O relatório final do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), hoje divulgado e ao qual a agência Lusa teve acesso, concluiu que não foram respeitadas nem cumpridas regras e procedimentos de segurança pelo operador, com vista a preparar os passageiros para uma eventual amaragem, não havendo também a bordo coletes salva-vidas, que não é obrigatório por lei.
“Das informações e dados recolhidos pela investigação, a causa provável para o pedido do piloto a passageiros para auxiliarem na manobra de aterragem, colocando o passageiro que acedeu ao pedido na condição insegura que veio a resultar na sua morte, deveu-se ao contacto do cesto do balão com a água e consequente perceção de necessidade de controlo externo do mesmo”, explica o GPIAAF.
Segundo a investigação, o passageiro, de 55 anos, que, na manhã de 28 de abril de 2024 saiu do balão, e que viria a morrer por “asfixia por afogamento”, sabia nadar e entrou na água calçado e vestido com calças de fato de treino e t-shirt, acrescentando que a vítima “saiu do cesto para auxiliar durante a manobra de amaragem do balão [que estava a ser arrastado pelo vento na direção da água] e foi encontrada depois sem vida à tona de água”.
No manual do modelo de balão, no ponto sobre ‘Briefing aos Passageiros’, consta o aviso: “Existe o risco de ferimentos se for solicitada ajuda a uma pessoa inexperiente (ex. passageiro) para auxiliar o manuseamento do balão nas manobras de descolagem ou após aterragem. Se o fizer, forneça sempre a essa pessoa instruções detalhadas que incluam formas de minimizar os riscos associados”.
“Os passageiros não usavam equipamento de flutuação nem este estava disponível a bordo. No briefing antes do voo, não foi previsto pelo piloto ou detalhado aos passageiros a possibilidade de amaragem. O cenário de amaragem não foi acautelado com a preparação prévia para essa eventualidade junto dos passageiros e equipando o balão com dispositivos de flutuação individual”, frisa o relatório.
Segundo os investigadores, para o contacto do cesto com a água terá contribuído a “seleção do local para a aterragem pelo piloto [de 65 anos], junto à margem do rio (margem Norte) com vento predominante de Noroeste (sentido do rio)” e “uma avaliação conservadora sobre o combustível a bordo pelo piloto ao não ter decidido atempadamente descontinuar a aterragem e cruzar o rio, antes do contacto do cesto com a água”.
“Para a decisão de pedido de voluntários entre os passageiros para descer do cesto do balão e auxiliar na sua manobra, não estando munidos de coletes salva-vidas, ao invés da adoção do procedimento previsto no manual de usar o cesto como jangada e aguardar a chegada de meios de auxílio, contribuiu uma subavaliação do risco por parte do piloto”, refere o GPIAAF.
Esta subavaliação foi “relevante quer no planeamento inicial da operação face ao trajeto e condição do vento, assim como na situação em que o balão se encontrava, aquando do toque na água, face à impreparação dos passageiros para o efeito”.
“Para a subavaliação do risco pelo piloto terão contribuído lacunas na formação, treino e verificação da manutenção de competências do piloto pela organização, quanto aos procedimentos de emergência”, referem os investigadores.
A investigação também aponta falhas ao operador.
“A combinação das circunstâncias que levaram à perda da vida de um passageiro, os vários precursores e riscos existentes na zona teriam necessariamente de ser objeto de consideração pelo operador na sua análise de risco da operação. Cabe ao operador recolher os dados relevantes e agir sobre desvios, treinando as suas tripulações para enfrentar estes eventos isolados ou em combinação”, vinca o GPIAAF.
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