Em declarações à agência Lusa, o investigador Nuno Peixinho, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), explicou que o fenómeno, partilhado por populares nas redes sociais, “levava a crer que não era um meteoro, mas sim a reentrada na atmosfera de algum lixo espacial”.
“E, assim foi. Aliás, era o satélite Starlink-2200 da SpaceX e a sua queda estava prevista. Quase todos os dias reentram um ou mais satélites de órbitas baixas na nossa atmosfera. Desta vez, tivemos a sorte de o ver”, afirmou.
Segundo Nuno Peixinho, a reentrada de lixo espacial na Terra “não tem perigo”, ainda que seja feita a uma velocidade “rasante” à atmosfera.
“Um satélite que está em orbita à volta da Terra reentra com uma velocidade de cerca de 10 quilómetros por segundo”, esclareceu.
A par do fenómeno avistado pelas 22:00 a partir de vários locais de Trás-os-Montes, na madrugada de domingo reentraram mais dois objetos espaciais, “um na zona do Equador e outro mais a norte”.
“Está tudo programado para que estes satélites se vaporizem na reentrada, ou seja, não chega nada ao chão. A pressão aerodinâmica é de tal forma, que o ar comprimido sobe a mais de 20 mil graus de temperatura. A essa temperatura, o corpo aquece e evapora”, disse, esclarecendo que tal acontece também com as estrelas cadentes e o lixo espacial.
Ainda que este "pequeno lixo espacial" não represente perigo para a Terra, representa “para o espaço em si”, nomeadamente, para os astronautas, para a Estação Espacial Internacional, mas também para os equipamentos a orbitar a Terra.
“Só em 2020, a Estação Espacial Internacional teve de fazer três manobras para se desviar de lixo espacial que sabia que ia passar perto”, exemplificou.
À Lusa, Nuno Peixinho afirmou que o lixo espacial é um dos “desafios” que a astrofísica enfrenta, lembrando que vários países, como é o caso de Portugal, estão a investir e fazer “um esforço” cada vez maior para o detetar.
A par do lixo espacial, o investigador salientou que os satélites a órbitas baixas são também um desafio para o estudo do espaço, defendendo que é necessário “encontrar um equilíbrio”.
Contactado pela Lusa, o presidente da Agencia Espacial Portuguesa (AEP), Ricardo Conde, disse hoje que este fenómeno espacial não foi “um caso isolado” já que outros dois satélites desintegraram-se a vários milhares de quilómetros, por cima do mar Arábico e do mar da Coreia.
“Tudo isto é algo que vamos ver com muita frequência porque cada vez mais há uma nova corrida ao espaço à procura de novos serviços e porque estão a ser lançadas para o espaço várias constelações com milhares de satélites. Estas [visualizações] foram reentradas na atmosfera de satélites da Space X”, concretizou o especialista da AEP.
De acordo com Ricardo Conde, os satélites da rede Starlink da Space X orbitam a cerca de 500 a 550 quilómetros de altitude e percorrem uma volta à terra em menos de 80 minutos.
“Há uma geração de satélites que penso que foi lançada em 2019, em que alguns estão a reentrar na atmosfera. Estas reentradas são testes e são propositadas. Eu diria mesmo que são controladas. O que se está a fazer é tentar a reentrada de satélites na atmosfera para não continuarmos a aumentar o lixo espacial”, vincou.
Ricardo Conde explica ainda que quando o satélite começa a entrar numa orbita mais baixa, a cerca de 200 quilómetros, atinge uma velocidade “muitíssimo grande”, havendo um atrito atmosférico que faz com ele se incendeie e desintegre.
“Tudo isto são boas noticias porque se está a retirar lixo do espaço “, vincou.
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