Um dia depois de Kiev ter lançado o maior ataque com drones contra aeródromos militares russos desde o início do conflito, os dois países em conflito voltam a sentar-se à mesa para negociar a paz na Turquia. As forças russas também responderam, com um ataque violento e reclamaram novas conquistas.

A delegação ucraniana, representada pelo ministro da Defesa, chegou a Istambul logo de manhã, e a delegação russa aterrou na noite de domingo. De acordo com fontes oficiais dos Estados Unidos, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, e o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, já conversaram esta manhã, via telefone, com o objetivo, incutido por Donald Trump, de alcançar “uma paz duradoura”.

Foi discutida a situação "da crise em torno da Ucrânia", incluindo uma troca de pontos de vista sobre várias iniciativas relativas a uma eventual solução política que não foi especificada, referiu o Ministério russo dos Negócios Estrangeiros num comunicado.

O encontro foi mais curto que o anterior, demorou apenas uma hora, mas sem grandes conclusões. Foi apenas acordada a troca de prisioneiros, que, segunda a Turquia, são resultados que "não foram negativos". Kiev entregou à Rússia uma lista de crianças que querem que devolva.

"A nossa esperança é que as reuniões sejam produtivas, que os avanços concretos sejam alcançados o mais rapidamente possível e que os resultados desejados sejam alcançados", disse o chefe da diplomacia turca, antes do início da reunião, reconhecendo que estes encontros são importantes para reduzir as tensões entre as partes e lançar as bases para a paz.

"A determinação (do Presidente dos Estados Unidos, Donald) Trump em alcançar a paz representa uma oportunidade", observou o ministro turco, acrescentando que um possível encontro entre os líderes russo, Vladimir Putin, e ucraniano, Volodymyr Zelensky, estava em consideração.

Putin continua sem colaborar

Ambas as partes concordaram em partilhar previamente as suas condições para um cessar-fogo total e uma paz potencialmente duradoura. Zelensky afirmou no domingo que a Ucrânia apresentou a Moscovo as suas exigências "lógicas e realistas", mas que a Rússia ainda não partilhou o seu memorando.

"Não o temos", disse Zelensky. "O lado turco não o tem, e o lado americano também não tem o documento russo. Apesar disso, tentaremos alcançar pelo menos algum progresso no caminho para a paz." Caso não resultasse da reunião nenhum progresso, o presidente ucraniano prometeu responder com mais sanções para o país adversário.

Keir Starmer, primeiro-ministro britânico, continua do lado da Ucrânia e reforça que a Rússia "não é séria sobre a paz". No domingo, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reiterou a sua disponibilidade para um encontro direto com Vladimir Putin, uma proposta que o Kremlin tem recusado de forma consistente.

A Rússia, por sua vez, rejeita um cessar-fogo imediato sem condições, alegando a necessidade de abordar o que designa como as “causas profundas” do conflito. Moscovo exige que a Ucrânia abandone formalmente a intenção de aderir à NATO e reconheça a anexação de cinco regiões ucranianas, exigências consideradas inaceitáveis por Kiev, que continua a defender a retirada total das tropas russas do seu território.

Espera-se que as duas partes concordem com um documento que estabeleça as condições para um compromisso de um cessar-fogo, com os apoios dos aliados de Kiev.

Últimos ataques

A reunião acontece um dia depois da morte de 12 soldados ucranianos num ataque russo a um centro de treinos na província de Sumy, no nordeste do país, e depois de Kiev ter lançado um ataque em grande escala a vários aeródromos russos que albergavam elementos da "aviação estratégica" de Moscovo.

Depois das últimas conversações entre Kiev e Moscovo, a Rússia lançou quatro dos cinco maiores ataques de drones contra a Ucrânia, matando mais de 340 civis.

As autoridades russas anunciaram esta segunda-feira que abateram 162 drones ucranianos entre o final da tarde e a noite de domingo, a maioria nas regiões fronteiriças de Kursk e Belgorod. “Os sistemas de defesa aérea intercetaram e destruíram 162 drones ucranianos”, indicou o Ministério da Defesa da Rússia, em comunicado.

Entretanto, novos bombardeamentos russos provocaram a morte de pelo menos cinco pessoas nos arredores de Zaporizhzhia, no sudeste da Ucrânia, segundo as autoridades locais. Já esta manhã, um ataque com drones na região de Sumy, no nordeste do país, feriu pelo menos seis pessoas, incluindo duas crianças.

Em paralelo, continuam os preparativos diplomáticos para futuras negociações. Entre as prioridades da Ucrânia estão um “cessar-fogo completo e incondicional” e o retorno de prisioneiros de guerra e de crianças ucranianas que Kiev acusa Moscovo de ter transferido à força para território russo.

A Ucrânia tem contado com ajuda financeira e em armamento dos aliados ocidentais desde que a Rússia invadiu o país, em 24 de fevereiro de 2022.

Como resposta têm sido decretadas sanções contra setores-chave da economia russa para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra na Ucrânia.

*Com Lusa