Fechada desde 07 de julho de 2020 depois de o administrador de insolvência ter dado o direito de preferência ao senhorio após este o ter acionado, a histórica cervejaria do Porto conheceu hoje o que pode ter sido o episódio final do seu processo de encerramento, em curso no Tribunal do Comércio de Vila Nova de Gaia, que quis ouvir hoje as partes sobre a proposta do senhorio.
Segundo António Ferreira, o tribunal “quis saber se os trabalhadores aceitavam a proposta, que era igual à dos restantes empresários que se propunham ficar com a cervejaria – 250 mil euros -, mas com vários apêndices ao processo”.
O senhorio, caso os trabalhadores não aceitassem, continuou António Ferreira, “avançaria com uma ação de despejo uma vez que a massa insolvente não tem liquidez para pagar o aluguer do espaço”.
Ao fazê-lo, “pouparia os 250 mil euros e ganharia a ação na mesma, pois tem a faca e o queijo na mão”, explicou um dos dois funcionários que desde 2019 assumiram a gestão da cervejaria, em resposta à tentativa de encerramento compulsivo por parte da empresa detentora, a Sociedade Atividades Hoteleiras Galiza Portuense.
“Perante os factos, os trabalhadores aceitaram a proposta, tal como o administrador de insolvência e a Autoridade Tributária”, relatou António Ferreira, que trabalhou mais de 30 anos naquela cervejaria.
Neste contexto, o estabelecimento “transita para o senhorio, mas não já, uma vez que um dos credores, a Real Sabor, não compareceu em tribunal e vai ser notificado para num prazo de 10 dias dizer se tem alguma coisa contra”, explicou.
Caso não haja nada a opor, “em setembro a decisão do tribunal será comunicada às partes”, acrescentou.
Dos 30 funcionários que a Galiza dispunha, “três já iniciaram o processo de reforma e dois vão fazer o mesmo, enquanto outros dois, emigrantes, mais o Luís Barbosa [que fez parte da comissão de gestão], já estão a trabalhar, pelo que há 21 que continuam a receber o fundo de desemprego, mas a tentar orientar-se”, descreveu António Ferreira.
“Hoje vivi sensações mistas, angústia e alívio, à saída do tribunal, pois foi um processo muito longo e intenso”, confessou à Lusa António Ferreira.
Fundada a 29 de julho de 1972, no início de novembro de 2019, os então 30 trabalhadores da cervejaria foram surpreendidos com uma tentativa de encerramento coercivo das instalações pela gestora da empresa, acabando por organizar-se e, até julho, assegurar a gestão diária do espaço.
Antes da tentativa de encerramento, a empresa dona da Cervejaria Galiza, num esforço em resolver as dificuldades financeiras, passou pelo recurso a um PER (Processo Especial de Revitalização), aceite pelo Tribunal do Comércio de Vila Nova de Gaia.
A tentativa de encontrar uma solução passou então para o Ministério do Trabalho, tendo a empresa e os representantes dos trabalhadores e do Sindicato de Hotelaria do Norte reunido várias vezes, desde dezembro, na Direção-geral do Emprego e das Relações do Trabalho (DGERT), no Porto.
No decurso dessas reuniões, as representantes da empresa prometeram avançar com um processo de insolvência controlada e recuperação da empresa, o que salvaguardava os postos de trabalho, mas que nunca se concretizou.
A empresa acumulou dívidas de cerca de dois milhões de euros ao Fisco e à Segurança Social.
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