Uma das eventuais soluções para conter o potencial violento desta marcha é proibi-la, adianta o Expresso. O semanário avança que essa opção está em cima da mesa "devido aos receios de que possa ser afetada a segurança da população local e até à possibilidade de haver algum tipo de violência, já que são esperadas contramanifestações em locais próximos".
No entanto, caso os elementos do MAI, da CML e da PSP decidirem-se por permitir a realização desta manifestação, a presença das autoridades será musculada nas ruas onde decorrerem os protestos. “Estamos preocupados com este evento. É preciso prepará-lo com toda a cautela”, admitiu uma fonte judicial ao semanário.
O potencial de violência prende-se não só apenas com o cariz extremista dos organizadores, mas também porque há sinais em curso de contramanifestações planeadas por parte do movimento Antifa, podendo mesmo vir elementos antifascistas da Alemanha, Itália, França e Espanha.
Esta quarta-feira, a CML aprovou um voto de repúdio sobre a ação de rua convocada junto ao Martim Moniz, condenando “toda e qualquer manifestação de caráter violento, racista ou xenófobo na cidade”.
Proposto pelos vereadores do Cidadãos Por Lisboa (CPL) e do Bloco de Esquerda (BE), o voto de repúdio sobre uma manifestação organizada por “movimentos de extrema-direita”, agendada para 3 de fevereiro, na zona do Martim Moniz, foi aprovado por unanimidade pelo executivo municipal de Lisboa, em reunião privada de câmara.
O jornal Expresso noticiou a 19 de janeiro a organização de uma marcha extremista no Martim Moniz, agendada para 3 de fevereiro, que gerou preocupação entre a comunidade imigrante.
Posteriormente, coletivos antirracistas decidiram preparar uma manifestação de “pessoas de todas as cores” em reação à ação de rua convocada por um grupo neonazi.
Segundo o voto de repúdio aprovado pela Câmara de Lisboa, “movimentos de extrema-direita estão a organizar uma manifestação ‘contra a islamização da Europa’, contra os imigrantes de origem asiática”, para o dia 03 de fevereiro, na zona do Martim Moniz e Rua do Benformoso, “precisamente por serem as ‘ruas com mais imigrantes do país, sobretudo de origem islâmica’”.
“A organização anunciou a compra de archotes, tochas e parafina líquida, que tudo indica serão instrumentos usados para aterrorizar as pessoas imigrantes que por ali estiverem”, lê-se no voto de repúdio.
O executivo municipal, por proposta dos vereadores do CPL e do BE, refere ainda que se vive um momento em que o discurso de ódio continua a referenciar os migrantes e “em que políticos e personalidades com responsabilidades públicas nas suas declarações proferidas publicamente a relacionam com comportamentos negativos e censuráveis fomentando preconceitos e generalizações estereotipadas e discriminatórias na forma de assédio, registando-se uma proliferação de ideologias assumidamente xenófobos e racistas”.
Sobre a marcha extremista no Martim Moniz, a câmara diz que a ação se enquadra nas “atividades de propaganda organizada que incitem ao ódio e à violência contra pessoa ou grupo de pessoas por causa da sua raça, cor, origem étnica ou nacional, ascendência, religião”, as quais são proibidas pelo artigo 240.º do Código Penal, pelo que é necessária a intervenção das autoridades competentes.
“Não tomar uma posição firme em relação a uma manifestação que promove o discurso de ódio e o ataque racista e xenófobo a pessoas que fazem parte da nossa população e que se encontram em situação de maior vulnerabilidade, é abrir espaço, normalizar, um discurso que não representa a cidade de tolerância que trabalhamos para ser”, refere a Câmara de Lisboa, reforçando que não pode fechar os olhos a manifestações no concelho que incitem ao ódio e à violência.
Em 2020, através do voto de saudação n.º 9/2020, Lisboa foi declarada “Cidade Antirracista”.
“Estes novos lisboetas são um claro fator de renovação da população e aumentam a demografia local e nacional”, realça a câmara, destacando ainda a contribuição da população imigrante na economia do país e na sustentabilidade do sistema de Segurança Social.
Valorizando a interculturalidade, a Câmara de Lisboa “repudia veementemente qualquer sinal de discriminação racial” e manifesta-se contra o ódio e a discriminação, aprovando o voto de repúdio como “um sinal inequívoco e público de que atos racistas e xenófobos são inaceitáveis no seu território”.
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