A queixa-crime foi apresentada na terça-feira “junto da divisão financeira do Ministério Público e do procurador da República de Paris por cumplicidade em homicídio e corrupção ativa e passiva”, segundo um comunicado da RSF, que acrescentou que o processo visa em particular “o empresário Yorgen Fenech, o chefe de gabinete do primeiro-ministro de Malta, Keith Schembri, e o ministro do Turismo, Konrad Mizzi, que renunciaram entretanto aos respetivos cargos”.
A queixa tem como fundamento os investimentos realizados em França por Yorgen Fenech, que possui um hotel e uma estrebaria de cavalos de corrida em território francês.
Daphne Caruana Galizia, que investigava casos de corrupção na elite política e empresarial de Malta, foi morta a 16 de outubro de 2017 com um engenho explosivo colocado no seu automóvel.
A jornalista investigava na altura políticos malteses, incluindo o primeiro-ministro e a mulher, a partir de revelações dos “Papéis do Panamá”, tendo nomeadamente escrito que o então ministro com a pasta da Energia, Konrad Mizzi, e o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Keith Schembri, terão recebido cerca de dois milhões de euros de uma empresa do Dubai, a 17 Black, por serviços não precisados.
O grupo de investigação Daphne Project, que retomou as investigações da jornalista após a sua morte, descobriu que a 17 Black pertence a Yorgen Fenech, tese entretanto corroborada pela justiça maltesa no âmbito de uma série de detenções por lavagem de dinheiro.
Na queixa apresentada em França, a RSF e a família de Daphne Caruana Galizia dizem suspeitar que as receitas geradas pelos ativos detidos por Yorgen Fenech em território francês possam ter sido usadas para subornar o chefe de gabinete (Keith Schembri) e o ministro (Konrad Mizzi) malteses, com o propósito de obter um contrato público, um dos vários aspetos que estava a ser investigado pela jornalista assassinada aos 53 anos.
Os proponentes da queixa também argumentam que os investimentos em França do influente empresário poderão ter sido usados para pagar “os autores do atentado com uma bomba que matou a jornalista” em 2017.
“Como os ativos em França de um dos prováveis patrocinadores poderão ter sido usados para pagar os autores deste crime hediondo, a justiça francesa deve investigar e contribuir para o estabelecimento da verdade sobre o assassínio”, argumentou o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire, citado num comunicado.
Em finais de novembro, os procuradores de Malta indiciaram Yorgen Fenech, que alegadamente mantém relações próximas com o círculo do primeiro-ministro de Malta, Joseph Muscat, de cumplicidade no assassínio da jornalista.
Yorgen Fenech, que se declara inocente das alegações, foi detido em novembro no Mediterrâneo a bordo do seu iate, quando aparentemente tentava abandonar Malta.
A investigação à morte da jornalista desencadeou uma crise política em Malta, com demissões em série no Governo maltês e com o primeiro-ministro, Joseph Muscat, a anunciar, no domingo passado, que vai abandonar o cargo em janeiro.
Alvo de sucessivos protestos nas ruas a exigir a sua demissão, Joseph Muscat é acusado de intervir no processo para proteger o seu ex-chefe de gabinete Keith Schembri.
Apesar do anúncio de Muscat, a decisão não satisfez a família da jornalista nem a oposição, que defendem o afastamento imediato do político.
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