
“Encontrámos provas suficientes em várias plataformas de que os apoiantes da AfD se envolvem em algum nível de utilização coordenada dos algoritmos das redes sociais para promover as suas ideias”, apontou o coordenador de Investigação para a Democracia Digital da DRI, adiantando que as conclusões de vários estudos serão tornadas públicas nos próximos dias.
A DRI, em conjunto com a Sociedade para os Direitos Civis (Gesellschaft für Freiheitsrechte), venceu recentemente uma ação em tribunal que obriga a plataforma X (antigo Twitter) a permitir o acesso a dados sobre conteúdo político publicado antes das eleições legislativas antecipadas de 23 de fevereiro.
“O significado aqui é que um tribunal de Berlim ou da União Europeia pode agir muito rapidamente num contexto eleitoral (…). O caso foi tratado com caráter de urgência e os tribunais responderam favoravelmente de forma extremamente rápida”, revelou em declarações à agência Lusa.
Ognjan Denkovski realça que esta investigação em particular pode não “salvar as eleições alemãs de forma particular”, mas é, sem dúvida, simbólica, numa altura em que a democracia pode estar, cada vez mais, em risco.
“Talvez isso se deva, em parte, ao facto de as plataformas estarem a desempenhar um papel cada vez mais importante na condução do comportamento dos cidadãos e na tomada de decisões com base no seu consumo de informação”, acrescentou.
“O facto de a regulamentação já estar atrasada em relação à tecnologia e à forma como a tecnologia evolui” também interfere na estabilidade da democracia alemã, admitiu à Lusa o investigador.
A decisão que obriga a plataforma detida pelo multimilionário Elon Musk (e atual membro da administração norte-americana) a fornecer os seus dados marca um dos primeiros grandes testes judiciais da Lei de Serviços Digitais da União Europeia (DSA), levantando dúvidas sobre a conformidade da rede social X com as regulamentações europeias.
As duas entidades que deram início ao processo acusaram a X de bloquear esforços para rastrear possíveis interferências eleitorais ao não conceder o acesso a dados importantes, como alcance ou número de “gostos”.
No entanto, não é certo que a X cumpra a decisão, podendo tentar atrasá-la através de recursos legais.
O dono da X, Elon Musk, já manifestou diversas vezes o seu apoio ao partido AfD, chegando a participar por videoconferência no início da campanha do partido e a organizar uma conversa, emitida na sua rede social, com a líder e candidata a chanceler, Alice Weidel.
“Se alguém está a tirar proveito das redes sociais em geral nesta altura são definitivamente os partidos extremistas”, completou o coordenador de Investigação para a Democracia Digital da DRI, assumindo que este fenómeno não se limita à Alemanha, nem a estas eleições federais ou a uma plataforma em particular.
“As posições políticas mais extremas tendem a ser as que adotam novas formas de passar a sua mensagem. Isso acontecia, e ainda acontece, no antigo Twitter, mas ainda mais no TikTok”, sublinhou ainda o investigador.
A Alemanha realiza em 23 de fevereiro eleições legislativas antecipadas – estavam previstas para 28 de setembro -, na sequência da queda da coligação governamental liderada por Olaf Scholz e composta pelo SPD (social-democrata), pelos liberais do FDP e pelos Verdes.
Comentários