A professora e investigadora, da Universidade Autónoma, Paula Pereira tem conduzido uma investigação sobre o Médio Oriente e, quanto ao ataque de hoje, no centro Ismaili, diz ao SAPO24 sem hesitar: "foi um ataque dramático, mas isolado."

Acrescenta, traçando um retrato da comunidade que hoje está de luto, "a comunidade Ismaili está muito bem integrada em Portugal, é uma comunidade muito solidária - tanto entre eles como com o resto da comunidade - acho que não se enquadra num ato de terrorismo, como nos poderia vir logo ao pensamento por aquilo que acontece noutros países."

A professora insiste na ideia de ser apenas um crime sem outras motivações,  "é um caso isolado de uma pessoa, provavelmente desesperada, viúvo com três filhos menores." Mas que pode servir de gatilho para uma discussão que se tem evitado no país. Ressalva que o tema não deve ser "restringir a entrada de refugiados, mas dar um acompanhamento mais adequado e personalizado a cada família ou a cada pessoa que entra em Portugal."

Quando questionada sobre a possibilidade de mimetismo do incidente ou de uma maior radicalização no país depois deste episódio, prefere contextualizar e separar as realidades. "Depende de como queremos falar de radicalização. Se pegarmos no caso francês há uma certa radicalização de comunidades ligadas ao terrorismo, mas há uma radicalização da sociedade em geral por questões económicas, sociais, e outras variadíssimas questões."

Lembra que "em Portugal isso nunca aconteceu, as comunidades mais jovens não parecem estar tão radicalizadas". Contudo, é preciso que haja uma estratégia, alerta para o facto de "a radicalização ser um processo que pode ter diversas origens. Eu julgo quem Portugal estamos longe de viver outras situações que acontecem na Europa, apesar de tudo o discurso de alguns grupos pode incentivar a alguma radicalização em Portugal: devemos estar atentos no futuro."

Quanto aos grupos que podem potenciar comportamentos radicais ou radicalizações fala em duas frentes, "há grupos mais xenófobos e racistas e pode haver eventualmente radicalização dentro das comunidades". Mas o discurso da investigadora é sempre pontuado pela serenidade com que se vive o multiculturalismo em Portugal, "as comunidades estrangeiras em Portugal têm sido bem integradas, nos últimos anos têm aumentado e não se tem ouvido os discursos do resto da Europa."

Contudo, este é o momento de agir para que se possa manter, a longo prazo, o cenário diferente da Europa. E há sinais de que este equilíbrio pode começar a ficar em risco: "é sempre mau criar guetos, ou deixar que as comunidades se juntem todas em certos centros urbanos ou localidades." Lembrando outra tragédia como a que aconteceu, no início do ano, na Mouraria.

Esta estabilidade e segurança pode atrasar algumas discussões, e ações, importantes, mas quanto mais rapidamente forem trazidas a público, maior probabilidade há de manutenção deste ambiente. "Não tem acontecido um fenómeno como se tem verificado em alguns arredores, de certas cidades europeias, mas há uma reflexão que tem que ser feita sobre a vida das pessoas que chegam. Até agora tanto as próprias instituições governamentais, como a própria sociedade têm apoiado as comunidades. Não há rejeição por aí alem, se retirarmos casos pontuais como tem acontecido no Algarve".

Esta discussão tem sido evitada e não é por acaso. "Não é fácil tê-la, e não é fácil porque hoje já temos partidos políticos mais extremos. Portanto, esse tipo de discurso é negativo para esta discussão no país porque extrema as posições. Mas acho que aí tanto as universidades, como os centros de investigação têm que ter um papel de reflexão, ou de apaziguamento quanto a isto, encontrando narrativas que não sejam extremadas."

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