“A marinha começou a tomar uma série de medidas para problemas que poderiam surgir”, afirmou o oficial, acrescentando que os primeiros navios destacados foram os patrulha, para o Zaire.
“O Zaire foi a primeira ação da presença da Marinha em África”, disse.
De acordo com José Luís Leiria Pinto, que cumpriu comissões de serviço em Angola e na Guiné durante a guerra colonial (1961-1974/75), a Marinha preparou-se para o conflito iminente desenvolvendo a seguir a rede de comunicações, que em finais dos anos 60 cobria todos os territórios, desde a Estação Radionaval das Flores (mais a Oeste) à Estação Radionaval de Díli, em Timor.
“Já se via que a situação podia evoluir, que devia haver problemas nos territórios ultramarinos”, assegurou o almirante.
Em 1958, recordou, foi criado o curso de oficiais da Reserva Naval, que vieram a preencher lugares de oficiais subalternos e assumiram o comando de pequenos navios. No mesmo ano, criaram-se ou “recriaram-se” os fuzileiros e fez-se a reforma da Escola Naval.
Iniciou-se também a construção de unidades navais de pequenas dimensões: “A Marinha até aí era uma Marinha oceânica, os navios de menores dimensões eram as lanchas de fiscalização de pesca”.
Foram então criados os vários tipos de lanchas de desembarque, grandes, médias e pequenas, bem como as corvetas e os navios-patrulha.
“A esquadra foi aumentada substancialmente, mas já com um objetivo de se operar em águas africanas, águas interiores, como é a questão da Guiné”, frisou.
O imenso lago Niassa, em Moçambique, estava também na mira da Marinha.
“Depois, uma coisa importante é que a Marinha, apesar de ter a guerra nos vários territórios ultramarinos, manteve a cooperação com a NATO, com as fragatas integradas em missões da NATO”, sublinhou o almirante.
Leiria Pinto entrou para a Escola Naval em 1958. Em 1961 começou a guerra colonial. A viagem de fim de curso, que tinha como destino a América, acabou por aportar em África.
“Foi quando conheci Cabo Verde, a Guiné e São Tomé. Ficámos em Angola, quando a guerra tinha rebentado em março”, contou.
Em 1963 fez a primeira comissão em Angola, numa fragata que transportava pessoal e fazia a fiscalização e a patrulha de toda a costa.
“Fomos várias vezes ao Zaire (rio) e a Marinha aí começou a ter o seu dispositivo ao longo da fronteira Norte, que é a fronteira do rio Zaire, em que apareceram os fuzileiros, os primeiros destacamentos de fuzileiros, os fuzileiros que foram criados para operações ofensivas, os destacamentos de fuzileiros especiais, e para missões de guarda, de defesa”, referiu.
Leiria Pinto guarda a memória precisa do surgimento dos fuzileiros em Angola, em dezembro de 1961. “A frente fluvial do Zaire começou, na altura, a construir postos ao longo do Zaire, guarnecidos pelos fuzileiros e tinham o apoio nas pequenas lanchas de fiscalização e nos botes”.
Havia “uma penetração grande do inimigo através do rio” e testou-se pela primeira vez no teatro de operações o binómio fuzileiro-bote/fuzileiro-navio.
Em entrevista à Lusa passados 45 anos sobre o fim da guerra e quase 60 sobre o início do conflito (1961-1974/75), o almirante defendeu que os fuzileiros desempenharam “um lugar muito importante” num cenário adverso. “Lembro-me que, em pleno oceano, a 60 milhas da foz do Zaire, a água era castanha, tal a força da corrente”.
Confessou, no entanto, que os momentos mais dramáticos foram vividos nas comissões seguintes, na Guiné e em Timor.
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