Segundo o ministro da Agricultura, o Governo está a ultimar um protocolo com a Comunidade Intermunicipal do Oeste para monitorizar e erradicar a doença, incluindo a remoção de pomares afetados.
O ministro José Manuel Fernandes destacou que o objetivo é “circunscrever e eliminar” o 'fogo bacteriano', garantindo que a doença não se propague para outras áreas.
“Estamos a trabalhar na monitorização e na erradicação em simultâneo, notificando os proprietários para removerem os pomares afetados”, afirmou hoje à Lusa, à margem da assinatura de um protocolo de cooperação entre a Câmara Municipal de Santarém e o instituto nacional de investigação agrária e veterinária, na estação zootécnica nacional, em Santarém.
O ministro referiu ainda que o Governo pretende investir em investigação para desenvolver um produto fitofarmacêutico capaz de combater a bactéria responsável pela doença.
“A formação profissional também é essencial para evitar que práticas como a poda contribuam para a propagação da doença”, acrescentou.
O plano do Governo inclui ainda a possibilidade de alterações legislativas para permitir a intervenção em propriedades privadas, caso os proprietários não cumpram com a remoção dos pomares afetados.
“Sabemos que há desafios relacionados com a propriedade privada, mas não excluímos essa possibilidade, dada a gravidade do impacto económico”, afirmou.
Já questionado sobre as indemnizações reivindicadas pelos agricultores devido aos prejuízos causados pelos javalis, o ministro disse que o Governo está a trabalhar na valorização da carne de caça e na monitorização da população de javalis.
“A nossa intervenção para verificar as condições de sanidade animal e a monitorização é um trabalho que está a ser feito, mas a valorização da carne de caça é um elemento também muito importante para podermos ter equilíbrio no número de javalis que prejudicam os nossos agricultores”, referiu.
A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) insistiu na quinta-feira na atribuição de indemnizações pelo Ministério da Agricultura para compensar os agricultores dos prejuízos provocados por animais selvagens, como javalis, pedindo ainda o controlo das populações.
O que é o 'fogo bacteriano'?
A doença do 'fogo bacteriano' causado por Erwinia amylovora estabeleceu-se nas principais áreas de produção de peras e maçãs em Portugal, apesar de desenvolvidos esforços conjugados pelos produtores, organizações e serviços oficiais para implementação de medidas eficazes de controlo da doença, refere o INIAV (Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterenária).
O número crescente de focos observados desde as primeiras deteções, no início do século XXI, decorrente de várias introduções de matérias infetados levou ao estabelecimento da doença nas principais áreas de produção de pereira e macieira em Portugal, o
qual perdeu o estatuto de área integral protegida. Com a introdução da nova regulamentação fitossanitária Europeia e, devido à inexistência de medidas de controlo eficazes, Erwinia amylovora passou a ter o estatuto de organismo regulado não de quarentena (RNQP).
Os sintomas observados nos órgãos das plantas doentes são normalmente gomos e raminhos que mostram manchas de cor castanha a negra, lembrando um aspeto de queima, refere o INIAV.
Os raminhos necrosados mantêm-se aderentes à planta, adquirindo uma posição arqueada em forma de bordão. Os frutos imaturos podem apresentar necroses da mesma cor, maiores ou menores ou com queima total das flores ou dos frutos, que permanecem mumificados e aderentes ao raminho. As folhas apresentam manchas de cor castanha a negra nas margens e nervura principal. Nos ramos e troncos desenvolvem-se lesões de cor avermelhada na zona subepidérmica e ao nível do lenho.
Estas lesões, podem circundar o ramo, que acaba por morrer. Nos ramos e troncos desenvolvem-se ainda cancros em depressão e/ou enrolamento da epiderme (cancros papiráceos) que podem ser confundidos com a presença de outras doenças. Em todos os órgãos afetados, em condições de elevada humidade, é possível observar a presença de exsudado bacteriano.
O que fazer?
De acordo como o INIAV existem alguns métodos de controlo desta doença, nomeadamente:
- Monitorizar os pomares com sintomas em anos anteriores;
- Fazer podas sanitárias após a colheita e no repouso vegetativo, removendo do pomar e queimando de imediato o material doente;
- Remover árvores que apresentem fraca folhagem e/ou dieback após observação de cancros na base do tronco principal ou do porta-enxerto;
- Fazer a poda precoce de ramos sintomáticos durante o período vegetativo, com o cuidado de deixar as árvores mais doentes para o fim, cortando 50 cm abaixo das zonas visivelmente atacadas e desinfetando os cortes com produtos cúpricos e os instrumentos de corte (ex. hipoclorito de sódio a 10% ou outros);
- Executar operações culturais com tempo seco;
- Desinfetar as mãos e braços e se possível usar bata e luvas descartáveis (destruir de seguida);
- Nos viveiros utilizar pedilúvios ou calçado descartável
- Fazer o diagnóstico precoce de infeções latentes ou aos primeiros sintomas;
- Usar material de propagação certificado (portaenxertos e pés-mãe) na implantação de pomares;
- Utilizar clones e variedades mais tolerantes;
- Fazer uma nutrição adequada;
- Utilizar os sistemas de avisos apoiados em modelos para utilização mais adequada de tratamentos;
- Fazer tratamentos preventivos no repouso vegetativo para controlar os níveis de inoculo no pomar (produtos cúpricos ou outros homologados como reguladores de crescimento e indutores do sistema imunitário da planta) reduzindo os tratamentos no período vegetativo;
- A legislação não permite a utilização de antibióticos.
*Com Lusa
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