Miguel Albuquerque falava numa conferência de imprensa, nas instalações do Serviço Regional de Proteção Civil, no Funchal, para fazer um ponto de situação do combate ao incêndio rural que lavra na ilha da Madeira há uma semana.
O governante apontou que “houve muito mato queimado, carqueja, eucaliptos”, mas realçou que “todo o núcleo de Laurissilva, lauráceas da vertente norte”, não foram afetadas pelo fogo, que não atingiu essa região.
“E neste momento penso que grande parte da floresta Laurissilva está salvaguardada, não foi afetada até agora”, afirmou.
Por outro lado, e de forma a salvaguardar a freira-da-madeira, uma ave marinha pelágica endémica da ilha, as crias esta espécie foram retiradas hoje.
“Vão para o Centro das Aves e amanhã [quinta-feira] tentamos colocar novamente quando passar o perigo”, acrescentou.
Miguel Albuquerque referiu que o incêndio que atingiu a Madeira em 2010 foi “devastador para a nidificação desta espécie”, tendo provocado uma “redução da população”, que foi depois recuperada.
“Nós temos feito todo o possível no sentido de a salvaguardar”, considerou.
A freira-da-madeira é uma das aves marinhas mais raras do mundo e esteve considerada extinta até aos finais da década de 1960, apresentando uma população mundial de apenas 65 a 80 casais, com uma área de nidificação restrita em pequenos patamares acima dos 1.600 metros de altitude, localizados entre o Pico do Areeiro e o Pico Ruivo.
A Laurissilva, Património Mundial Natural da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco, na sigla em inglês) desde 1999, já existia quando os navegadores portugueses chegaram ao arquipélago da Madeira no século XIV, segundo o Instituto da Conservação das Florestas e da Natureza do arquipélago.
Ocupa uma área de cerca de 15.000 hectares, o equivalente a 20% do território da ilha. Localiza-se essencialmente na costa norte, dos 300 aos 1.300 metros e altitude.
Já no plano político, Albuquerque foi questionado sobre se teme uma moção de censura ao Governo Regional, admitida hoje à tarde pelo Chega, e classificou as críticas que têm surgido por parte da oposição como “cacofonia exacerbada”.
“Ainda no ano passado o incêndio da Calheta consumiu 12 casas, portanto do ponto de vista da perigosidade foi muito mais assertivo, e achei um pouco estranho toda a gente a tentar tirar dividendos políticos desta situação quando, hoje em dia, toda a gente percebe […] que este combate aos fogos não é feito à molhada nem de uma forma desorganizada”, sustentou o social-democrata, que governa sem maioria absoluta.
“Isto é feito de uma forma tecnicamente adequada e tendo por base uma vasta experiência que a Proteção Civil tem destas situações”, reforçou, acrescentando que a população “tem de confiar” nas autoridades.
Além disso, insistiu, não havendo danos em habitações, em infraestruturas essenciais, nem vítimas, “não há um mau combate ao incêndio”.
“Quando se avalia um processo desta complexidade […] não se avalia por questões emocionais, avalia-se sempre é pelo resultado”, reforçou, como já tinha dito hoje à margem das cerimónias do Dia do Concelho do Funchal.
O incêndio que deflagrou há oito dias na Madeira continuava, às 19:00, com “duas frentes de fogo ativas” e evoluiu para a cordilheira central da ilha. Àquela hora estava a ser combatido por 140 operacionais.
O incêndio rural deflagrou nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e, através do Pico Ruivo, Santana.
Nestes oito dias, as autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos públicos de acolhimento, mas muitos moradores já regressaram, à exceção da Fajã das Galinhas, em Câmara de Lobos.
O combate às chamas tem sido dificultado pelo vento, agora mais reduzido, e pelas temperaturas elevadas, mas não há registo de destruição de casas e infraestruturas essenciais.
Alguns bombeiros receberam assistência por exaustão ou ferimentos ligeiros, não havendo mais feridos.
Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais indicam que até às 12:00 de hoje tinham ardido neste fogo 4.937,6 hectares.
A Polícia Judiciária está a investigar as causas do incêndio, mas Albuquerque já disse tratar-se de fogo posto.
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