“Neste momento as correntes dominantes são para norte. É provável que estas partículas cheguem a Portugal lá para a primavera, quando mudar a direção das correntes, e se não tiver dado à costa todo o conteúdo [dos contentores que transportavam o plástico] que caiu ao mar, embora com um impacto menor. O primeiro passo será acionar a vigilância das praias, usando também a sociedade civil, e o segundo passo será implementar um plano de contingência desenhado à medida e supervisionado”, explicou o hidrobiólogo da Universidade do Porto, em declarações à Lusa.

Bordalo e Sá observou que o granulado, usado como matéria-prima para produtos de plástico (designado por ‘pellets’ ou ‘nurdles’, em inglês), facilmente se transforma em nanoplástico, chegando à cadeia alimentar de peixes e bivalves e, consequentemente, à dos seres humanos, desconhecendo-se ainda todos seus os impactos.

As regiões do Norte de Espanha, da Galiza ao País Basco, ativaram ou elevaram hoje alertas ambientais por causa de toneladas de minúsculas bolas de plástico que caíram ao mar em dezembro em águas portuguesas.

Considerando que as praias do Norte espanhol estão perante “uma maré de plástico”, Bordalo e Sá notou que o problema está a ser enfrentado por “autoridades muito dinâmicas, porque Espanha é um país descentralizado”.

No caso português, “os primeiros 1.800 metros de mar da costa portuguesa integram os planos de bacias hidrográficas”, pelo que “deviam estar sob a alçada das administrações hidrográficas regionais, mas estão centralizados em Lisboa”.

“O grosso do conteúdo [das partículas de plástico] irá parar à Galiza e há de chegar a França. Temos a experiência da tragédia de Entre-os-Rios [em 2001, várias pessoas morreram na sequência da queda de uma ponte e houve corpos encontrados na Galiza e em França]. Mas sem dúvida que podem chegar a Portugal”, alertou.

Em causa estão, nas praias espanholas, “esferas de cinco milímetros de plástico” que facilmente se partem, passando a “microplásticos, quando tiverem menos de um milímetro, e depois ainda se fracionam mais, em nanoplásticos, do tamanho de micróns, e aí está o problema”, continuou.

“Essas partículas nano vão sendo progressivamente colonizados por seres vivos que se depositam à sua volta e, devido ao odor, muitos peixes vão pensar que é alimento e os bivalves vão filtrá-los indiscriminadamente”, descreveu.

O especialista notou ainda que “a perda dos contentores, que não é tão rara quanto isso, não foi junto da costa”, mas “numa das vias marítimas mais congestionadas do mundo”, o que faz com que o Norte de Portugal e a Galiza sejam “zonas altamente vulneráveis a acidentes no mar”.

Segundo informações divulgadas pelo governo espanhol, o armador do barco que em 08 de dezembro perdeu contentores da carga que transportava, a 80 quilómetros de Viana do Castelo, disse que caíram ao mar mais de mil sacos com cerca de 26,2 toneladas destas bolas com cerca de cinco milímetros de diâmetro, usadas para fabricar plásticos e que estão agora a dar à costa no norte de Espanha.

As informações anteriores, conhecidas até segunda-feira, estimavam 15 toneladas de bolas de plástico dentro de um dos contentores perdidos pelo barco.

Nos outros contentores caídos ao mar (pelo menos mais cinco) havia pneus, rolos de película aderente e barras de alumínio, segundo as informações fornecidas pelo armador do barco às autoridades espanholas.

Os primeiros sacos com as bolas de plástico foram identificados em 13 de dezembro em praias da Galiza, na fronteira com o Norte de Portugal.

No entanto, foi no final da semana passada que começaram a chegar à costa da Galiza, em quantidade, as bolas de plástico dispersas, fora de sacos.