As portas da Quinta da Atalaia abriram pelas 16:00 para receber os primeiros visitantes deste ano, que serão no máximo 40.000, de acordo com as orientações definidas pela Direção-Geral da Saúde (DGS) – mais 23.000 do que em 2020.
À entrada, para além da tradicional ‘EP’ (bilhete) necessária para os três dias, é também preciso certificado de vacinação ou teste negativo à covid-19. A DGS recomendou “fortemente” a apresentação de um destes documentos e os comunistas tornaram a recomendação obrigatória: quem não tem, não entra.
Sob um calor intenso, pouco tempo depois da abertura de portas, avistavam-se filas à porta do posto da Cruz Vermelha, situado fora do recinto da festa.
Alexandre Araújo, membro do Comité Central do PCP e da organização da rentrée, explicou em declarações à Lusa que no exterior existe “uma zona onde é possível realizar quer um teste rápido, que as pessoas tragam consigo, quer um teste realizado pela Cruz Vermelha”, o que permite, segundo o dirigente “reforçar as condições de segurança no interior do recinto”.
Questionado sobre o que acontece se alguém não tiver certificado e se recusar a realizar o teste, Alexandre Araújo respondeu que não crê que tal aconteça, reforçando apenas que “é necessário certificado” ou teste para entrar na festa.
Maria e António Eufémio, com 71 e 80 anos respetivamente, vieram já munidos dos seus certificados de vacinação, que trouxeram “no telemóvel”. Ambos acharam “muito bem” que esta medida fosse implementada, queixando-se apenas de ter que o apresentar nos três dias e não apenas uma vez, com António a argumentar: “se hoje estou autorizado, amanhã também estou”.
O casal, que vem à festa praticamente desde "os tempos da FIL", confessou que teve receio de vir em 2020, devido à situação pandémica.
“O ano passado tivemos um bocado de receio. Por acaso depois arrependemo-nos, porque vimos na televisão que correu tudo bem”, disse Maria.
Ao contrário de Maria e António, Ana Silva, de 13 anos, já com a primeira dose da vacina, disse à Lusa ser uma estreante na Festa do Avante!, mostrando-se entusiasmada.
“À entrada foram super simpáticos, até porque aqui somos todos ‘camaradas’, como dizem”, gracejou, adiantando que ouviu dizer que esta “é uma festa grande, divertida, cheia de música”.
Ana veio com a família, entre ela Marta Santos, de 12 anos, que apesar de não estar ainda vacinada disse sentir-se “bastante segura”.
A acompanhar as jovens estava Paula Bravo, de 52 anos, que depois de apresentar o certificado de vacinação que tem “em papel e no telemóvel”, adiantou que em 2020 não faltou à festa porque “não há festa como esta”.
“Sinto-me segura igualmente este ano como no ano passado. O ano passado havia um maior receio por parte das pessoas, havia uma maior preocupação, e isso sentia-se aqui nesta festa (…). Este ano há uma maior abertura, parece-me haver uma maior liberdade, no entanto, com as regras a serem cumpridas, o que é ótimo e vejo as pessoas mais felizes”, acrescentou, a sorrir.
Alexandre Araújo, dirigente do PCP, disse ser já visível uma maior afluência na festa, algo que classificou como “natural” uma vez que “a maior parte da população está vacinada, há uma maior tranquilidade desse ponto de vista”.
“Mas creio que o que é preciso sublinhar é que estão garantidas todas as condições de proteção para cada um daqueles que participa, pelo conjunto de medidas que tomámos, seja nos circuitos, seja nos lugares das plateias, seja no serviço ‘pegue e leve’ nos restaurantes e muitas outras, na higienização regular de cada um dos espaços, que permite ganhar a confiança para que cada um possa usufruir destes três dias como o espaço mais seguro do nosso país”, aditou.
Festa do Avante! arrancou com críticas de Jerónimo aos "confinamentos excessivos" de 2020
O secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa, inaugurou hoje a 45.ª edição da Festa do Avante!, no Seixal, com críticas aos "confinamentos excessivos" e ao "cima de temor" criado na pandemia, apontando algumas "lições".
À semelhança do que aconteceu há um ano, a mensagem de abertura de Jerónimo de Sousa foi transmitida através dos ecrãs do palco 25 de Abril e dos altifalantes espalhados pelo recinto, na Quinta da Atalaia, Seixal.
O secretário-geral do PCP apresentou “duas grandes lições e ensinamentos” extraídos das experiências do último ano, nomeadamente, a “ofensiva premeditada” para impedir a realização da Festa do Avante! e que “nada tinha a ver com preocupações de saúde pública”.
Na opinião do dirigente comunista foi criado um “clima de temor que atingiu centenas de milhar de portugueses”.
“Quase conseguiram que o medo de morrer se transformasse em medo de viver, com os confinamentos excessivos com consequências na saúde de muitos portugueses. Viram na pandemia uma oportunidade para provocar mais desemprego”, sustentou, acrescentando que também “desencadearam um violento ataque” ao SNS.
Jerónimo de Sousa advogou que “o papel dos profissionais de saúde” impediu “que a situação fosse mais grave”.
“Não há alternativa ao Serviço Nacional de Saúde, apesar de maltratado, subfinanciado e com profissionais não reconhecidos nos seus salários e nas suas carreiras. Lições e ensinamentos que mantêm validade e atualidade”, acrescentou.
Da 45.ª edição da Festa do Avante, Jerónimo de Sousa espera que se sinta “o pulsar a o fruir da vida”.
“Tantas e tantas inquietações, tanta esperança contida, tanta tarefa que temos por diante – como é, por exemplo, a batalha das eleições autárquicas”, completou.
No final, em todos altifalantes foi transmitida a “Avante Camarada”, o hino do partido, seguida pela “Internacional”, momento em que elementos do PCP içaram 100 bandeiras espalhadas pela Quinta da Atalaia, em comemoração do centenário, e os visitantes aplaudiram.
A edição deste ano da Festa do Avante começou hoje e vai decorrer até domingo na Quinta da Atalaia, no Seixal (distrito de Setúbal). Mais de 60 debates e o comício pelas 18:00 de domingo compõem o programa político da rentrée comunista, enquanto os “duetos improváveis” preenchem as atuações musicais.
* Por Ana Raquel Lopes e André Campos Ferrão (texto) / Agência Lusa
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