"Não quero sentir-me parte do que está a acontecer no grupo Global Media", afirmou a antiga ministra da Cultura do governo de António Costa, que tutelou os media, ao justificar a razão porque hoje era emitido o último programa Ministério do Futuro.
Anteriormente, o antigo ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro, que exerceu o cargo no governo de Pedro Passos Coelho, e teve sob sua tutela a comunicação social, referiu o desafio que os jornalistas "estão a enfrentar e vão enfrentar ao longo dos próximos meses" e que "a TSF é um exemplo, infelizmente, particularmente agudo dessas dificuldades que o jornalismo enfrenta", que é "um problema mais estrutural".
Nos 50 anos do 25 de Abril "não podemos esquecer até que ponto é que os jornalistas são o pilar da democracia, são os editores da democracia" e a importância de "salvaguardar não apenas a profissão, mas as condições de exercício dessa profissão e com total independência e liberdade", sublinhou Poiares Maduro.
"Eu e a Graça [Fonseca] tivemos oportunidade de conversarmos os dois [...] de uma forma muito simples, quando assumimos este programa e este desafio, era na base de certos pressupostos que pensamos que neste momento já não se verificam e este será portanto infelizmente, pelo menos do nosso lado, o último Ministério do Futuro, sendo claro que o futuro não acaba com o fim" do programa, acrescentou Miguel Poiares Maduro.
"Que fique claro esta decisão é exclusivamente nossa, do Miguel e minha, não tem nenhuma outra parte nesta decisão" e é importante que "isto fique claro", sublinhou Graça Fonseca.
"Eu talvez vá um bocadinho mais longe que o Miguel, eu não compreendo, não gosto, não quero sentir-me parte do que está a acontecer no grupo Global Media, eu, tal como o Miguel, acredito convictamente que sem comunicação social livre não existe democracia, a democracia está ameaçada na sua qualidade", considerou.
Portanto, "sempre acreditei nisso independentemente de nem sempre concordar com os jornalistas e os jornalistas nem sempre concordarem comigo", prosseguiu, referindo encarar "com enorme importância e respeito o papel dos jornalistas".
"De facto, quando pensámos neste programa, eu e o Miguel, e quando o propusemos à TSF - na verdade foi a primeira rádio a quem propusemos este formato - a ideia sempre foi ter um programa" que além de falar do futuro fala com tempo, discutindo de forma construtiva, procurando "mais a convergência do que a divergência".
Atualmente, os pressupostos que inicialmente levaram ao projeto "deixaram de estar reunidos" e "este será o último programa", salientou Graça Fonseca.
"Não quero sentir-me parte de algo que não compreendo, que de alguma maneira preocupa e angustia relativamente ao futuro da comunicação social" do que daqui resultará, rematou.
Miguel Poiares Maduro e Graça Fonseca agradeceram ainda a Domingos Andrade e Rosália Amorim e ao moderador do programa Filipe Santa Bárbara.
A emissão do último Ministério do Futuro acontece na véspera de terminar o programa de rescisões da Global Media Group (GMG).
No dia 06 de dezembro, em comunicado interno, a Comissão Executiva da GMG, liderada por José Paulo Fafe, anunciou que iria negociar com caráter de urgência rescisões com 150 a 200 trabalhadores e avançar com uma reestruturação que disse ser necessária para evitar "a mais do que previsível falência do grupo".
No caso da TSF, estima-se a redução de 30 postos de trabalho.
A demissão do diretor do Dinheiro Vivo (DV), Bruno Contreiras Mateus, em 14 de dezembro, aumentou para 11 o número de demissões em cargos de direção no grupo, juntamente com as cinco do Jornal de Notícias (JN), duas no jornal desportivo O Jogo e três, em 12 de dezembro, na TSF.
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