Rui Moreira, que falava à margem de uma visita a uma escola no Porto, onde assinalou hoje o arranque do ano letivo, defendeu ainda que o Porto "foi sempre feito de pessoas que vieram de fora”.
"A cidade tem de perceber que não é feita apenas das pessoas que têm cá as suas raízes, não, é das pessoas que constroem cá as suas raízes", considerou, defendendo que o discurso de incitamento ao ódio e violência "não é apenas da extrema-direita como se diz".
"Muitas vezes, quando se começa a falar que a cidade está a ser gentrificada só porque vêm para cá pessoas de fora, também as forças de extrema-esquerda contribuem para este ambiente", referiu, dizendo ser necessário "encontrar uma forma de pacificar a sociedade".
A Polícia Judiciária (PJ) deteve hoje um homem, de 26 anos, suspeito da tentativa de homicídio e de dois crimes de discriminação e incitamento ao ódio e à violência, que ocorreram na madrugada de segunda-feira no Porto, contra dois imigrantes.
Questionado sobre o tema, Moreira admitiu estar preocupado.
"Preocupa-nos imenso todo o tipo de violência, mas esse tipo de violência é terrível, porque demonstra que temos pessoas na nossa sociedade que não compreenderam o que se passa", afirmou o autarca independente.
Moreira destacou ainda que “as cidades são sítios de cruzamento de pessoas diferentes, raças diferentes, religiões diferentes, com ideias diferentes” e “é isso que faz uma cidade cosmopolita”.
Aos jornalistas, o autarca avançou ainda que irá apresentar na próxima reunião da Assembleia Municipal, agendada para segunda-feira, os números da demografia na cidade.
"Estamos a aumentar bastante a população no Porto. Ao fim de 40 anos de perdas de população, o 'stock' de população no Porto está a crescer, aliás, nas escolas também, temos cada vez mais crianças, muitas delas de comunidades migrantes", assinalou.
A PJ avançou hoje, em comunicado, que o homem é também suspeito de um crime de roubo.
Os factos em investigação pela Diretoria do Norte ocorreram em dois momentos distintos, porém de modo sucessivo, na via pública, na cidade do Porto.
A primeira situação ocorreu na zona do Campo 24 de Agosto, onde “após abordar aleatoriamente alguns cidadãos estrangeiros, com insultos de índole racista, o arguido, munido de uma arma branca, atacou as vítimas com violência e apoderou-se de alguns dos seus pertences”.
Segundo a PJ, um dos visados acabou por ser ferido com gravidade no tórax, encontrando-se internado na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de São João.
Passados 15 minutos, desta vez na zona de São Roque da Lameira, o arguido “abordou outro cidadão estrangeiro, proferindo novamente insultos de índole racista, e atacando-o com uma faca”.
“Após estas ações, e por forma a evitar a sua identificação e detenção, o suspeito alterou a sua aparência física e rotinas”, sublinha a PJ.
Não obstante esta ação, as diligências desenvolvidas de "forma ininterrupta" pela PJ permitiram a sua localização e detenção, “em menos de 48 horas após os crimes”.
O detido vai ser presente à autoridade judiciária para primeiro interrogatório judicial e aplicação de medidas de coação.
Nos últimos meses, a baixa da cidade do Porto tem sido palco de vários distúrbios e crimes de ódio, o que, segundo fonte da PSP ouvida hoje pela Lusa, levou a um "reforço" de vigilância policial nas zonas consideradas mais críticas.
Em maio, um grupo de seis homens armados com paus e facas invadiram a casa onde vivia uma dezena de imigrantes, na zona do Bonfim, e horas depois registavam-se outros dois ataques alegadamente racistas a cidadãos marroquinos no centro da cidade, sendo um dos agressores detido e colocado em prisão preventiva.
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