A propósito da segunda greve cirúrgica que hoje começou, a bastonária dos Enfermeiros recorda que a Ordem acompanhou o cumprimento dos serviços mínimos e não detetou que alguma cirurgia prioritária tivesse sido adiada.
“Pelo contrário, todos os conselhos de administração dos hospitais nos garantiram que os enfermeiros tinham ido além dos serviços mínimos e aberto mais salas cirúrgicas”, afirmou Ana Rita Cavaco em entrevista à agência Lusa.
A bastonária entende que “os serviços mínimos estão ajustados”.
“Não houve nenhuma situação que tivesse posto em risco a vida de ninguém, nem houve cirurgias prioritárias a ser adiadas”, reiterou.
Sobre questões éticas e deontológicas que a ministra da Saúde diz estarem em causa nesta greve, Ana Rita Cavaco entende que “os enfermeiros não recebem lições” neste aspeto.
Além disso, afirma que é necessário ver “aspetos éticos e deontológicos” noutras situações, aludindo a casos de hospitais que “estão a cancelar cirurgias” por estarem sem capacidade, dada a afluência de doentes no período da gripe e do frio.
“Há inúmeros hospitais do país a fazer o adiamento e cancelamento de diversas cirurgias para fazer face ao aumento da procura que têm. E não sabemos quais nem em que condições estão a ser canceladas ou adiadas. Essa é também uma reflexão ética e deontológica que o Ministério da Saúde deve fazer”, declarou à Lusa.
Ana Rita Cavaco insiste que é necessário Portugal fazer uma reflexão sobre as listas de espera, quer em cirurgias quer em consultas.
A bastonária refere que já no período após a primeira greve cirúrgica houve enfermeiros, em alguns hospitais, a manter blocos operatórios abertos todo o dia, mas em que não houve produção cirúrgica até às 20:00.
“Mas depois das 20:00 foram operar cirurgia oncológica. A partir dessa hora é o programa de recuperação de listas de espera onde as pessoas ganham mais dinheiro [têm compensações financeiras]. Deixemos de ser hipócritas e de tentar atirar para a greve dos enfermeiros os problemas que já lá estavam antes”, adiantou à Lusa.
Ana Rita Cavaco recorda ainda que um relatório do Tribunal de Contas de 2017 apontava pata “manipulação de dados referentes às listas de espera”, sem que tivesse havido consequências.
Aliás, na altura o Ministério da Saúde chegou a criar um grupo técnico independente para estudar o assunto, mas até hoje as conclusões não foram divulgadas.
A banca como prioridade
“Se o Governo pondera que tem de ter 800 milhões de euros para injetar no Novo Banco, os enfermeiros não podem aceitar que não há 120 milhões de euros para resolver os problemas deles”, disse a bastonária.
Segundo a bastonária, 120 milhões de euros seria o impacto de subir o salário do escalão base dos enfermeiros, que atualmente é de 1.200 euros brutos, quando os sindicatos exigiam cerca de 1.600.
De acordo com os profissionais, um enfermeiro, quer tenha 15 dias de serviço ou mais de 20 anos de carreira, ganha 980 euros de salário líquido.
“É verdade que há prioridades. Pelos vistos, em Portugal é a banca”, indicou, aludindo ainda a casos de corrupção no país.
Ana Rita Cavaco entende que esta análise “são factos e não populismo”.
Segundo o Ministério da Saúde, os aumentos salariais pedidos pelos sindicatos teriam um impacto financeiro estimado de 216 milhões de euros.
Mas, segundo a Ordem, esse valor dirá respeito a aumentos de salários nas várias categorias, sendo que o aumento do salário base no início de carreira significaria um impacto de 120 milhões de euros.
A bastonária diz que a Ordem vê “com tristeza” a segunda greve cirúrgica dos enfermeiros, porque considera que o Governo “tinha margem para ir muito mais além”.
Lamenta igualmente que o Governo não faça o planeamento adequado de recursos humanos na saúde e lembra que foi entregue, em 2016, uma proposta que apontava para a contratação de 3.000 enfermeiros por ano durante 10 anos, o que teria um custo de 65 milhões de euros por ano, que representa 0,6% do orçamento total para a saúde.
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