O diplomata, 75, reuniu-se com Milei e o seu chanceler, Gerardo Werthein, após ser ovacionado por um grupo de centenas de venezuelanos, que o saudou diante da varanda da Casa Rosada, na Praça de Maio. "A Argentina não será cúmplice do silêncio frente às injustiças e aos atropelos do regime de Maduro", disse Milei, segundo comunicado divulgado pela Presidência.
"Um dos momentos mais emocionantes que já vivi! Venezuelanos, encontrar-nos-emos nas ruas de nosso amado país", publicou González Urrutia na rede social X, com um vídeo que mostra a ovação.
Luis Soto, estudante venezuelano de 27 anos que emigrou para a Argentina há mais de seis anos, exibia um cartaz em que pedia: "Faça o que for necessário, presidente". "Não serão decisões fáceis, mas que faça o necessário, confiamos em si", disse à AFP.
González Urrutia chegou à capital argentina sob grande sigilo na noite de sexta-feira, vindo de Madrid, onde está exilado desde setembro, para iniciar uma visita que também o levará ao Uruguai no sábado, ao Panamá na quarta-feira e à República Dominicana na quinta-feira.
Em conferência de imprensa no sábado, o opositor anunciou que planeou "uma conversa" com o presidente americano, Joe Biden, e que viajará aos Estados Unidos no domingo, após a visita à Argentina e ao Uruguai.
"Estamos a planear uma conversa com o presidente Biden e aguardamos definições em relação às novas autoridades" disse ele, referindo-se ao próximo governo de Donald Trump.
González Urritia afirmou que tomará posse como presidente da Venezuela a 10 de janeiro, no lugar de Maduro. Na chancelaria argentina, informou que viajará a Caracas nesse dia. “Esperamos que Maduro contribua para uma transição pacífica e ordenada”, acrescentou, sem dar detalhes.
Maduro, por sua vez, prepara-se para tomar posse na sexta-feira com o apoio das Forças Armadas, cujo alto comando lhe declarou “lealdade absoluta”.
Embaixada
A visita ocorre no momento em que as autoridades oferecem uma recompensa de 100 mil dólares por informações que levem à sua prisão, e no meio do aumento da tensão entre Caracas e Buenos Aires devido à prisão na Venezuela do polícia argentino Nahuel Gallo, acusado de "terrorismo", o que levou Buenos Aires a apresentar uma queixa ao Tribunal Penal Internacional (TPI) e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
Mas a relação entre Milei e Maduro já era complicada, com insultos, e finalmente rompeu com o não reconhecimento pela Argentina do resultado das eleições presidenciais na Venezuela. Além disso, desde março, a embaixada argentina em Caracas - assumida pelo Brasil após o romper das relações - abriga seis colaboradores da líder opositora María Corina Machado, também acusados de "terrorismo".
Uruguai
Após a visita à Argentina, González Urrutia chega a Montevidéu na tarde de hoje, para se reunir com o presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, e com o chanceler Omar Paganini. Durante o encontro, o opositor venezuelano entregou a Lacalle Pou, assim como fez mais cedo com Milei, uma cópia das atas eleitorais que, segundo ele, provam a sua vitória nas eleições.
Os dois também conversaram "sobre a crise institucional que resultou do não reconhecimento do resultado eleitoral por parte da ditadura chavista, e sobre a perseguição política de que o venezuelano é vítima”, segundo boletim divulgado pela chancelaria uruguaia.
“Vamos conseguir recuperar da nossa Venezuela e a liberdade de todos os presos políticos”, afirmou González Urrutia após a reunião. Já María Corina agradeceu ao Uruguai por ter recebido o ex-diplomata.
Candidato da oposição
González Urrutia foi o candidato da oposição nas eleições de 28 de julho, perante a impossibilidade da líder opositora María Corina. Pediu asilo em Espanha depois de ser acusado pelo Ministério Público da Venezuela por "conspiração" e "associação para cometer crimes".
Autoridades eleitorais venezuelanas proclamaram Maduro reeleito para um terceiro mandato consecutivo de seis anos (2025-2031) sem publicar detalhes da contagem de votos, enquanto a oposição denuncia fraude e reivindica a vitória de González Urrutia com base na publicação de 85% das atas eleitorais em um site.
"Maduro nunca poderá mostrar uma única ata eleitoral, porque arrasamos em todo o país, e eles sabem disso", publicou María Corina no X.
A Argentina não reconheceu a reeleição de Maduro, assim como os Estados Unidos, a União Europeia e vários países latino-americanos. A sua proclamação como vencedor provocou protestos que deixaram 28 mortos e cerca de 200 feridos, além de 2.400 detidos. Três dos detidos morreram na prisão e cerca de 1.400 foram colocados sob liberdade condicional.
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