, Lisboa, Caparica e Charneca da Caparica. Tem mais de 150 campos ativos e, em 2026, quer atingir os 200.
Jorge Gonçalves projeta o crescimento orgânico feito e os modelos de negócios desenvolvidos. “Até ao momento, todos os clubes são adquiridos por nós, parcial ou totalmente”, sublinha. “Mas o objetivo é criar um modelo em que não precisamos de adquirir o clube”, avança.
“Temos diferentes modelos em que estamos a trabalhar. Num deles, temos quota e fazemos mais ou menos aquilo que queremos”, assinala.
“Depois, temos um modelo — vamos abrir dois clubes assim — em que não há nenhum investimento, mas temos a total gestão do clube. Recebemos um fee dessa gestão, mas o investimento e os resultados do clube são de quem faz o investimento”, frisa.
“E temos também um modelo de franchising, uma pessoa quer juntar-se à rede, beneficiar das nossas economias de escala, do nosso nome, dos nossos serviços de marketing, pode juntar-se desde que cumpra determinados critérios. Contrata os serviços que pode e quer”, assinala. “É algo que não existe em Portugal, não há nada deste género”.
Para o investidor do A-Z Padel, os serviços que este aglomerado de clubes disponibiliza são uma mais-valia. “Para um clube ter avença com empresas de marketing, redes sociais, planos de manutenção preventiva para os campos, são investimentos pesados”, recorda. “Juntar estes serviços todos, centralizados, é muito mais eficiente”.
Até 2026, quer ter 200 campos debaixo do universo A-Z Padel. O crescimento implica um forte investimento. Contudo, valores é tema que não divulga. “Não posso partilhar, desculpe”, responde Jorge Gonçalves, quando questionado.
“Até agora, comprámos sempre parte dos clubes. Para ampliar a rede, a ideia até 2026 vai ter que andar muito via franchising ou modelo de gestão”, antecipa.
“Por exemplo, não faz muito sentido para nós comprar um clube em Castelo Branco, com quatro campos, ou parte, mas se calhar para o dono do clube pode fazer sentido integrar na nossa rede mais tarde”, diz, como exemplo de como um eventual franchisado pode contribuir para a expansão.
Para além do crescimento a nível de campos, nos três modelos atrás identificados, o A-Z Padel quer ter jogadores a competirem a nível profissional.
“Temos três ou quatro jogadores a treinar. É um projeto-piloto. Logo, diria que se chegarmos ao final do ano e conseguirmos pagar as contas, está tudo bem. O objetivo é também utilizar os atletas na promoção dos clubes”, acrescenta.
Dos 25 mil euros aos três milhões de euros
Os números totais não param de trepar, ano após ano. Crescem clubes, multiplicam-se campos e as vendas de material desportivo sobem (roupa, ténis e raquetes). Inclusive, nasceu em Braga a primeira fábrica portuguesa de raquetes de padel em carbono, a Quad.
Embora seja um investimento que pode deixar a salivar muito investidor, Jorge Gonçalves deixa, no entanto, um reparo. Aliás, aponta dois.
“É um negócio que é difícil de escalar, porque os campos são finitos”, adverte. “Mas é um negócio que se for bem gerido... os nossos clubes têm EBITDA [Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização] à volta dos 30%, o que me parece uma ótima margem”, destaca.
“Não se pode permitir fazer muitas asneiras e entrar muito em excessos. Porque aí é que normalmente as coisas começam a descambar. Empréstimos bancários grandes, rendas enormes, pagar treinadores”, enumera.
Aviso feito, o empresário nortenho deixa pistas a quem quer investir no padel. “Um campo bom, a construção, anda à volta dos 22 aos 25 mil euros”, atira.
“Lisboa tem uma vantagem muito grande por ter cerca de 30 dias de chuva por ano. Diria que, na maior parte dos casos, não compensa tapá-los. E aí já não têm de fazer a infraestrutura toda”, refere.
Mas o país não é só a capital, nem arredores, e o A-Z Padel está no Porto, Gaia, Maia e Guimarães, zonas onde a pluviosidade é um visitante mais frequente.
“Se tiver de tapar, uma tenda para dois campos pode andar à volta dos 50 aos 55 mil euros. Se for uma infraestrutura, aí já depende da infraestrutura”, atesta.
É difícil encontrar um valor base de investimento, admite. “Acho que com 100 mil é muito difícil de fazer um campo, um clube. Porque depois tem a infraestrutura de bar e balneários”, enumera.
Consequentemente, aponta um mínimo olímpico. “200 mil, mínimo dos mínimos”, fixa. “Mas ultrapassa facilmente 1 milhão, com coberturas”.
Recupera um investimento pensado e em cima da mesa. “Em Santo Tirso, estamos a olhar para um projeto. É uma coisa diferente. Tem ginásio, são três mil metros quadrados, oito campos, um espaço exterior muito grande, parque de estacionamento e é no centro da cidade. Vai para cima de 3 milhões de euros. Depois, depende aquilo que se quiser fazer”, conta.
Para o fim de conversa, sustenta que abrir um campo de padel em cada esquina “é um fator bom para o desenvolvimento da modalidade, mas temos de ter alguma cautela”. Por isso, deixa um aviso. “Se começam a abrir campos como tudo, podem canibalizar-se uns aos outros. E não podemos”.
“Quando comecei a jogar, fazia 30 quilómetros para jogar padel, e agora... é andar a pé até à próxima esquina", finaliza, a sorrir.
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