“O motor perdeu potência por falta de combustível. [houve] Uma deficiente gestão de combustível pelo piloto, motivado pelo tipo de evento e envolvente operacional, que terá levado o piloto a não efetuar uma verificação física da quantidade de combustível antes e durante cada voo”, frisa o relatório final do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), a que a agência Lusa teve hoje acesso.

A 27 de maio, poucos minutos após descolar para uma demonstração de acrobacia, inserida no evento “Portugal Air Summit 2018″, no Aeródromo de Ponte de Sor, o motor do ‘XtremeAir XA42′ parou, e o piloto, de nacionalidade norte-americana, de 42 anos, declarou emergência no ar e aterrou num terreno agrícola.

“O piloto executou uma aproximação a planar até ao terreno agrícola e, durante a aterragem, a aeronave aterrou em terreno macio (que estava a ser preparado para plantação) e derrapou cerca de 21m (metros) antes de ficar imobilizado na posição invertida”, explica o relatório.

O piloto, que estava sentado no banco traseiro, não sofreu ferimentos e saiu da aeronave pelos seus próprios meios, enquanto o passageiro, de nacionalidade portuguesa, de 36 anos, ficou com escoriações e abandonou o bilugar com o auxílio de um trator agrícola que levantou a asa direita da aeronave.

“No decorrer da recolha de evidências e preparação de remoção dos destroços foi aferido que não existia combustível no acrotank [tanque principal] (tanto no filtro de combustível como no divisor de combustível) e apenas uma quantidade insignificante nos tanques das asas”, constataram os investigadores.

O GPIAAF concluiu que, “dadas as evidências de ausência de combustível no acrotank e, tendo em consideração a queda do valor da pressão de combustível, seguida da queda no valor das rotações do motor, é provável que o motor tenha parado devido a falta de combustível”.

“O planeamento de combustível antes do voo pode ser precipitado por constrangimentos de tempo, alterações meteorológicas, carga inexata e complacência por parte dos pilotos em ceder a eventuais pressões por parte das organizações de eventos. Permitir que outras pessoas ou eventos possam contribuir como uma distração, pode levar a que o piloto fique focado nesse aspeto particular e pode originar que deixe de prestar atenção a outros aspetos importantes do voo — como gestão de combustível”, alerta o GPIAAF.

O relatório refere que a aeronave “terá sido abastecida até à sua capacidade máxima com 33 litros” de combustível antes dos voos de dia 26 de maio e com mais 36 litros de combustível no final desse dia”, enquanto no dia seguinte, no dia do acidente, “não foram efetuados abastecimentos”.

O dia 27 foi o único em que os voos se realizaram da parte da manhã e o voo do acidente foi o único com um passageiro a bordo da aeronave.

O “Portugal Air Summit 2018″ decorreu no Aeródromo de Ponte de Sor, entre 24 e 27 de maio, reuniu das personalidades mais relevantes da indústria, infraestruturas e serviços, e teve milhares de espetadores a assistir aos voos acrobáticos.

Em termos de espetáculo aéreo, o “Portugal Air Summit 2018″ possuía várias demonstrações de acrobacia aérea e a corrida ARC (Air Race Championship). O piloto envolvido no acidente estava inscrito para participar em ambas.

Dos documentos fornecidos aos investigadores do GPIAAF, foi possível verificar que o piloto tinha, à data do acidente, um total de 12.481 horas de voo como piloto.

Contudo, “não foi possível apurar as horas de voo” que o piloto tinha no modelo da aeronave acidentada”, mas o relatório ressalva que o piloto foi dono de um ‘XtremeAir XA42′, igual ao avião acidentado, e que, desde 2015, que participa em competições com este modelo de aeronave.