Eva Monteiro, do Centro de Conservação das Borboletas de Portugal, disse à Lusa que por falta desse censo não há em Portugal dados quantitativos para dizer que há declínio, embora este seja provado por monitorizações noutros países e pela observação.
A responsável considera a situação preocupante, até porque, explica, as borboletas são “organismos bioindicadores”, por serem representativas da diversidade de outros insetos.
E ainda que lhe faltem os números de monitorização, Eva Monteiro afirma que não há extinção, mas “diminuição da abundância” e assegura que em Portugal as borboletas estão “a migrar em latitude e em altitude”.
Devido às alterações climáticas, explica, as borboletas fogem das subidas de temperatura e procuram habitats mais a norte.
“Trabalho com borboletas há 10 anos e noto que há menos, principalmente nos últimos três anos”, afirma a vice-presidente, notando que nas causas estão as alterações climáticas, mas também a alteração dos ecossistemas e destruição dos habitats. A conversão do montando em olival, no sul do país, é um exemplo dessa destruição.
O conhecimento da realidade com números vai ser possível com o censo que começa a ser preparado com um Workshop de formação gratuito, em Almada, para todos os que queiram participar no programa de monitorização das borboletas em Portugal.
Em Portugal há 133 espécies de borboletas diurnas (as noturnas rondam as 2.500 espécies) e são essas que serão monitorizadas, sendo fácil e rápido aprender a identificá-las, segundo Eva Monteiro.
A contagem de borboletas será feita em percursos fixos que não devem ultrapassar um quilómetro. Deve ser feita uma vez por semana, nos meses de março a setembro, caminhando devagar e apanhando as borboletas no caso de ser fundamental para a identificação.
“O ideal é que quanto mais percursos melhor, abrangendo grande diversidade de habitats, de norte a sul “, disse a vice-presidente, explicando que há voluntários e associações de todo o país que vão colaborar mas que quanto mais monitorizações melhor, até porque os percursos podem ser definidos perto de casa ou do trabalho, embora não possam ser feitos com temperaturas abaixo dos 13 graus, já que com o frio as borboletas ficam menos ativas.
A Tagis foi criada há 15 anos e desde sempre teve como objetivo fazer um censo sobre as borboletas em Portugal, o que vai acontecer agora pela primeira vez, nas palavras da responsável.
Esse trabalho é feito há anos em outros países da Europa, o que permite por exemplo concluir que nos últimos 30 anos houve na Alemanha um declínio nos insetos na ordem dos 75%, ainda assim inferior aos 84% na Holanda nos últimos 130 anos, alertou.
A Tagis assume em comunicado, como Eva Monteiro já tinha dito à Lusa, que a generalidade das pessoas tem a sensação de que há menos insetos, embora na prática não haja uma quantificação objetiva das alterações.
E explica que o projeto que hoje começa, designado ABLE (Assessing Butterflies in Europe) é financiado pela União Europeia. O ABLE tem como principal objetivo alargar a rede de monitorização de borboletas aos países do sul e este da Europa, sendo Portugal um dos países prioritários.
O projeto tem o apoio da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e do Instituto para a Conservação da Natureza e faz Florestas (ICNF), entre outras entidades.
E no final será possível dizer se a diminuição de insetos esmagados contra os veículos, após uma longa viagem, se deve a haver menos ou a os insetos terem aprendido a evitar os automóveis.
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