Em entrevista à Lusa, o presidente da FLEC-FAC, Emmanuel Nzita (filho do líder histórico, Nzita Tiago) que vive na Suíça desde 2000, depois de ter sido “expulso de Kinshasa” a pedido, segundo diz, do governo angolano, disse à Lusa que as FAC estão operacionais no que designou como “zona libertada”.
Esta área, explicou, compreende as florestas do interior e grande parte da região fronteiriça de Cabinda, província que se confronta há anos com movimentos independentistas, separada fisicamente de Angola e que faz fronteira com a Republica Democrática do Congo (Kinshasa) e o Congo (Brazzaville).
“A administração MPLA [partido do poder] está nas cidades e nos municípios e tudo o que está fora é controlado pela FLEC. Eles (os militares) sabem que não podem entrar aí, eles não operam na cidade”, disse o dirigente do movimento separatista, acrescentando que os soldados “deixam material no chão” quando há escaramuças para evitar combater e perder a vida.
Esta semana, as FLEC-FAC anunciaram a morte de sete soldados e três cidadãos brasileiros em confrontos na zona de Belize, informação não confirmada pelas autoridades angolanas e brasileiras.
Emmanuel Nzita adiantou que os brasileiros – alegadamente ao serviço da sociedade mineira do Lufo, pertencente à Chella Mining do grupo VMD (do empresário de origem brasileira Valdomiro Minoru Dondo) – morreram em resultado de confrontos numa estrada próxima da zona de mineração.
“Iam escoltados pelos militares angolanos quando se dirigiam para a exploração”, disse.
A Lusa tentou contactar a VMD através de um formulário disponibilizado no site, na ausência de números de telefone, mas não obteve resposta.
Segundo Emmanuel Nzita, estas escoltas militarizadas também servem para transportar minérios para a cidade de Cabinda, para depois seguirem para Luanda, e circulam naquela estrada a cada semana ou 15 dias
“Nós sabemos quando vêm, temos pessoal a trabalhar ali”, assegurou o mesmo responsável.
O dirigente das FLEC diz que neste ataque a guerrilha recuperou material militar, ouro e diamantes e questionou a existência da mina naquele local: “estão numa zona de guerra e não querem sair porquê?”.
Emmanuel Nzita afirma que a FLEC, além dos seus guerrilheiros, conta com o apoio do povo de Cabinda e acusa o governo angolano de não dialogar.
“Quando João Lourenço tomou posse nós pedimos um encontro, até hoje andou sempre a evitar”, destacou, acrescentando que a FLEC está disponível para discutir várias soluções para a província: autonomia, federação, integração ou confederação
“Estes são os pontos que a FLEC está disponível para negociar mas o povo é que deve decidir”, salientou, sugerindo a realização de um referendo.
Sobre o acordo assinado entre o governo angolano e o Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD), no Namibe, a 1 de agosto de 2006, considerou que foi mal negociado e não foi posto em prática.
O Governo angolano assinou em 2006, com uma das alas da FLEC liderada pelo general Bento Bembe, um Memorando de Entendimento para a Paz e a Reconciliação, que incluía um estatuto especial, incentivos fiscais e o fim do conflito político militar em Cabinda.
No entanto, o seu cossignatário, Bento Bembe, ex-representante do FCD e que foi na anterior legislatura deputado do Movimento Popular de Libertação de Angola, considerou numa entrevista recente à VOA que as autoridades angolanas não respeitaram os compromissos assumidos
Por outro lado, Emmanuel Nzita acolheu de forma positiva a apresentação de uma proposta de autonomia que a UNITA (principal partido da oposição angolana) quer ver discutida na Assembleia Nacional, por se tratar “de uma questão que diz respeito a todo o povo angolano”
“Queremos ver se o MPLA vai alinhar neste debate”, comentou.
Sobre o facto de o movimento independentista não manter contactos com as autoridades portuguesas, frisou que há muitas “pressões económicas”, justificando assim o silêncio de Portugal sobre o assunto.
“Tudo o que está a ser feito é a exploração económica de Cabinda”, criticou, acrescentando: “temos o direito de defender a nossa autodeterminação”.
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