"Precisamos de A positivo, A negativo, O positivo e O negativo. Onde temos maior dificuldade é no IPST, que fornece os hospitais da Grande Lisboa, que não têm colheita", adianta ao SAPO24 Antónia Escoval, presidente do Conselho Diretivo do IPST.

"Embora isto seja uma rede, e todos os dias venha sangue de Coimbra e do Porto, nesta altura do ano há sempre a situação das infeções respiratórias e temos mais dificuldade", acrescenta.

Direitos e deveres dos dadores de sangue

Todas as pessoas podem dar sangue?

Todas as pessoas que tenham mais de 18 anos de idade (ou 17 anos mediante consentimento dos pais); 50kg de peso e estilos e hábitos de vida saudáveis. Antes da dádiva de sangue é realizada uma avaliação clínica (triagem) por um profissional de saúde qualificado para avaliar o risco. Se não forem identificadas situações que possam pôr em causa a sua segurança, enquanto dador, e a segurança do receptor, enquanto doente, poderá dar sangue.

Estou a tomar medicamentos. Posso dar sangue?

Depende. Há medicamentos que podem levar à suspensão temporária ou definitiva da possibilidade de dar sangue. Receitados pelo médico ou não, o nome dos medicamentos devem ser comunicados ao profissional de saúde.

Tive anemia. Posso dar sangue?

Deve consultar um profissional de saúde. A causa da anemia deve ser avaliada e confirmada a normalização do valor da hemoglobina. É aconselhável a avaliação das reservas de ferro após a terapêutica.

A obesidade é impeditiva para dar sangue?

A obesidade por si só não contra-indica a dádiva de sangue, desde que não esteja associada a doenças crónicas como diabetes, hipertensão ou doenças cardiovasculares, entre outras.

Fumo "um charro" de vez em quando. Posso dar sangue?

O consumo de droga requer uma avaliação clínica pelo profissional de saúde qualificado sobre a frequência do consumo e a forma de administração, pelo que deverá sempre referir esta situação no âmbito da triagem cínica.

Posso transmitir COVID-19 ao dar sangue?

Não há evidência científica de que a COVID-19 seja transmitida pela transfusão, podendo contudo haver um risco teórico de transmissibilidade. Os serviços de sangue têm implementados critérios de elegibilidade para os dadores de sangue face a contactos de risco ou de doença COVID-19. Está também implementado um procedimento de vigilância, a informação pós dádiva, através do qual os dadores são informados de que devem contactar o serviço de sangue após a dádiva em caso de doença nos sete dias seguintes à dádiva.

Tive um aborto/interrupção da gravidez. Poderei dar sangue?

Uma interrupção de gravidez tem associado um período de suspensão de seis meses.

Tive epilepsia. Posso ser dador de sangue?

A epilepsia contra-indica a dádiva de sangue. Se convulsão durante a infância, ou decorridos pelo menos três anos desde a última data em que a pessoa candidata à dádiva tomou medicação anticonvulsiva e sem recidiva de convulsões, poderá candidatar-se à dádiva de sangue.

Tenho uma tatuagem. Posso dar sangue?

Pode candidatar-se à dádiva de sangue quatro meses depois da realização da tatuagem. As pinturas, stencilling e uso de transfers não contra-indicam a dádiva de sangue. A mesma coisa em relação à colocação de piercings.

Tenho mais de 65 anos de idade. Posso dar sangue?

As pessoas com mais de 65 anos poderão candidatar-se à dádiva de sangue sendo a sua elegibilidade para a dádiva um critério do médico do serviço de sangue.

Tenho fibromialgia. Posso dar sangue?

A fibromialgia é uma síndroma dolorosa não inflamatória caracterizada por dores musculares difusas, fadiga, parestesias e distúrbios do sono. Se a medicação não contra-indicar a dádiva de sangue, e se a pessoa se sentir bem, poderá candidatar-se à dádiva de sangue.

Deixam-me dar sangue se tiver a tensão elevada?

A tensão arterial elevada é um factor de risco para a doença cardiovascular e a existência de doença pode condicionar a resposta do coração à dádiva de sangue. As pessoas hipertensas podem ser admitidas desde que não estejam em estudo e apresentem uma hipertensão controlada (sem compromisso cardíaco, renal e patologia arterial periférica). A medicação com anti-hipertensores não é impeditiva, desde que a pessoa candidata à dádiva de sangue cumpra os requisitos recomendados.

E se for diabético?

As pessoas com diabetes tipo 1 não podem dar sangue. As pessoas com diabetes tipo 2 poderão candidatar-se à dádiva de sangue, se apresentarem: controlo glicémico adequado com dieta; medicação oral ou medicação injetável, que não a insulina; sem alteração do tipo e da dosagem dos antidiabéticos (orais e injetáveis que não a insulina) nas últimas quatro semanas; sem antecedentes recentes de hipotensão postural ou tonturas.

Será a minha profissão de risco? Posso dar sangue?

A exposição a eventos ou situações que aumentem o risco de aquisição de doença infecciosa pode ocorrer em qualquer altura da vida. A procura de informação pelo profissional de saúde qualificado sobre passatempos, profissão, actividades de jardinagem, contactos próximos com animais domésticos e selvagens são fundamentais na avaliação individual da exposição ao risco.

São necessários cuidados especiais após a dádiva?

Na dádiva são colhidos aproximadamente 450 ml de sangue (+/- 10%). A reposição das proteínas e células sanguíneas é efetuada pelo organismo. O reforço de ingestão de líquidos (água) antes e depois da dádiva é muito importante para que a reposição do volume. Poderá voltar à sua ocupação normal, contudo, estão identificadas algumas actividades que requerem uma atenção particular: paraquedistas, condutores de transportes públicos e veículos pesados, mergulhadores, escaladores, trabalhadores em andaimes e instalações eléctricas e mineiros devem aguardar um período mínimo de 12 horas para reiniciar a actividade; pilotos de aviação devem aguardar entre 24 e 72 horas para reiniciar a actividade. Aconselha-se o repouso de seis horas após a dádiva antes de uma viagem superior a 100 Km a conduzir.

Recebi uma transfusão. Posso dar sangue?

Se recebeu uma transfusão de sangue após 1980 não se pode candidatar à dádiva de sangue. A implementação deste critério de suspensão surge na sequência do risco de transmissão secundária de uma variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob (vCJD), também designada por doença das vacas loucas, por transfusão. Se recebeu uma transfusão antes de 1980 poderá candidatar-se à dádiva de sangue.

Quando sou considerado "Pessoa Dadora de sangue"?

Pessoa dadora de sangue é toda a pessoa que depois de aceite clinicamente doa, benevolamente e de forma voluntária, parte do seu sangue para fins terapêuticos. À pessoa dadora de sangue é atribuído um Cartão Nacional de Pessoa dadora de sangue após a realização da primeira dádiva efetiva de sangue. O Cartão Nacional de Dador não é emitido a pedido da Pessoa Dadora, mas sim do serviço responsável pela colheita de sangue.

Quais os meus direitos enquanto Pessoa Dadora de sangue?

A pessoa que dá sangue tem direito à salvaguarda da sua integridade física e mental; à informação sobre todos os aspetos relevantes relacionados com a dádiva de sangue; à confidencialidade dos dados; ao reconhecimento público; a não ser objecto de discriminação; à isenção das taxas moderadoras no acesso à prestação de cuidados de saúde do Serviço Nacional de Saúde (SNS), nos termos da legislação em vigor; ao seguro do dador; à acessibilidade gratuita ao estacionamento nos estabelecimentos do SNS, aquando da dádiva de sangue e a ausentar-se das suas atividades profissionais pelo período de tempo necessário para a dádiva de sangue.

Assim, é normal que haja menos sangue disponível no inverno. "Quando não é em janeiro, é em fevereiro. O aumento das infeções respiratórias leva à suspensão dos dadores por 14 dias".

Devido à situação, Antónia Escoval deixa o apelo: "Esta é uma excelente oportunidade para quem nunca deu vir dar pela primeira vez e é muito importante que os dadores habituais, que não têm consciência do que está a acontecer, venham também dar sangue".

O pedido foi também partilhado nas redes sociais do instituto. "Precisamos que dê sangue já", lê-se no Facebook.

De recordar que já em julho de 2024 o IPST, que monitoriza de forma permanente as reservas de sangue a nível nacional, tinha pedido sangue destes grupos. Nessa altura, era adiantado que "as férias e a deslocação das pessoas para fora da sua área de residência, durante esta época, tornam sempre mais difícil a manutenção das reservas em níveis confortáveis".

Segundo os dados disponíveis, os hospitais portugueses precisam, diariamente, de aproximadamente 1100 unidades de sangue, para dar resposta às necessidades dos doentes.

O IPST é responsável por cerca de 60% das colheitas de sangue em Portugal, sendo os restantes 40% colhidos pelos serviços hospitalares.

A recolha de sangue é um procedimento rápido — demora cerca de 30 minutos — e pode ajudar a salvar várias pessoas, já que uma única unidade de sangue pode servir para ajudar até três vidas.

*Com Isabel Tavares