Em declarações à agência Lusa, o comentador político, poeta, jornalista, escritor e ainda vice-presidente da Associação de Escritores da Guiné-Bissau (AEGB), considera quem, independentemente de uma alegada caducidade do contrato, “não há razões válidas” para que o assunto não seja devidamente tratado no quadro de uma cooperação bilateral “que é histórica”.
“O que está a acontecer com a RTP, RDP e Lusa enquadra-se num processo de subversão da ordem estabelecida. O Governo constitucional e eleito de Carlos Gomes Júnior foi derrubado com a fora das armas, com a participação de muitos civis que, hoje, aparecem novamente ou no poder ou na periferia desse poder”, argumentou, referindo-se ao golpe de Estado de Abril de 2012.
“Há uma tentativa de silenciamento dos ‘media’ guineenses, há uma ordem praticamente dada pelo chefe de Estado (José Mário Vaz) para que os jornalistas guineenses enveredem pela autocensura e o que está a acontecer com a RTP, RDP e Lusa é exatamente a outra face da mesma moeda, que visa silenciar vozes contrárias e críticas e, sobretudo, não permitir que a verdade seja tratada com idoneidade, ética e deontologia”, acrescentou.
No dia 26, José Mário Vaz pediu hoje aos jornalistas para contribuírem para a construção do país, evitando passar mensagens que ponham em causa a Guiné-Bissau: “A partir de agora peço aos jornalistas para passarmos só boas mensagens da Guiné-Bissau. Ajudarmos a Guiné-Bissau”.
Hoje, em declarações à Lusa, Tony Tcheka lembra o “grande apoio ao serviço público” prestado por Portugal e pelos três órgãos de comunicação social portugueses presentes na Guiné-Bissau praticamente desde a independência na cobertura de conflitos, golpes de Estado e outros episódios do país, considerando que RTP, RDP e Lusa constituem um “exemplo inigualável e imbatível” da história guineense.
“Não há clareza por trás da decisão de usar este pretexto (de caducidade do acordo) para silenciar órgãos de comunicação social”, frisou.
“Estamos perante uma situação, sobretudo até porque o próprio Presidente já admite convocar eleições antecipadas, para criar condições para que tudo seja feito, não pela força das armas, mas através de ações palacianas, que visam não só enfraquecer a oposição como a própria comunicação social. É um plano maquiavélico”, afirmou.
Para o autor do livro de poesia “Noites de Insónia em terra Adormecida”, a Guiné-Bissau tem um governo criado “à margem da lei, dos acordos internos (Constituição) e internacionais (Acordo de Conacri)”.
“É uma atitude de desespero, mais uma jogada a ver se consegue passar impune pelo temporal que está a assolar a Guiné-Bissau, em que (o Presidente) está a passar pela chuva sem se molhar, apontando sempre o dedo aos outros”, sustentou.
“Há um plano maquiavélico que prejudica o país e que tem estado a adiar o desenvolvimento da Guiné-Bissau. Todas as vozes, independentemente da cor política, devem-se levantar e opor-se a esta tentativa que configura, em última análise, um golpe de Estado palaciano”, concluiu.
O ministro da Comunicação Social guineense anunciou hoje a suspensão das atividades da RTP, da RDP e da Agência Lusa na Guiné-Bissau, alegando a caducidade do acordo de cooperação no setor da comunicação social assinado entre Lisboa e Bissau.
Em conferência de imprensa, Vítor Pereira informou que a partir da meia-noite de hoje em Bissau (01:00 em Lisboa) ficam suspensas todas as atividades naquele país dos três órgãos portugueses até que o governo de Lisboa abra negociações para a assinatura de um novo acordo.
A Guiné-Bissau tem vivido uma situação de crise institucional desde as últimas eleições, com um afastamento entre o partido vencedor das legislativas e o Presidente da República, também eleito.
O atual Governo não tem o apoio do partido que ganhou as eleições com maioria absoluta e este impasse político tem levado vários países, entre os quais Portugal, e instituições internacionais a apelarem a um consenso.
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