Lisboa

A greve de hoje na Função Pública encerrou escolas em Lisboa, enquanto os utentes ainda aguardavam ao início da manhã na sala de espera do Hospital de Santa Maria na expetativa de conseguir uma consulta.

Vários utentes estavam cerca das 08:30 nas salas de espera do Santa Maria, em Lisboa, na expectativa de conseguir uma consulta, apesar da greve, enquanto o movimento de pessoas na zona das consultas externas e nos corredores fazia lembrar um dia normal.

No hospital de Santa Maria, a Lusa constatou a presença de médicos e enfermeiros nos corredores, no que aparentava ser um dia normal de trabalho.

No entanto, a receção central das consultas externas e alguns dos balcões nas especialidades não tinham pessoal para atender os utentes.

Alguns utentes lamentaram, em declarações à Lusa, a espera e o possível cancelamento das suas consultas, apesar de compreenderem os motivos da greve.

Maria Alves, 70 anos, veio de Torres Vedras para ver se “tem sorte” com a consulta de oftalmologia.

“Eu sabia que havia greve, mas mesmo assim decidi vir para ver se conseguia ser vista. Se não conseguir olhe, que remédio, tenho de aguardar por nova marcação, o que para esta especialidade significada esperar bastante”, disse.

Já Mário Silva, 65 anos, disse que tinha conhecimento da greve, mas não tinha percebido que ia afetar as consultas nos hospitais”.

“Ainda não sei se vou ter consulta de pneumologia ou não. Como venho de Setúbal, vim mais cedo por isso vou aguardar”, contou.

Este utente contou à Lusa que concorda com os motivos da greve, apesar de ser um “transtorno” para os utentes.

Já no centro de saúde de Sete Rios, pelas 09:00, a realidade era outra: havia apenas um funcionário administrativo e meia dúzia de utentes.

Apesar de haver médicos no centro de saúde, a falta de administrativos inviabilizou a realização de consultas.

Felismina Couto e o marido Manuel tinham esta manhã uma consulta com o médico de família, que não se realizou por causa da paralisação.

“O médico está no centro. Falámos com ele, mas como não há administrativos ele não pode dar a consulta, nem pode passar receitas nem credenciais”, contou à Lusa Felismina Couto.

O casal sabia que havia greve, inclusive existe à entrada do centro um aviso aos utentes para os eventuais constrangimentos por causa da paralisação.

“Arriscámos na mesma. Agora temos de voltar cá para a remarcação da consulta”, disse.

Na educação, a escolas José Gomes Ferreira (secundária) esteve sem aulas, pelo menos até às 11:30, altura em que entraram mais funcionários e a situação pode mudar. Às 08:30 não havia condições para abrir o estabelecimento de ensino.

Esta é a segunda vez em 40 anos que a Escola José Gomes Ferreira encerra numa greve. A última ocorreu no passado dia 26 de novembro, aquando da paralisação do pessoal não docente convocada pelo Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais.

"Está hoje menos gente na escola do que na greve anterior", disse à Lusa uma aluna que estava da sala da associação de estudantes desta escola.

Também em Benfica, na Escola Básica 1,2,3 e J.I. Pedro de Santarém, a greve de hoje impediu as aulas aos alunos do 2.º e 3.º ciclos, segundo uma nota afixada à entrada do estabelecimento escolar.

Outra das escolas afetadas pela greve foi a D. Pedro V, em Sete Rios, que encerrou hoje pela terceira vez em 50 anos por causa de uma greve.

Porto

Os sindicatos fazem um balanço "muito positivo" dos efeitos da greve da Função Pública no Hospital de São João, no Porto, o maior da região Norte, assinalando a paragem de muitos serviços e fortes condicionamentos noutros.

Segundo Mário Jorge Sobrinho, do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Norte (STFPSN), dos 12 blocos operatórios do São João apenas três funcionam, os destinados aos serviços urgentes.

No caso da pediatria só funcionam os atendimentos relacionados com oncologia, "o que é perfeitamente compreensível".

Num balanço pouco depois das 09:00, a fonte referiu nomeadamente que a cirurgia torácica fechou, o mesmo se passando com a estomatologia. Em oftalmologia havia apenas um especialista.

Nos pavilhões de consultas externas, as unidades de serviço estavam fechadas ou a funcionar apenas com outro trabalhador.

E na receção das consultas, onde habitualmente estão abertos 10 balcões, apenas funcionavam três.

"Não há administrativos nem assistentes operacionais", garantiu.

Outro dirigente do STFPSN, o coordenador Orlando Gonçalves, admitiu que a greve foi prejudicada por serviços mínimos impostos.

"São serviços mínimos quase máximos", declarou à agência Lusa.

Por sua vez, Assunção Nogueira do Sindicato dos Técnicos de Diagnóstico, garantiu que no São João há uma adesão forte à greve dos especialistas da área, afetando a Radiologia e, por consequência, consultas e cirurgias.

Entre os utentes do Hospital de São João afetados pela greve conta-se Rui Pedro Ferreira, 40 anos. Viajou 150 quilómetros de Valença ao Porto para fazer análises e "nada".

Sabia que havia greve, "mas pensava que iria encontrar alguém para serviços mínimos. Não encontrei nem assistentes operacionais, nem enfermeiros", lamentou.

Ao início da manhã havia muitas pessoas de saída da zona de consultas externas do São João, algumas queixando-se para quem ficava por não terem sido atendidas, constatou a Lusa.

Adília Soares, 51 anos, foi das que ficou, mas estava na incerteza quanto à possibilidade de fazer ou não uma ecografia programada.

"Disseram para esperar, mas não garantem que seja atendida", declarou.

No ensino a greve também se faz sentir. Os alunos e pais encontraram hoje de manhã os portões da maior parte das escolas do Porto fechados com avisos de que as atividades letivas estavam suspensas por motivos de greve da Função Pública.

“Informa-se que devido à greve do dia 31 de janeiro a escola [Fontes Pereira de Melo] encontra-se sem atividade letiva”, era o aviso que se lia hoje às 08:00 numa folha branca de formato A4 afixada na porta principal da Escola Fontes Pereira de Melo do Porto.

Em frente à Pereira de Melo estava Sofia Silva, trabalhadora independente na área da tradução e revisão linguística, ladeada pela filha Beatriz Vasconcelos e as colegas para decidirem o que vão fazer face à greve que encerrou a escola. Uns vão para casa com os pais, outros seguem diretos para centros de estudo perto das escolas e há uns estudantes que ligam aos avós para os virem buscar.

“Vou levar a minha filha para casa, porque posso conciliar trabalho em casa”, contou, acrescentando que vai ficar a aguardar pelos pais das amigas da filha até que as venham recolher neste dia de greve.

Mais à frente está Carla Pinto, outra mãe e encarregada de educação com vários estudantes para definir para onde é que vão passar o dia. “Uns vão para os avós, outros vão para os centros de estudo e outros para casa estudar, porque é altura de muitos testes de avaliação”, revelou Carla Pinto.

A uns cerca de 300 metros de distância os pais e alunos que chegavam às 08:20 à Escola Secundária Clara de Resende também batiam “com o nariz na porta”. Os portões negros da escola Clara de Resende ficaram fechados e um aviso informava que o estabelecimento estava encerrado devido à greve.

“As atividades letivas poderão ser retomadas a partir das 11:15 após nova avaliação do número de funcionários em greve”, lia-se ainda no aviso informativo.

Xavier Marcelino, que frequenta o 7.º ano na escola Clara de Resende contou à Lusa que estava a avisar os amigos da turma para não virem para a escola.

“Como moro aqui ao lado, vim a pé, vesti-me rápido e vir ver se a escola estava aberta ou fechada”, descreveu o estudante que estava sem mãos a medir para responder às solicitações via telefone para dar informações aos colegas.

Na Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas do Porto as portas também estão encerradas com o aviso afixado a dizer que “não há atividades letivas por motivos de greve”. As perspetivas de abrir também são uma incógnita, disse à Lusa uma auxiliar de educação daquela instituição enquanto abria a porta a um professor.

A história repete-se também na Escola Filipa de Vilhena e noutras escolas como adiantou à Lusa Orlando Gonçalves, do Sindicato das Função Pública do Norte, referindo que recebeu SMS (mensagens de telemóvel) a informar que “muitas escolas estão fechadas”.

Coimbra

Várias escolas do centro da cidade de Coimbra estão hoje encerradas ou sem atividade letiva devido à greve da função pública, sendo uma "espécie de feriado" para alunos e uma "dor de cabeça" para os pais.

Na Escola Martim de Freitas, junto ao Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, houve alunos a festejar assim que foi comunicado, por volta das 08:15, que o estabelecimento estaria encerrado devido à greve nacional dos trabalhadores da administração pública, a primeira da atual legislatura.

Se para os alunos pôde ser motivo de celebração, para os pais a greve pode transformar-se numa "dor de cabeça", aponta Célia Cabral, com um filho na escola que teria hoje um teste.

Sendo representante dos pais da turma, o telemóvel ainda não parou de tocar, com chamadas de outros encarregados de educação para tentarem perceber se a escola estava fechada ou não.

"Eu até vivo e trabalho aqui ao lado, mas há várias pessoas que vêm de fora de Coimbra, têm horários para cumprir, trazem as crianças e o que vão fazer com elas? Têm que voltar para trás", refere Célia Cabral, salientando que para muitos desses pais a greve "é um constrangimento muito grande".

Patrícia Oliveira, com uma filha no 6.º ano naquela escola, já contava com esta possibilidade para hoje, para a qual a escola avisou na véspera.

"Por acaso, tenho folga hoje. Se não, ia causar um grande transtorno", notou.

Na Escola Secundária José Falcão, tal como na Martim de Freitas, um papel informa na porta de entrada que a escola está encerrada devido à greve de funcionários não docentes.

Na escadaria de entrada, dois jovens do 12.º ano entretêm-se ao telemóvel e contam à agência Lusa que, apesar de ser "uma espécie de feriado", também para eles cria alguns constrangimentos.

"Eu demoro uma hora a chegar a casa e não sei como vou fazer agora", contou um.

Para além destes dois estabelecimentos, a agência Lusa também constatou no local o encerramento da Escola de 2.º e 3.º ciclo Eugénio de Castro.

Já a Escola Alice Gouveia e a Jaime Cortesão estão abertas, mas sem atividade letiva, sendo que as secundárias Avelar Brotero e Dona Maria estão a funcionar.

O polo principal do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) está hoje a funcionar a "meio gás" devido à greve da Função Pública, de acordo com uma ronda efetuada pela agência Lusa.

"Pelo movimento de pessoas, acho que está a funcionar a menos de metade", disse à nossa reportagem, a meio da manhã, uma funcionária do bar e refeitório do piso menos dois, de uso exclusivo de funcionários do Hospital da Universidade de Coimbra.

Em alguns dos 10 pisos do edifício, foi possível verificar que muitos secretariados clínicos não estão a funcionar e que grande parte dos internamentos trabalha com serviços mínimos.

As consultas de oftalmologia, urologia e cardiologia, por exemplo, não funcionam por falta de administrativos, apesar de alguns utentes aguardarem nos corredores na esperança de conseguirem ser consultadas.

Na pneumologia, os exames também não estão a funcionar por falta de pessoal.

A agência Lusa detetou também que os auxiliares do internamento de endocrinologia estão todos em greve, embora existam especialidades que estão a funcionar normalmente, como é o caso de Medicina Interna.

"Hoje, nota-se que o movimento de pessoas, auxiliares e profissionais de saúde é bastante menor do que nos dias normais", salientou Leonel Rodrigues, técnico de elevadores em permanência no HUC.

Leiria

A escola do 1.º ciclo dos Capuchos, do Agrupamento de Escolas D. Dinis, está encerrada e sem atividades letivas, na sequência da greve agendada para hoje, o que obrigou os pais a encontrar alternativas para os filhos.

Daniel Leal deixou os dois filhos pouco depois das 08:00 para terem aulas às 09:00, já que entra no emprego às 08:30, como faz todos os dias. Por volta das 09:20, regressou à escola para ir buscar as crianças.

“Transtorna bastante. Tive de ligar aos meus pais para ficarem com eles. O direito à greve existe e deve ser respeitado, mas não entendo por que é que é sempre à sexta-feira. Acho que há outras formas de luta que poderiam surtir mais efeito. Esta medida acaba sempre por prejudicar os mesmos”, lamentou Daniel Leal.

Pai de duas crianças, que estudam no 2.º e 4.º anos da escola dos Capuchos, o encarregado de educação revelou ainda que a greve influencia toda a logística. “Será que as empresas dos almoços sabem que não há refeições para distribuir? A comida estará já confecionada e o que lhe vai acontecer? Quando se discute tanto a questão ambiental…”.

Daniel Leal acrescentou que as crianças saem ainda prejudicadas com o cancelamento das atividades que já estão pagas. “Por exemplo, já não vão ter piscina. Se o dinheiro fosse para os professores até concordava”.

Ana Gomes também teve de encontrar solução para o filho de 7 anos. O avô reformado vai ficar com o neto.

“Concordo com a greve e acho muito bem que a façam. Devem lutar pelos seus direitos e serem incómodos. Há sempre alguém para ficar com as crianças. Se não existir, mete-se baixa para assistência à família”, refere esta mãe, que trabalha no setor privado.

A maioria das escolas da região está a funcionar normalmente.

Já no setor da saúde, o Centro de Saúde de Marrazes, em Leiria, onde funciona também a Unidade de Saúde Familiar Santiago, não abriu portas logo de manhã.

Os médicos que não aderiram à greve esbarraram com a porta fechada logo às 08:00, quando se preparavam para entrar ao serviço e iniciar as consultas.

Os serviços reabriram pelas 09:45, revelou à Lusa fonte médica.

Faro e Portimão

Várias escolas dos ensinos básico e secundário de Faro e de Portimão, no distrito de Faro, encerraram hoje e outras funcionam condicionadas por motivos de greve da função pública, deixando milhares de alunos sem aulas.

Junto à entrada dos estabelecimentos de ensino, cartazes afixados alertavam para a eventualidade do encerramento e do condicionamento das atividades letivas.

“Informam-se os alunos e encarregados de educação que o funcionamento da escola poderá ficar condicionado devido ao pré-aviso de greve da Função Pública no dia 31 de janeiro”, lia-se num cartaz afixado nos portões da Escola Básica e Secundária da Bemposta, em Portimão.

Vários pais e alunos disseram à reportagem da Lusa que “alguns professores informaram antecipadamente” os alunos de que iriam fazer greve, mas ainda assim decidiram deslocar-se à escola na expectativa de existirem algumas atividades letivas.

Vítor Gomes, que trabalha como vigilante, disse à Lusa que a greve prejudica “não só os alunos como os pais que têm de trabalhar, e que ficam sem saber onde deixar os filhos”.

“Vou entrar ao serviço e terei de deixar o meu filho com pessoas amigas, pois a minha esposa também está a trabalhar. Se deixar a criança sozinha em casa posso ser acusado de abandono. É complicado”, lamentou.

Carla Serôdio, funcionária numa pastelaria, enfrentava o mesmo problema: “Onde é que irei deixar a minha filha?”, questionou.

“Vou ter de a levar para o trabalho, mas ter uma criança de 7 anos no local de trabalho, dentro de uma pastelaria, durante várias horas, é impensável, mas é a única solução que tenho”, apontou.

Os encarregados de educação disseram compreender a razão da greve dos funcionários públicos, mas lamentaram que “a paralisação “afete a vida profissional das pessoas que acabam, muitas delas, por ter de faltar ao trabalho para ficarem com os filhos”.

Nas escolas secundárias Poeta António Aleixo, Engenheiro Nuno Mergulhão os portões estavam encerrados, bem como na Escola Básica do 1.º Ciclo e Jardim de Infância Major David Neto onde não se verificam atividades letivas.

No concelho de Faro, a situação é idêntica, com várias escolas encerradas e outras em funcionamento, mas com as atividades letivas condicionadas.

As escolas secundárias Tomás Cabreira, João de Deus, e as do ensino básico de São Luís e Joaquim de Magalhães estão abertas mas com atividades reduzidas, enquanto as da Penha, São Luís, Afonso III e Neves Júnior estão encerradas.

Em declarações à Lusa, Rosa Franco, dirigente regional do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas disse que a maioria das escolas algarvias se "encontram encerradas ou sem atividades letivas".

"Estão sem atividades letivas porque os diretores entendem que não estão reunidas as condições para assegurar o funcionamento das escolas", frisou.

A greve de trabalhadores da função pública levou hoje ao encerramento de vários serviços hospitalares no Algarve, com os blocos operatórios de Faro e Portimão em serviços mínimos e consultas canceladas, disse à Lusa fonte sindical.

“No centro hospitalar do Algarve (CHUA) os blocos estão a funcionar com serviços mínimos, só garantem as urgências, as consultas externas estão paradas, alguns centros de Saúde estão fechados e outros com apenas alguns balcões a funcionar”, resumiu à Lusa Rosa Franco, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e das Regiões Autónomas.

A dirigente sindical afirmou que a adesão à greve na área da saúde “é elevada” e que se estende a outras áreas da função pública como a “segurança social, serviços de notariado, finanças e outros serviços condicionados”.

No terreno, a Lusa constatou que a adesão à greve por parte dos técnicos de diagnóstico e terapêutica deixou sem funcionamento o serviço de Raios X, garantindo apenas as urgências, o serviço de análises assim como a farmácia, deixando alguns utentes sem medicamentos.

A adesão dos enfermeiros à greve obrigou à suspensão da recolha de sangue com o respetivo laboratório também encerrado.

Na capital algarvia estão também encerrados alguns serviços na Loja do Cidadão, nomeadamente as Finanças, Instituto de Registo e Notariado e Loja do Munícipe, estando alguns serviços da Câmara Municipal com funcionamento condicionado.

Madeira

Duas escolas encerradas, uma adesão acima dos 50% em diferentes estabelecimentos de ensino é o primeiro balanço efetuado pelo Sindicato dos Professores da Madeira (SPM) à greve de hoje, disse fonte sindical.

De acordo com os dados recolhidos até às 11:00, estão encerradas as escolas de 1.º ciclo com pré-escolar, da Ajuda (Funchal) e no Lombo, na freguesia dos Canhas, concelho da Ponta do Sol, salientou Luísa Paixão.

A sindicalista adiantou que nas escolas do 1.º ciclo com pré-escolar de São Martinho e da Pena, no município do Funchal, a adesão é de 50%.

Também mencionou que o mesmo índice se regista em idênticos estabelecimentos de ensino no concelho do Porto Moniz, no norte da ilha, e na do Campanário, no município de Câmara de Lobos, e ainda na de S.Vicente, na costa norte.

“A situação nas escolas secundárias é ainda difícil de verificar”, sublinhou a mesma dirigente sindical.

Luísa Paixão apontou que “a maioria das escolas estão a funcionar, embora em todas se registem elementos que estão a fazer greve”.

A Lusa contactou a Secretaria Regional da Educação da Madeira, tendo fonte do gabinete do secretário declarado que “até às 11:00 não há registo de constrangimentos nas escolas da região devido à greve”.

O Serviço de Saúde da Madeira disse hoje que a adesão dos profissionais do setor à greve “é muito residual” porque os sindicatos dos enfermeiros e dos médicos não emitiram pré-avisos na região, disse fonte deste serviço.

“Os efeitos da greve são muito residuais na região”, afirmou a mesma fonte, salientando que “a maioria dos sindicatos do setor da saúde, nomeadamente os da área da enfermagem nem aderiram à greve”.

Muitas das matérias que estão a ser reivindicadas a nível nacional já estão ultrapassadas na Madeira, nomeadamente o descongelamento das carreiras dos enfermeiros, explicou.

Na Região Autónoma da Madeira, o Sindicato dos Enfermeiros e o Independente dos Médicos não emitiram pré-avisos de greve.

O dirigente do sindicato dos Enfermeiros da Madeira, Juan Carvalho, disse à Lusa que esta posição se deve a “estarem em curso negociações com o Governo Regional”, pelo que “não se justificava a adesão”.

Mesmo assim, o Serviço Regional de Saúde da Madeira (SESARAM) recomendou hoje aos utentes que precisem de prestação de cuidados que contactem antecipadamente os serviços devido aos condicionamentos previstos na sequência da greve nacional de hoje da Função Pública noutros setores como os Técnicos Superiores de Diagnóstico e Terapêutica.

Em comunicado, o SESARAM refere que esta paralisação “poderá afetar a prestação de cuidados de saúde prestada ao nível dos cuidados de Saúde Hospitalares e nos Centros de Saúde”.

“Por forma a minimizar os efeitos causados pela greve, recomendamos aos utentes que necessitam de cuidados para contactar previamente os serviços de modo a avaliar as condições da viabilidade do atendimento”, adverte.

No mesmo documento, salienta que ”todas as situações urgentes serão atendidas e os serviços mínimos salvaguardados”.

Também refere que a greve “decorrerá sem prejuízo de serem assegurados todos os serviços e atividades imprescindíveis ou indispensáveis, quer seja ao nível dos serviços de urgência, internamento e exames complementares de diagnóstico urgentes”.

O SESARAM indica que vai publicar os dados da adesão à greve na sua página da internet.

Aveiro

O fecho de várias escolas foi um dos sinais mais visíveis das consequências da greve da função da pública em Aveiro, apanhando vários pais desprevenidos e sem soluções para deixarem os seus filhos mais pequenos.

Dora Santos ia deixar os dois filhos de seis anos na Escola Básica do 1.º Ciclo de Santiago e deparou-se com o estabelecimento fechado, devido à greve nacional da função pública convocada para hoje.

“Não sabia que havia greve. Fui apanhada completamente desprevenida. Temos de ter sempre um plano B, mas neste momento não tenho”, contou à Lusa esta mãe, lamentando o “transtorno” causado com a paralisação, devido à falta de alternativas para deixar as crianças.

Também Liliana Santos, que tem um filho de seis anos naquela escola foi apanhada desprevenida.

“Não sabia que ia haver greve. Ninguém me avisou. Talvez o leve para o trabalho e, depois, o papá vai buscá-lo, ou deixo-o um bocadinho na minha mãe. Vou ver o que fazer”, contou à Lusa.

Nelson Oliveira, pai de um filho de seis anos, que frequenta o 1.º ano, e uma filha de 16 anos, sabia que a escola podia fechar, mas veio confirmar.

“A gente nunca sabe o que acontece. Temos que vir ver. Ela já é grande e pode ir ter com outros amigos, mas no caso do mais novo é mais complicado, porque obriga a que um dos pais tenha de ficar em casa”, lamentou.

A escola básica dos 2.º e 3.º ciclos João Afonso de Aveiro também encerrou, mas neste caso, a associação de pais avisou previamente que poderia não haver aulas por causa da greve e, por isso, foram poucos os pais e alunos que hoje se deslocaram à escola.

No Hospital de Aveiro, alguns utentes abordados pela Lusa também contaram que foram afetados pela greve, como é o caso de Catarina Ribeiro que vinha acompanhada com o namorado para uma consulta de obstetrícia que não se realizou.

“O meu namorado dormiu duas horas, porque trabalha até tarde, para vir aqui e não se passar nada e é chato. Eu compreendo a greve, mas, por outro ponto de vista, acho que é uma falta de respeito pelos utentes que precisam mesmo e não têm acesso ao médico e podiam ter sido avisados”, lamentou.

De bata amarela, Maria La-Salete, uma voluntária que estava a auxiliar os doentes com o sistema automático destinado ao registo da entrada para as consultas externas, disse que o ambiente estava calmo.

“Só uma médica é que entrou em greve. Por isso, aqui está calmo”, contou à Lusa.

O Serviço de Finanças Aveiro 1, situado em Forca-Vouga, também fechou hoje devido à greve da função pública.

Évora, Portalegre, Beja

Com várias escolas sem aulas devido à greve da Função Pública, que impediu a realização das atividades letivas, muitos alunos do Alentejo “entraram” hoje mais cedo de fim de semana, com uma espécie de sentimento agridoce.

“Há aulas que são importantes, mas gostamos sempre de não ter aulas”, disse à agência Lusa Diogo Matos, aluno do 9.º ano da Escola Secundária André de Gouveia (ESAG), em Évora.

Neste estabelecimento de ensino, uma das escolas da cidade onde hoje não há aulas, por causa da greve, a Lusa falou, esta manhã, com alguns alunos que ainda se encontravam na zona.

Diogo, de 16 anos, foi um deles e, questionado sobre o facto de não ter aulas esta sexta-feira e começar mais cedo o fim de semana, frisou não estar “triste nem contente”.

Já Beatriz Alcaparra, de 15 anos, aluna do 10.º ano da mesma escola, admitiu que “preferia ter aulas agora”, porque, de qualquer forma, “terão de ser repostas até julho”.

Enquanto esperava à porta da ESAG pela “boleia” de um familiar, Beatriz disse que ia para casa, mas sublinhou que o dia ia ser “chato”, por não ter nada programado.

A Lusa constatou também esta manhã que a Escola EB1 do Rossio, também em Évora, tinha pouco movimento por volta das 08:30, ao contrário “corrupio” dos dias normais de aulas.

Por estar a chover, os pais paravam o carro junto à entrada da escola e uma funcionária avisava-os de que não havia aulas, por causa da greve.

Alguns nem sequer se dirigiram à escola, uma vez que, pelo menos um professor avisou na véspera que iria aderir à greve, pelo que, não haveria aulas, indicou à Lusa o encarregado de educação de uma das crianças.

A cerca de 30 quilómetros de Évora, em Viana do Alentejo, o cenário foi semelhante à porta da Escola EB 2,3 Dr. Isidoro de Sousa, frequentada por mais de 400 alunos, em conjunto com o centro escolar do complexo (1.º ciclo com jardim-de-infância).

Ao contrário do habitual “para e arranca” dos automóveis, para os pais deixarem os filhos à porta da escola, o ambiente era calmo.

A chuva miudinha tirava a vontade de sair do respetivo carro, os poucos pais que passaram pela escola, baixaram o vidro, reduziram a velocidade e perguntaram, de longe, a uma funcionária, se havia aulas, voltando a acelerar com a “luz verde” para irem embora.

A Lusa constatou que muitos pais e alunos até já deviam saber deste facto de antemão, porque os autocarros que transportam os alunos vindos de localidades vizinhas, como S. Bartolomeu do Outeiro, Alcáçovas ou Alvito, chegaram hoje vazios.

Maria Gertrudes e o marido é que pararam o carro em frente ao portão para deixarem o filho, Eduardo, aluno do 8.º ano, que tinha marcado para hoje teste de Físico-Química, mas foram informados pela diretora da escola, que se encontrava no exterior, de que não havia aulas, por falta de funcionários.

“Não causa muito transtorno porque ele já é grande, tem 13 anos, e vai para casa. Nós temos uma loja e trabalhamos mesmo ao lado de casa e ele já fica orientado sozinho”, afirmou a mãe, enquanto Eduardo admitiu à Lusa que o facto de não realizar o teste hoje “até dá jeito para estudar” um pouco mais.

Contactado pela Lusa, o Sindicato dos Professores da Zona Sul (SPZS) indicou diversas escolas situadas nos distritos de Évora, Portalegre e Beja também sem aulas.

A sala de espera e os corredores afetos às consultas externas do Hospital de Portalegre eram esta manhã um verdadeiro “deserto” face à greve dos trabalhadores da administração pública, constatou a agência Lusa no local.

Já no serviço de urgências, a sala de espera resguardava do mau tempo que assola aquela cidade alentejana apenas seis utentes, não havendo, também, no exterior daquele serviço grandes movimentações de ambulâncias.

Francisco Apolinário viajou de Aldeia da Mata, no concelho do Crato (cerca de 60 quilómetros ida e volta) até Portalegre para efetuar um Raio-X, mas a desilusão abateu-se sobre o utente quando se deparou com os serviços de secretaria das consultas externas totalmente encerrados.

“Já vi que vim perder tempo a Portalegre”, lamentou.

Enquanto as ambulâncias chegavam àquele serviço e logo partiam, deu entrada na área das consultas externas João Maria Lacão e a mulher, provenientes de Fortios, no concelho de Portalegre, também para efetuar um Raio-X.

“Fomos apanhados de surpresa, os meus netos também não tiveram escola, mas nunca pensei na greve, uma surpresa. Vivi na Suíça muitos anos, não era nada assim”, disse.

Igual “sorte” teve Celestino Carvalho, residente em Portalegre, que se deslocou até ao hospital para marcar uma consulta de ortopedia.

“Eu tenho de voltar para a semana, talvez na segunda ou terça-feira”, lamentou.

O presidente da União Geral de Trabalhadores (UGT) do distrito de Portalegre, Marco Oliveira, disse à Lusa que segundo os dados recolhidos a greve ronda no geral os 73% naquela região, números que “em muito se devem” à paralisação no setor da saúde.

Contactado pela Lusa, o porta-voz da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA), Ilídio Pinto Cardoso, referiu que estão apenas a ser efetuadas duas consultas nos serviços de consulta externa e que “não havia” para hoje cirurgias programadas naquela unidade hospitalar, o mesmo sucedendo-se no hospital de Elvas.

Castelo Branco

A consulta externa do Hospital Amato Lusitano (HAL), em Castelo Branco, está hoje a funcionar sem funcionários administrativos, facto que obriga à confirmação eletrónica das consultas e que causa alguma confusão, apesar de as consultas decorrerem dentro da normalidade.

Às 10:30, junto à entrada do edifício da consulta externa do HAL, estava um pequeno aglomerado de pessoas junto das três máquinas para a marcação eletrónica de consultas e, em frente, o balcão de atendimento, encontrava-se vazio, sem qualquer funcionário administrativo.

Apesar desta pequena confusão, sobretudo junto dos mais idosos que têm dificuldade em confirmar eletronicamente as suas consultas, as consultas decorrem praticamente dentro da normalidade.

Ana Gonçalves tinha duas consultas marcadas para o seu filho, uma de desenvolvimento e outra de terapia da fala.

"Fui atendida normalmente na consulta de desenvolvimento e a consulta de terapia da fala foi desmarcada porque a médica não estava", explicou.

Sobre os motivos da greve, Ana Gonçalves manifestou-se de acordo com as reivindicações feitas pelos profissionais de saúde, apesar de admitir que em algumas situações "causam muito transtorno".

"Ao nível da saúde cria-se um pouco o caos, sobretudo para os mais idosos. Quando aqui cheguei, estavam muitos ali junto às máquinas, sem saber o que fazer", disse.

Encostada ao balcão de atendimento da consulta externa do HAL estava Cláudia Reis que tinha marcada uma consulta de alergologia.

"O médico está cá, mas como não há funcionários administrativos tenho que confirmar a consulta nas máquinas, mas como cheguei um pouco depois da hora que está no documento, não consigo fazer a confirmação eletrónica. Vou aguardar para ver como posso resolver o assunto", afirmou.

Esta utente entende os motivos que levam os profissionais de saúde a fazer greve e sublinha que "estão no direito deles", mas admite que esta situação "causa grande transtorno às pessoas".

Marília Lourenço, 52 anos, tinha uma consulta marcada para hoje e não notou quaisquer problemas.

"A consulta estava marcada desde a outra greve de 20 de dezembro. Decorreu tudo dentro da normalidade. Não fui afetada pela greve", disse.

À Lusa, o presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde de Castelo Branco (ULSCB), Vieira Pires, confirmou a falta de funcionários administrativos na consulta externa do HAL, mas sublinhou que tirando um ou outro caso pontual, tudo está a funcionar dentro da normalidade, não só no HAL, como também nos dois centros de saúde de Castelo Branco.

A greve

Os trabalhadores da administração pública cumprem hoje uma greve nacional, a primeira da atual legislatura, e realizam uma manifestação à tarde, em Lisboa.

A Frente Comum da Administração Pública, da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional (CGTP), convocou em dezembro uma manifestação nacional para hoje contra a proposta de aumentos salariais de 0,3%, a que se seguiu o anúncio de greves nacionais por parte das estruturas da União Geral de Trabalhadores (UGT) - a Federação Nacional dos Sindicatos da Administração Pública (Fesap) e a Frente Sindical liderada pelo Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE).

Várias organizações setoriais marcaram também greves hoje, como são os casos da Federação Nacional dos Sindicatos dos Enfermeiros (FENSE), da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) e do Sindicato Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde das Áreas do Diagnóstico e Terapêutica.

Esta é a primeira greve nacional da função pública desde que o atual Governo liderado por António Costa tomou posse, em 26 de outubro, e acontece a menos de uma semana da votação final global da proposta de Orçamento do Estado para 2020 (OE2020), marcada para 06 de fevereiro.