Nesta visita pastoral, o pontífice fez apelos à “paz e concórdia entre os povos”, pedindo a Nossa Senhora, que, “no mais intimo do Seu imaculado coração”, veja “as dores da família humana que geme e chora neste vale de lágrimas”.
“Seremos, na alegria do Evangelho, a Igreja vestida de branco, da alvura branqueada no sangue do cordeiro derramado ainda em todas as guerras que destroem o mundo em que vivemos”, disse Francisco, na oração proferida na sexta-feira, após um momento de recolhimento frente à imagem de Nossa Senhora.
O papa exortou os cristãos a serem, antes de mais, “marianos” e disse: “Devemos reconhecer a relação essencial, vital e providencial que une Nossa Senhora a Jesus, que nos abre o caminho que nos leva a Ele.”
“Com Cristo e Maria permaneçamos em Deus”, sublinhou, destacando a necessidade de os católicos serem “misericordiosos”.
Na homília de hoje, Francisco apontou os dois novos santos como “um exemplo”, considerando que “a força para superarem contrariedades e sofrimentos lhes foi dada pela Virgem Maria, presença constante nas suas vidas”.
O papa chegou a Portugal na sexta-feira à tarde, para uma visita pastoral de menos de 24 horas, durante a qual se encontrou com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, os bispos portugueses e outras individualidades.
Marcelo Rebelo de Sousa, que já se tinha reunido no Vaticano com o pontífice, sublinhou que esteve em Fátima “como peregrino”, e destacou “a vivacidade física e espiritual” de Francisco.
O chefe do Governo, António Costa, por seu turno, indicou Francisco como “uma referência certamente para os crentes, mas uma referência para todos aqueles que acreditam nos valores da humanidade, nos valores da dignidade da pessoa humana”.
O papa entrou em Fátima na sexta-feira, perto das 18:00, proveniente de Monte Real, onde aterrou vindo de Roma, e foi recebido por milhares de peregrinos que o aplaudiram nas ruas.
O cortejo papal desde a entrada de Fátima até à capelinha das Aparições, onde se recolheu silêncio e entregou a Rosa d’Ouro a Nossa Senhora, foi feito em menos de 30 minutos, o que desapontou alguns peregrinos, que esperavam um contacto mais próximo.
À noite, Francisco surpreendeu os fiéis, quando, no recinto, desceu do papamóvel e foi ao encontro de alguns peregrinos, fazendo a pé metade do percurso até à capelinha, onde rezou o terço. Neste curto trajeto, Francisco recebeu flores, mensagens escritas, beijou crianças e cumprimentou alguns peregrinos que lhe estenderam os braços.
Na cerimónia da bênção das velas, o papa afirmou que “devemos antepor a misericórdia ao julgamento e, em todo o caso, o julgamento de Deus será feito à luz da Sua misericórdia”.
O recinto encontrava-se lotado, e em vários pontos da cidade, centenas de pessoas concentraram-se próximo de ecrãs que transmitiam a cerimónia, acompanhando-a com fervor.
“A fé tem de saber tirar partido das novas tecnologias, nunca descurando o encontro e a partilha. Estamos em partilha com o papa, mesmo que não o vejamos diretamente”, comentou Rafael, de 17 anos, que veio a Fátima pela terceira vez.
Alguns peregrinos que vieram a Fátima já tinham estado no santuário em visitas papais anteriores, mas, apesar de reconhecerem os méritos de João Paulo II e de Bento XVI, realçaram “a humildade e a proximidade” cultivadas por Francisco.
“É muito humilde, está junto das pessoas, dos pobres, João Paulo II também estava, mas este sentimo-lo mais próximo”, disse Dalva Fonte. A opinião da peregrina brasileira foi reforçada por Manuel Nogueira, de Santa Marta de Penaguião, que afirmou: “Francisco é um papa diferente porque é o papa dos pobres”.
A visita de Francisco motivou ainda a presença de mais peregrinos do que o habitual nos dias 13 de maio, facto ao qual não foram alheios a comemoração do Centenário das Aparições e a canonização dos beatos Jacinta e Francisco.
“Francisco soube trazer a Igreja até nós. E encheu Fátima de luz. Não me recordo de ter assistido a nada assim, e olhe que já ando aqui [nas peregrinações] há muito tempo”, disse Samuel Garcia, de 70 anos.
No dia de hoje assistiram à cerimónia de canonização de Jacinta e Francisco, cerca de 500.000 fiéis, segundo uma estimativa porta-voz da Santa Sé, dada à agência noticiosa Efe, um número semelhante aos que recitaram o terço na sexta-feira à noite.
Comentários