“Parece que alguém quer ter um seguro de vida fazendo a pergunta mil vezes”, desabafa o almirante Henrique Gouveia e Melo, em entrevista à agência Lusa, por ocasião do segundo dos três anos do seu mandato à frente da Marinha, quando lhe é colocada a questão das presidenciais de 2026.
Nem os resultados das sondagens, em que aparece invariavelmente como um dos preferidos para o Palácio de Belém, o demovem o da recusa em abordar o assunto, afirmando que lhe é indiferente.
“Estou concentrado no meu objetivo militar que é conseguir transformar a Marinha num verdadeiro instrumento útil, significativo, abrangente e tecnologicamente avançado ao serviço do Estado português. Esse trabalho é gigantesco. Ocupa 110% do meu cérebro. E, portanto, eu não ando preocupado com outras coisas”, assegura.
Com 63 anos e dois no topo da hierarquia da Armada, Gouveia e Melo admite que as pessoas podem gostar de si, pelo papel que desempenhou como coordenador do processo de vacinação da covid-19, mas isso não o obriga a qualquer gesto em direção a uma carreira política.
“As pessoas podem gostar de mim, mas isso não significa que eu tenha de fazer qualquer coisa porque as pessoas gostam de mim, porque houve um período histórico, eu tive um papel, não fui eu sozinho, fui eu e outros. Há esse registo histórico, agora estou preocupado em fazer e cumprir bem a minha função”, concluiu o almirante na entrevista à agência Lusa.
Gouveia e Melo remete para poder político eventual prorrogação do mandato
O chefe do Estado-Maior da Armada remeteu para o poder político uma eventual renovação do seu mandato, numa entrevista em que alertou que “não há estado social se não houver Estado”, no qual se incluem as Forças Armadas.
A propósito dos dois anos desde a sua nomeação como CEMA, assinalados hoje, o almirante Henrique Gouveia e Melo vincou que está “única e exclusivamente preocupado” em cumprir a sua atual função.
Questionado sobre uma eventua prorrogação do mandato, Gouveia e Melo respondeu que "isso envolve o que o poder político quiser”, e sublinhou que conta com mais um ano até terminar o mandato e quer levar avante o que ainda não conseguiu fazer nos dois primeiros anos.
O almirante Henrique Gouveia e Melo, 63 anos, tomou posse como chefe do Estado-Maior da Armada em 27 de dezembro de 2021 e termina o seu mandato de três anos em dezembro de 2024. Os mandatos dos chefes militares podem ser prorrogáveis por dois anos.
Nesta entrevista à Lusa o almirante foi ainda questionado sobre a dicotomia que por vezes contrapõe investimentos na Defesa ou no Estado Social, com Gouveia e Melo a responder que “não há manteiga sem canhões”.
“Não há estado social organizado se não houver Estado. E o Estado são as Forças Armadas e as forças de segurança como base estruturante desse próprio Estado. Além das forças políticas, da democracia, dos juízes, etc. Mas esta componente, que é a segurança interna e a Defesa, são essenciais ao Estado”, considerou.
O CEMA salientou que “construir qualquer coisa sem isso é extraordinariamente perigoso e frágil” e alertou que “se se puserem só todos os ovos de um lado do cesto, o cesto pode desequilibrar-se e perdemos os ovos todos”.
Gouveia e Melo salientou que o país não pode “andar num mundo que está a caminhar para uma confrontação global”, em que Portugal faz “parte de um bloco dessa confrontação”, e “estar alheado desse problema”.
“Principalmente com o ativo tão interessante que é este espaço marítimo que as leis internacionais nos deram. Se nos alhearmos completamente disso, ai vamos um dia ter uma surpresa, é que nem estado social conseguimos erigir”, avisou.
*Por Ana Raquel Lopes e José Pedro Santos (texto) e José Sena Goulão (foto), da agência Lusa
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