Até agora, as descobertas arqueológicas indicavam o desaparecimento dos Neandertais do continente europeu há cerca de 40.000 anos, logo após a chegada do seu parente próximo, o Homo Sapiens, há cerca de 45.000 anos, sem nenhuma prova de que houvesse uma coabitação entre estas duas espécies humanas.
A descoberta de uma equipa de arqueólogos e paleoantropólogos, liderada por Ludovic Slimak, investigador na Universidade de Toulouse, antecipa a chegada do Homo Sapiens à Europa Ocidental para cerca de 54.000 atrás.
Outro facto notável, segundo o trabalho divulgado na revista Sciense, é a ocupação da caverna Mandrin alternadamente entre estas duas espécies, até que os sapiens foram os últimos a habitá-la.
Este abrigo de pedra branca, localizado na Drôme, no sul da França, escavado desde 1990, contém várias camadas arqueológicas que remontam a mais de 80.000 anos de ocupação.
“Tudo está extremamente bem preservado em depósitos de areia muito regulares”, referiu à agência AFP o investigador principal.
A sua equipa encontrou um enigma, através de uma camada, apelidada de ‘E’, que contém pelo menos 1.500 pontas de pedras trabalhadas, com uma subtileza de execução que contrasta com as pontas e lâminas, de execução mais clássica, de camadas superiores e inferiores.
Estas pontas, algumas com menos de um centímetro e, por isso, de tamanho muito pequeno, e padronizadas, não são associadas aos Neandertais, refere Ludovic Slimak.
Em 2016, o investigador rumou com a sua equipa ao Museu Peabody de Harvard, nos Estados Unidos, para confrontar a sua descoberta com uma coleção de fósseis retirados de Ksar Akil, no sopé do Monte Líbano, no Líbano, um dos principais locais de expansão do Homo Sapiens para o leste do Mediterrâneo.
A semelhança entre as técnicas utilizadas leva-o a supor que o Mandrin é o primeiro sítio a comprovar a presença do Homo Sapiens na Europa.
A pista era a correta e um dente de leite, encontrado também naquela camada, confirmou.
Em Mandrin, os investigadores encontraram nove dentes, em mais ou menos bom estado e pertencentes a seis indivíduos, que foram analisados por Clément Zanolli, paleoantropólogo da Universidade de Bordeaux.
Graças à microtomografia (um scanner de altíssima resolução), o veredicto do especialista foi claro: o dente de leite da camada ‘E’ é o único dente humano moderno encontrado naquele local.
A equipa utilizou depois uma técnica pioneira, a fuliginocronologia, que analisa as camadas de fumo que estão nas paredes de uma caverna, ou seja, os vestígios de lareiras antigas.
O estudo mostrou que o Homo Sapiens voltava uma vez por ano à caverna, ao longo de 40 anos, frisou Slimak.
O Homo Sapiens chegou a esta caverna apenas um ano depois dos Neandertais e quando os sapiens a deixaram definitivamente, o Neandertal voltou lá muito mais tarde, aproximadamente mil anos.
"A certa altura as duas populações coexistiam na gruta ou no mesmo território", conclui o investigador.
Afinal, “o aparecimento dos humanos modernos e o desaparecimento dos Neandertais é muito mais complexo” do que se imaginava até agora, salienta Chris Stringer, especialista em evolução humana no Museu de História Natural de Londres e e coautor do estudo.
Mas compreender a sua sobreposição é essencial para explicar "porque é que nos tornamos a única espécie humana remanescente", realça, citado no comunicado de imprensa.
Esta sobreposição, evidente na caverna Mandrin, coloca agora o Rhône como um "grande corredor de migração" que permitiu ao Homo Sapiens "unir o espaço mediterrâneo ao espaço continental europeu", conclui Ludovic Slimak.
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