“O acordo continua a ser um verdadeiro triunfo da diplomacia e um testemunho do poder da democracia para transcender as divisões e alcançar a paz. Mas é sobretudo uma prova de como muitas pessoas fortes e determinadas que se recusaram a voltar aos dias de desacordo e de violência”, afirmou a ex-chefe da diplomacia norte-americana, durante a abertura de uma conferência na Universidade Queen’s University Belfast, da qual é reitora.
“Não podemos tomar por garantido o progresso a que assistimos”, prosseguiu Hillary Clinton, numa mensagem dirigida aos líderes partidários da província britânica numa altura em que as instituições políticas estão suspensas devido a divergências resultantes do acordo do ‘Brexit’ (processo da saída do Reino Unido da União Europeia).
A também antiga candidata democrata presidencial falava na abertura de um evento de três dias destinado a comemorar o 25.º aniversário do Acordo de Belfast, também conhecido por Acordo de Sexta-feira Santa, assinado em 10 de abril de 1998.
O antigo Presidente dos Estados Unidos Bill Clinton e os antigos primeiros-ministros britânico e irlandês, Tony Blair e Bertie Ahern, respetivamente, estão igualmente entre os oradores do evento, junto com o atual chefe de Governo britânico, Rishi Sunak.
O Acordo de Belfast ajudou a pôr fim a três décadas de violência sectária entre católicos republicanos e protestantes pró-britânicos que causou cerca de 3.500 mortos e 40.000 feridos.
Porém, o 25.º aniversário do protocolo foi ensombrado pelo boicote do Partido Democrata Unionista (DUP) ao governo e assembleia regionais, que estão suspensos desde 2022, em protesto com o estatuto comercial da Irlanda do Norte no pós-‘Brexit’.
A tensão política é acompanhada por um reforço da segurança devido ao maior risco de atentados terroristas.
Recentemente, em fevereiro, um polícia foi vítima de uma tentativa de homicídio violenta em Omagh, cerca de 100 quilómetros a oeste da capital, Belfast, enquanto se encontrava fora de serviço.
O grupo dissidente conhecido como “Novo IRA” (com ligações ao já inativo Exército Republicano Irlandês — IRA) reivindicou a ação.
O antigo senador George Mitchell, que liderou as negociações que se prolongaram durante dois anos, fez uma rara intervenção pública na conferência, na qual recordou os vários avanços e recuos do processo devido a ressentimentos pessoais entre os intervenientes.
Dirigindo-se aos “atuais e futuros líderes da Irlanda do Norte”, o antigo político, hoje com 89 anos, reconheceu que continuam a existir muitas divergências.
“Mas também há muito que vos pode unir, que vos pode inspirar a continuar o que os vossos antecessores começaram há um quarto de século atrás. Não é um sinal de fraqueza resolverem as vossas diferenças por meios democráticos e pacíficos. Pelo contrário, é um sinal de força e de sabedoria”, vincou.
A conferência de três dias é o culminar das celebrações que incluíram uma breve visita na semana passada do Presidente norte-americano, Joe Biden, a caminho de uma viagem mais longa à vizinha República da Irlanda para explorar as raízes familiares irlandesas.
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