“É um gesto simbólico, com tudo o que isso significa, mas faltava este reconhecimento com a Medalha de Mérito Cultural do Governo do seu país, do Governo de Portugal, e que era importante que fosse feito”, disse, após uma visita ao estúdio da artista, na capital britânica.
A entrega da condecoração foi feita em privado, com a presença de dois dos filhos de Paula Rego, Caroline e Nick Willing, e da assistente e modelo, Lila Nunes, além do embaixador de Portugal no Reino Unido, Manuel Lobo Antunes.
Graça Fonseca disse que, “de facto, é a última homenagem [que faltava]”, elegendo Paula Rego como “seguramente uma das nossas maiores [artistas portuguesas], senão mesmo a maior. Tenho alguma dificuldade com a maior, porque temos ótimos artistas”.
A condecoração coincide com uma grande exposição retrospectiva da obra da pintora em Milton Keynes, cidade a norte de Londres, que a ministra vai visitar na quarta-feira, e que se centra na consciência social e política de alguns dos seus trabalhos.
“Paula Rego: Obediência e Desafio”, no museu MK Gallery, abrange a obra desde os anos 1960 até 2011, com mais de 80 trabalhos, desde desenhos e gravuras em papel a colagens e pinturas em grandes telas.
A exposição vai estar em digressão, primeiro no museu Scottish National Gallery, em Edimburgo, de 23 de novembro a 26 de abril de 2020, e depois para o Irish Museum of Modern Art, em Dublin, de 25 de maio de 2020 a 01 de novembro de 2020, sendo a primeira primeira retrospectiva da obra de Paula Rego tanto na Escócia como na Irlanda.
Da mostra fazem partes quadros produzidos durante a ditadura portuguesa, como “Salazar a Vomitar a Pátria”, de 1960, e sobre o aborto, alguns dos quais produzidos após o referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, em 1998, repetido em 2007, resultando na despenalização apenas à segunda tentativa.
“Paula Rego marcou-me muito a mim, mas também marcou muitas gerações. A campanha, a série que ela fez sobre o aborto, o quadro extraordinário do Padre Amaro, teve uma importância gigante na altura, porque é uma série que nos abana e que nos faz pensar, que coloca um enfoque completamente diferente numa questão social na altura muito séria e que conquistámos, quem defendia, e em grande parte devemos isso à Paula Rego. Há aqui várias homenagens que devemos à Paula Rego”, disse a ministra.
Graça Fonseca adiantou que fez recentemente o desafio à Câmara Municipal de Cascais e à Fundação Dom Luís para “descentralizar o acervo da Casa das Histórias, [para] poder haver mais descentralização, estar mais presente em museus fora dos dois grandes centros urbanos [Lisboa e Porto], precisamente para que a obra de Paula Rego se aproxime mais e seja mais conhecida pelas pessoas”.
Revelou também que a pintora estará em destaque na programação cultural da Presidência de Portugal da União Europeia, em 2021, que vai promover as mulheres nas artes.
O embaixador de Portugal no Reino Unido, Manuel Lobo Antunes, realçou que Paula Rego “é uma pintora reconhecida, amada [pelos britânicos], que vai ter uma grande exposição aqui em 2021, e mais que merecedora desta condecoração, aliada a uma personalidade que é fascinante e uma pessoa de uma simpatia e humanidade absolutamente fantásticos”.
Nascida em Lisboa, Paula Rego, que completou 84 anos em janeiro deste ano, viajou para Inglaterra aos 16 anos para terminar os estudos secundários numa escola privada e ingressou, no ano seguinte, na Slade School of Fine Art.
Paula Rego tem muitas gravuras inspiradas na literatura tradicional infantil, nomeadamente cantigas e rimas de berço inglesas, mas a sua obra também aborda temas políticos, como o abuso de poder, e sociais, como o aborto ou a mutilação genital feminina,
Desde 2009 que a obra da artista tem um museu dedicado em Cascais, a Casa das Histórias Paula Rego, o qual tem mostrado várias vezes a obra do marido, Victor Willing, falecido em 1988.
Possui dupla nacionalidade, portuguesa e britânica, e em 2010 foi distinguida com o grau de Dame Commander of The Order of the British Empire pela rainha Isabel II, pela sua contribuição para as artes.
Em 2016 foi homenageada com a medalha de honra da cidade de Lisboa.
A obra de Paula Rego tem mais mostras planeadas, uma na galeria Marlborough, que representa a artista, nas novas instalações em Nova Iorque em 2020, outra retrospetiva no museu Tate Britain, em 2021.
No mês passado, duas esculturas produzidas este ano foram mostradas na feira de arte de Basileia, uma vertente criativa que também explorou em paralelo com o desenho e pintura.
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