As vacas "morreram de forma estranha, porque não é normal morrerem tantos animais de uma vez e num tão curto espaço de tempo", disse hoje à agência Lusa a veterinária do Monte da Caiada, Rita Vilanova.
"Foi uma intoxicação, disso não tenho dúvidas, mas o estranho é ter afetado tantos animais e num tão curto espaço de tempo", disse, referindo que nunca se tinha deparado com uma situação semelhante.
Na tarde do passado domingo, um empregado esteve na zona de pastagem das 54 vacas da exploração, viu que "estava tudo normal" e foi-se embora, mas quando voltou, na segunda-feira, às 07:00, encontrou 15 animais mortos e o fio da vedação elétrica que delimita a área partido.
Com o fio partido, algumas das vacas saíram da área delimitada pela vedação e tiveram acesso a uma zona da ribeira de Oeiras, que, atualmente e devido à seca, "não está a correr" e tem vários pegos de água estagnada.
Empregados da exploração encaminharam as vacas que ainda estavam junto à ribeira de volta para a zona de pastagem e, "no caminho, morreram mais cinco". As restantes acabaram por morrer mais tarde, contou.
As vacas morreram "intoxicadas por algo nocivo que ingeriram", afirmou Rita Vilanova, admitindo que poderá ter sido água que beberam ou alguma planta tóxica que comeram num dos pegos da ribeira.
"Nesta altura do ano, devido à seca, as águas das ribeiras são péssimas, porque estão praticamente secas e têm apenas pegos de água estagnada e de muito má qualidade e que podem causar problemas a animais, como diarreias, mas uma mortalidade destas em vacas não me parece", disse.
Rita Vilanova admitiu a hipótese de haver uma "elevada concentração de metais pesados" na água que as vacas terão bebido num dos pegos da ribeira de Oeiras, para onde a concessionária da mina de Neves-Corvo, a empresa Somincor, faz descargas.
Por outro lado, explicou, as plantas tóxicas "normalmente são verdes" e, nesta altura do ano, estão em sítios húmidos perto de cursos de água, como ribeiras.
"Estou curiosa para saber as causas da morte dos animais", disse, referindo que a situação provocou um "prejuízo significativo" ao dono da exploração, porque perdeu quase metade do efetivo e a maioria das vacas que morreram eram novas, estavam prenhas e iam começar a parir a partir deste mês e a render.
Para determinar a causa da morte dos animais, Rita Vilanova disse que ela, o dono da exploração, a Agência Portuguesa do Ambiente, a Somincor e a veterinária municipal de Almodôvar recolheram para análise amostras de água do sítio da ribeira onde as vacas estavam e supostamente terão bebido.
Rita Vilanova também recolheu para análise amostras do fígado, do rim e do conteúdo do estômago de três das vacas que morreram.
A veterinária municipal de Almodôvar, Catarina Afonso, disse à Lusa que, a pedido da GNR, esteve na exploração e recolheu órgãos de uma das vacas mortas para possível análise.
"Pela análise do quadro clínico dos animais que morreram, dá-me ideia de que se trata de mortes compatíveis com um caso de intoxicação, mas sem saber o agente causal não posso adiantar mais nada", rematou.
Em declarações à Lusa, o oficial de relações públicas do Comando Territorial de Beja da GNR, capitão Daniel Ferreira, disse hoje que o Destacamento Territorial de Almodôvar da GNR teve conhecimento do caso na passada terça-feira, através de uma denúncia feira pelo dono da exploração, e ativou uma equipa do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente.
A equipa esteve na exploração, confirmou a morte das 25 vacas, recolheu indícios de prova e reportou os factos ao Ministério Público.
O caso está a ser investigado pelo Destacamento Territorial de Almodôvar da GNR, disse o capitão.
Contactada pela Lusa, a relações públicas da Somincor, Dina Diogo, disse que a empresa, assim que foi informada da "súbita e estranha" morte das 25 vacas, contactou representantes da exploração e as autoridades competentes.
"Estamos todos juntos a trabalhar para apurar as causas do incidente" e, "até ao momento, não há nenhum fator ou indício que leve a crer que a morte das vacas decorreu da atividade da Somincor", disse.
Segundo Dina Diogo, as descargas feitas pela Somincor na ribeira de Oeiras foram "controladas e em conformidade com os parâmetros ambientais" e a última foi feita no passado mês de maio.
A Somincor monitoriza "regularmente" a qualidade da água da ribeira, através de análises, e, até à morte das vacas, "todos os parâmetros estavam normais", disse, frisando que, além das 25 vacas, não foi detetado "mais nenhum animal morto".
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