“Há aqui um peso enorme da ADSE, porque representa uma boa fatia dos hospitais privados, nós não dizemos que não, e temos gosto e vontade em servir os seus beneficiários”, mas “há limites”, disse em entrevista à agência Lusa o presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), Óscar Gaspar.
Os limites são impostos pelo valor conferido a um procedimento médico: “Não podemos prestar algum tipo de cuidados se o valor que é atribuído fica abaixo do preço de custo nalguns casos. Em janeiro fizemos as contas e havia muitos casos desses”, disse Óscar Gaspar
Fazendo um retrato do setor em Portugal, o presidente da associação disse que “a hospitalização privada é hoje uma realidade muito importante” no país, traduzida em 117 hospitais privados, num total de 225, que asseguram mais de 6,5 milhões de consultas de especialidade por ano (34% do total das consultas) e mais de 250 mil cirurgias (28%).
“Temos também cerca de um terço das camas hospitalares no país”, disse Óscar Gaspar, citando os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), que mostram um aumento da procura por estes cuidados.
Segundo o responsável, a rede continua a aumentar, havendo “investimentos muito grandes” em Lisboa e no Porto e construção de novos hospitais em Vila Real, na Madeira e em São Miguel, nos Açores, o que mostra que é um setor que tem vindo “a ganhar peso”.
Para este crescimento, contribuiu, segundo o estudo “A Saúde Privada em Portugal”, a capacidade de investimento, tecnologia de ponta, bons profissionais, e, acima de tudo, o foco no doente, apontou.
“A própria estatística do INE diz que, em termos de equipamento, por exemplo para mamografias, há 62 no público e 60 no privado, para ressonâncias magnéticas há 44 no privado e 37 no público e para TAC há 92 nos privados e 188 nos públicos.
Para o antigo secretário de Estado da Saúde, o crescimento da procura de pessoas da ADSE pelos hospitais privados também está relacionada com esta nova realidade, porque “sentem que os hospitais privados têm competências que há 15 anos não teriam”.
“Houve aqui uma evolução muito grande do sistema de saúde”, rematou.
Questionado sobre se o Serviço Nacional de Saúde corre o risco de ficar apenas para os pobres, disse quem “enquanto cidadão” não quer acreditar que se chegue a esse ponto: “ouvindo as declarações de diversos responsáveis políticos, da esquerda até mais à direita, não me parece que alguém em Portugal queira um SNS só para pobres”.
“Agora cabe a quem está à frente do Ministério da Saúde ter uma estratégia que impeça que isso aconteça, porque de facto há uma série de pessoas hoje em Portugal que, pelos rendimentos que têm, já não abdicam de ter um seguro privado e poderem optar pelos cuidados de saúde que necessitam”, disse Óscar Gaspar, adiantando já há cerca de 2,4 milhões de pessoas em Portugal com seguro de saúde.
Para o responsável, o SNS deve ter “um financiamento adequado” do Serviço Nacional de Saúde, para que possa estar “bem apetrechado”, em termos de equipamentos e de profissionais,
“Nós defendemos que haja um sistema misto em Portugal, não temos nenhum tipo de aspiração em ter a totalidade da prestação de cuidados de saúde, entendemos que deve continuar a coexistir o público e o privado”, rematou.
Comentários