Fidel Castro deixou um último desejo que o seu irmão Raúl Castro irá converter em lei: não existirão estátuas, nem ruas ou praças com o nome do líder da revolução cubana. Fidel "rejeitava qualquer manifestação de culto à personalidade e foi coerente com esta atitude até as últimas horas de vida", disse Raúl Castro durante uma homenagem ao irmão em Santiago, onde as cinzas do histórico líder foram levadas para o cemitério neste domingo.
O presidente cubano lembrou que Fidel Castro sempre se opôs a que "o seu nome e a sua figura fossem utilizados para denominar instituições, praças, parques, avenidas, ruas ou outros locais públicos". Ao mesmo tempo, insistiu que após sua morte não fossem erguidos "monumentos, bustos, estátuas e outras formas similares de tributos". "Em correspondência com a determinação do companheiro Fidel, apresentaremos no próximo período de sessões da Assembleia Nacional do Poder Popular as propostas legislativas requeridas para que a sua vontade prevaleça", indicou Raúl Castro.
Fidel Castro não deixou nada ao acaso antes de morrer, e para o seu funeral escolheu um cemitério em Santiago de Cuba onde estão sepultados vários heróis da independência e da revolução, como José Martí e Frank País. Construído em 1868 no norte desta cidade portuária, berço da revolução liderada por Fidel Castro, o cemitério Santa Ifigénia foi declarado monumento nacional em 1979.
As cinzas de Fidel foram depositadas ao lado do mausoléu de José Martí, considerado por Castro "o autor intelectual" da revolução cubana de 1959. Morto em combate em 1895, com apenas 42 anos, foi um dos principais heróis da segunda guerra de independência. Poeta, jornalista, ensaísta e político, Martí conheceu profundamente a América Latina (foi cônsul na Argentina, Paraguai e Uruguai) e também Estados Unidos (onde viveu 15 anos no exílio).
Mas a cerimónia fúnebre de Fidel neste cemitério foi criticado pelo site 14ymedio, da ativista e opositora Yoani Sánchez, já que "a figura de Martí é ecuménica, enquanto a de Fidel é parcial e, para muitos, contrária à primeira". "A localização das cinzas do ex-presidente perto das de Martí já está ser encarada como uma ofensa e até como uma provocação por uma parte importante dos cubanos, e é possível que alguns não descansem até vê-los bem afastados dos de Martí", escreveu o 14ymedio.
No mesmo cemitério está sepultado Carlos Manuel de Céspedes, herói da guerra de independência (1868-1878), e também vários "mártires" da revolução castrista. Entre eles Frank País, que dirigiu em 1956 um levantamento armado destinado a distrair a atenção das autoridades do ditador Fulgencio Batista e permitir o desembarque do Granma, o barco que trazia a partir do México os irmãos Castro e o argentino Ernesto "Che" Guevara.
A cidade de Santiago de Cuba também carrega muito simbolismo para Fidel Castro. Chamada de "berço da revolução", foi ali que iniciou a campanha com a qual conseguiu tirar Batista do poder. Ainda antes de desembarcar com o iate Granma em 1956 oriundo do México e começar um movimento guerrilheiro na Sierra Maestra, Castro fez uma primeira intentona rebelde em Santiago.
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