Num comunicado enviado hoje à agência Lusa e subscrito pela Confederação Nacional da Agricultura, Movimento Associativo de Apoio às Vítimas dos Incêndios de Midões (MAAVIM) e Associação Distrital dos Agricultores de Coimbra, estas entidades informam que querem ser recebidas em audiência pelo ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, a quem querem entregar um caderno de reclamações.
“Enviámos na segunda-feira ao senhor ministro um pedido de audiência para nos receber na CCDR-C, mas não tivemos reposta. Queremos apresentar ao senhor ministro as reivindicações do que está a falhar no terreno nos apoios às vítimas, passados sete meses dos fogos”, disse à Lusa Nuno Pereira, porta-voz da MAAVIM.
“O ministro do Planeamento e das Infraestruturas insiste em dizer que têm já habitações prontas de outubro, pagas pelo seu ministério e ainda não as veio inaugurar. A CCDR-C continua sem resolver os problemas das habitações e chumbou centenas de habitações permanentes por motivos que até os proprietários desconhecem”, refere o comunicado, destacando que se registam “grandes e inadmissíveis atrasos na recuperação das habitações ardidas”.
Para aquelas entidades, “as habitações não permanentes têm que ser vistas no âmbito do interesse geral” do mundo rural, “pois se não houver ajudas públicas para a respetiva recuperação muitas e muitas delas não vão ser reconstruídas e ainda menos gente vai estar a viver, muito ou pouco tempo” nas aldeias e vilas.
“São centenas as famílias que perderam as suas primeiras habitações e que agora veem negados os apoios, por isto ou aquilo, assim como são milhares os que ficaram sem as suas segundas habitações”, salientam, pedindo uma “solução urgente para que algumas dessas famílias não continuem a morar em ‘caravanas’ e ‘tendas’”.
O comunicado adianta que “os caminhos agrícolas, as acessibilidades, as infraestruturas e até vários equipamentos públicos ou privados” continuam destruídos, observando que na indústria “o Ministério do Planeamento pagou até ao momento pouco mais de 10%” e alertando que “as empresas precisam de se reerguer, urgentemente”, sob pena de cessarem a atividade como já aconteceu com algumas.
“Na passada quarta-feira em audição na Comissão da Agricultura e Mar, o senhor ministro da Agricultura referiu que só existem pouco mais de 25.000 agricultores nas regiões afetadas pelos incêndios. Ora o senhor ministro devia saber que as pessoas afetadas pelos incêndios são mais do que 50.000”, sustentam, reiterando que a listagem recentemente publicada “mais uma vez prova que os valores anunciados na Assembleia da República pelo senhor ministro não estão corretos”.
Segundo o comunicado, “nos valores divulgados no IFAP [Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas] afinal só estão como pagos cerca de 60 milhões”, desconhecendo-se “se não estarão juntos os pagamentos dos incêndios de junho, pois as listagens não apresentam os concelhos”.
Considerando ainda que “a floresta está a degradar-se e sem apoios públicos ao alcance dos proprietários mais lesados”, o comunicado sublinha, igualmente, que o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, “não para de falar nos apoios para a revitalização das áreas ardidas no Pinhal Interior, mas o que é facto é que os concelhos afetados pelos incêndios de outubro ficam praticamente de fora de apoios reais”.
“Ainda não foi aberto nenhum parque de receção de madeira após os incêndios”, acrescentam, referindo que, “mais uma vez”, para os dois ministros, “há portugueses de primeira e de segunda”, justificando a concentração com estas situações.
O Governo divulgou no sábado uma lista de 25 mil agricultores apoiados pelo Estado na sequência dos incêndios do ano passado e os respetivos montantes, num total de cerca de 82 milhões de euros, mas no mesmo dia, Nuno Pereira, porta-voz do MAAVIM, no concelho de Tábua, distrito de Coimbra, contestou a inclusão nessa listagem "de mais de 1.000 nomes que não receberam nada até ao momento" e diz que os valores dos apoios divulgados pelo Governo "estão muito longe da realidade".
Em outubro, 49 pessoas morreram e cerca de 70 ficaram feridas na sequência dos incêndios na região Centro, que também destruíram total ou parcialmente cerca de 1.500 casas e mais de 500 empresas.
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