Este momento insólito ocorreu no habitual período de declarações à comunicação social pelo presidente do Grupo Parlamentar do PS, Carlos César, após a reunião semanal da bancada socialista.
Carlos César foi questionado pelos jornalistas sobre os motivos que levaram o PS a não indicar Helena Roseta para o novo grupo de trabalho parlamentar sobre habitação, depois de esta deputada se ter demitido da sua presidência em desacordo com a posição oficial da bancada socialista.
Helena Roseta ouviu esta pergunta e juntou-se imediatamente à roda formada pelos jornalistas à volta de Carlos César.
Segundo o líder da bancada socialista, nesse grupo de trabalho "atingiu-se uma situação de algum impasse [político], designadamente quanto às propostas de lei do Governo".
"É importante que esse impasse seja superado e o esforço que estamos a fazer com uma nova equipa é justamente para que isso aconteça", alegou o líder da bancada socialista.
Com a arquiteta Helena Roseta, antiga presidente da Câmara de Cascais, vereadora e presidente da Assembleia Municipal de Lisboa a escutar, Carlos César dedicou-lhe algumas palavras.
"A participação da senhora deputada Helena Roseta é para nós sempre preciosa, ela faz parte de todo o património de discussão, de debate e de propostas no nosso país e não apenas no Grupo Parlamentar do PS. Por isso mesmo, a sua contribuição é sempre bem-vinda, sendo certo que representa o Grupo Parlamentar do PS quem a direção [da bancada] indigita para o efeito", ressalvou logo a seguir Carlos César, em estilo de sublinhado.
O PS indiciou para esse grupo de trabalho da habitação, além de Hugo Pires, que será o presidente, caso não esteja em situação de incompatibilidade, os deputados Nuno Sá (Braga) e Luís Vilhena (Madeira).
Perante os jornalistas, o presidente do Grupo Parlamentar do PS salientou também que a sua bancada confere caráter "de urgência" à resolução das questões legislativas para o setor da habitação.
"Queremos esses assuntos resolvidos - e bem resolvidos. Entendemos que a aprovação das propostas do Governo, em conjugação com o debate na especialidade com outras forças políticas, é fundamental para que haja um mercado de habitação mais justo, mais acessível e mais dinâmico", declarou o líder da bancada socialista.
Na quarta-feira, em declarações à agência Lusa, a deputada independente eleita pelo PS Helena Roseta desvalorizou que a direção do grupo parlamentar a tenha retirado do grupo de trabalho da habitação, de cuja coordenação se tinha demitido na terça-feira, garantindo que vai prosseguir trabalho.
"É uma atitude que a direção do grupo parlamentar pode sempre tomar, portanto, não há mais comentários a fazer. Eu desvalorizo isso, porque isso não afeta a minha vontade de trabalhar", disse.
"Têm legitimidade para o fazer, não afeta a minha disponibilidade para continuar a lutar por esta causa. Há uma expectativa muito grande, há muitas pessoas à espera que nós cheguemos a resultados, eu quero obter resultados e lutarei até consegui-los", defendeu a deputada independente eleita nas listas do PS.
Helena Roseta demitiu-se na terça-feira de coordenadora do grupo de trabalho parlamentar sobre a habitação, depois de as votações indiciárias sobre as novas regras da habitação terem sido adiadas pela terceira vez, a pedido do PS.
Os socialistas pediram o adiamento das votações indiciárias no grupo de trabalho, alegando que se trata de uma matéria muito complexa, parte da qual já tem implicações na proposta de Orçamento do Estado apresentado pelo Governo, e propõem que as votações sejam retomadas na primeira semana de dezembro, a tempo de entrarem em vigor no início de 2019, como previsto.
Por discordar da posição do partido, Helena Roseta demitiu-se da coordenação do grupo de trabalho parlamentar da Habitação, Reabilitação Urbana e Políticas de Cidades.
"O meu dever de consciência como deputada eleita por Lisboa, cuja principal causa na Assembleia tem sido o direito à habitação, o meu dever de consciência é não adiar uma coisa que considero urgentíssima", disse a deputada, em declarações aos jornalistas na terça-feira.
A votação do requerimento que adiou os trabalhos teve a oposição do PCP e do Bloco de Esquerda, o PSD votou a favor, e o CDS-PP esteve ausente dos trabalhos.
O processo de votação indiciária do pacote legislativo sobre habitação inclui 11 iniciativas pendentes, das quais três são propostas de lei do Governo, nomeadamente o Programa de Arrendamento Acessível e os benefícios fiscais para contratos de arrendamento de longa duração.
Além das propostas do Governo, existem três projetos de lei do PSD, dois do BE, um do CDS-PP, um do PEV e outro do PAN, com iniciativas dirigidas ao mercado do arrendamento urbano, nomeadamente medidas de caráter fiscal, seguros de renda e subsídios de renda.
[Notícia atualizada às 17h15]
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