Pedro Camanho, que também é professor da Faculdade de Engenharia da Universidade de Porto, foi um dos três investigadores portugueses distinguidos hoje pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC - European Research Council, sigla em inglês), no âmbito do programa Advanced Grants 2023.
Durante cinco anos, o investigador vai dedicar-se ao estudo de uma nova geração de materiais compósitos não convencionais para reduzir o peso e melhorar a eficiência dos aviões e lançadores, diminuindo a sua pegada ambiental.
“Este projeto está relacionado com a necessidade de descarbonizar a indústria aeronáutica porque prevê-se que, com o aumento do número de voos nos próximos anos em 2050, as emissões de dióxido de carbono atinjam um valor de cerca de 2.000 milhões de toneladas, o que não é sustentável”, disse Pedro Camanho em declarações hoje à Lusa, depois da divulgação da atribuição da bolsa.
Portanto, acrescentou, “o objetivo que foi definido pelas empresas do setor aeroespacial e pelos governos foi descarbonizar, precisamente em 2050, a indústria aeronáutica”.
O investigador ressalvou que, para isso, é preciso desenvolver uma nova geração de materiais mais leves usados nas estruturas aeroespaciais, porque ao diminuir o peso das aeronaves está-se, imediatamente, a reduzir as emissões.
Com o desenvolvimento destes novos materiais será ainda possível desenhar as estruturas dos aviões de forma diferente, nomeadamente criar asas muito maiores ou potenciar a sua eletrificação, exemplificou.
Contudo, Pedro Camanho esclareceu que há estruturas em que faz sentido manterem-se os mesmos componentes, dizendo, por exemplo, que o trem de aterragem dos aviões deve continuar a ser feito de materiais metálicos.
“O objetivo, até diria principal, é diminuir o peso dos aviões e dos lançadores porque depois o conhecimento pode ser transferido para outras áreas relevantes, nomeadamente para a indústria automóvel e para a ferrovia”, sublinhou.
Outro dos propósitos passa por conseguir desenvolver o material “muito mais rapidamente” do que aquilo que a indústria faz hoje, e, para isso, o seu desenvolvimento vai estar suportado numa plataforma computacional em que vai ser feita a modelação desde a micro escala até ao nível estrutural, ressalvou.
A vantagem é que vai ser possível representar e desenvolver os materiais e as estruturas num computador antes de avançar para a sua fabricação, destacou.
“Portanto, fazemos aquilo a que eu chamo de desenvolvimento e certificação virtual”, salientou.
Em termos globais, Pedro Camanho entendeu que a utilização destes materiais é uma solução mais económica porque vai permitir uma diminuição do combustível e dos custos de desenvolvimento das estruturas.
Novos polímeros
Pedro Camanho é o único investigador a trabalhar em Portugal a receber a bolsa, segundo a lista hoje divulgada pelo ERC, que inclui 255 investigadores na Europa que irão receber ‘Advanced Grants’ 2023, bolsas para investigadores seniores, com um historial comprovado de realizações significativas, segundo informação da instituição, num total de quase 652 milhões de euros.
O projeto, que será desenvolvido nos próximos cinco anos no Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Industrial, visa desenvolver novos materiais que reduzam o peso dos aviões.
“Tem como ambição, entre outros aspetos, impactar a descarbonização do setor aeroespacial, através da criação de conhecimento que levará à descoberta de novos materiais compósitos não convencionais”, diz a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) em comunicado sobre a atribuição do financiamento.
Segundo a FCT, entre os investigadores que receberam hoje estas ‘Advanced Grants’ há mais dois portugueses, que trabalham em instituições fora de Portugal.
Nuno Maulide, da Universidade de Viena, recebeu uma bolsa de 2,75 milhões de euros com o projeto C-HANCE - “CarbonHydrogen bond activation via a new charge control approach” e Paula Mendes, da Universidade de Birmingham, com o projeto GLYCANREAD - “New frontiers in glycan recognition and detection”.
A Fundação destaca que, com a bolsa atribuída a Pedro Camanho, Portugal atinge a marca dos 88,5 milhões de euros de financiamento do ERC desde 2021.
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