Alexandra Pereira, diretora do departamento do bem-estar dos animais de companhia do ICNF, questionada pela Lusa sobre a quantidade estimada de animais errantes no país remeteu para o censo, cujos resultados serão conhecidos também até final do ano, e para os dados oficiais relativamente ao ano passado, que indicam que foram recolhidos mais de 40 mil animais.
Mas o número, salientou, não revela a verdadeira dimensão do problema, porque diz respeito ao total dos números divulgados pelos canis municipais, quando nem todas as autarquias têm canis.
Ou seja, disse, não são contabilizados os animais recolhidos por associações ou por particulares, além de que “os canis municipais estão sobrelotados” e não recolhem todos os animais, pelo que os números respeitam apenas a situações mais urgentes.
A questão dos animais errantes e a ENAE, feita pelo ICNF, é o tema central da 3.ª Conferência de Bem-Estar Animal do Instituto, que hoje decorre em Lisboa.
“Existem hoje cerca 2,75 milhões de animais de companhia registados em sistema e cerca de 2.000 alojamentos – o que inclui Centros de Recolha Oficial (CRO), alojamentos de associações zoófilas, hotéis e criadores. Este universo exige um enquadramento específico e reforçado para dar uma resposta cabal aos problemas que se vêm colocando neste domínio, de forma a melhorar a política pública em matéria de bem-estar dos animais de companhia, tornando-a mais eficaz”, disse Alexandra Pereira a propósito da conferência na página oficial do ICNF.
O censo, que está a ser feito em parceria com a Universidade de Aveiro há já dois anos, vai apurar outras dinâmicas populacionais, tendo em conta que há animais na rua que apenas foram “dar um passeio”, exemplificou Alexandra Pereira, afirmando que conhecendo a verdadeira situação é que é possível determinar as políticas públicas.
Aliás, acrescentou, na ENAE (que esteve em consulta pública no verão passado e que está agora em fase de análise) foi identificada desde logo a necessidade do censo.
Sendo certo que os números são muito elevados e que esse é um problema “causado pelos seres humanos”, que muitas vezes criam expectativas sobre o que é ter um animal que depois não correspondem à realidade, o que leva ao abandono.
“Quando o animal não está esterilizado vai reproduzir-se na via pública”, alertou, lamentando as “adoções que não são responsáveis”, levadas por impulsos, quando o animal é pequeno e bonito.
Nas cidades há muitos casos de gatos esterilizados (um sinal quando têm a ponta da orelha esquerda cortada) e que são alimentados por cuidadores, um fenómeno que não existe na lei mas que se pretende que exista.
E nos municípios com zonas urbanas e rurais há matilhas de cães, que podem representar perigo especialmente para outros cães e animais de pecuária, sobretudo as descendências que já tiveram pouco contacto com os humanos, exemplifica a responsável.
A ENAE tem como objetivos centrais evitar que os animais vão parar à rua, retirar os que estão na rua e esterilizar os restantes que ficam na rua, disse Alexandra Pereira, salientando que o cão que indevidamente anda na rua sem dono, apesar de o ter, é considerado animal errante. É preciso nestes casos, disse, informar, sensibilizar e fiscalizar, estando o ICNF a preparar uma campanha de sensibilização.
Porque os animais errantes têm impacto na saúde pública e no bem-estar dos outros animais, e sobretudo no bem-estar dos próprios errantes, resumiu.
Laurentina Pedroso, provedora do Animal, em declarações recentes lembrou que todos os anos são recolhidos 42.000 animais, 25.000 deles adotados e 2.000 mil eutanasiados, pelo que restam sempre 15.000 animais, pelo que há hoje pelo menos 80.000 animais habitantes nos centros de recolha.
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