A representante da Sociedade Portuguesa de Pneumologia participou hoje no 3.º Congresso Internacional sobre Infeções Associadas aos Cuidados de Saúdes em Santa Maria da Feira abordando o tema sobre as razões de se morrer tanto de pneumonia em Portugal.
Cátia Caneiras recordou que o país, em 2015, era o que tinha maior taxa de mortalidade por pneumonia na União Europeia, citando o relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) de 2018.
“O que não deixa de ser curioso é que quando passamos do relatório da OCDE para o relatório do Ministério da Saúde e verificamos o retrato da saúde em Portugal, nem uma frase é dada às doenças respiratórias”, observou.
Portugal é o país europeu com maior taxa de mortalidade por pneumonia com valores de mortalidade superiores a 57 mortes por cada 100 mil habitantes, sendo o dobro da média dos países da União Europeia.
Segundo a OCDE, Portugal era, em 2015, o país, entre os 28 da União Europeia, onde mais se morria por pneumonia, doença que matou cerca de 140 mil pessoas nesse ano na Europa.
“No retrato da saúde, nas doenças que mais afetam os portugueses, continuamos apenas a falar das doenças cardiovasculares e oncológicas – que são extremamente relevantes -, mas dado os dados das doenças respiratórias em Portugal, entendemos que devia ser dada uma maior visibilidade a esta matéria”, sublinhou.
Apesar disso, em declarações à Lusa após a intervenção, indicou que a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, a Direção Geral de Saúde (DGS) e o Ministério da Saúde “estão a monitorizar a situação e a identificar causas” e adiantou que se prevê que “possa haver uma situação associada à codificação” no sentido de se “verificar se a codificação de pneumonias em Portugal está a ser igual à dos restantes países europeus”.
“Por outro lado, há que monitorizar as infeções associadas aos cuidados de saúde, estamos a falar, maioritariamente, de pneumonias hospitalares e Portugal tem ainda uma taxa elevada – embora tenha diminuído nos últimos anos – mas essas são as duas principais temáticas que merecem uma análise mais detalhada das instituições em Portugal”, prosseguiu.
Ainda durante o discurso, revelou que a DGS tem o programa nacional para as doenças respiratórias, que no seu último relatório apontou para que 70% dos internamentos por doenças respiratórias são devido a pneumonias bacterianas e falou também na importância de associar a “área respiratória e das pneumonias às infeções associadas aos cuidados de saúde”.
“Quando se fala em pneumonias (…) um dos temas que deve ser estudado são as infeções associadas aos cuidados de saúde. Geralmente não há um cruzamento entre doenças respiratórias porque são associadas a doentes crónicos e questões infecciosas. Há aqui um cruzar de áreas e saberes que deve ser feito”, defendeu.
Cátia Caneiras entende que há várias ações que podem ser tomadas, começando pela “sensibilização da vacinação” da gripe e antipneumocócica para a população.
Relativamente à parte hospitalar, considerou que o consumo de antibióticos é “muito relevante” e a escolha deve ser de acordo com o doente, “o medo e o desconhecimento de bactérias hospitalares não pode fazer com que os clínicos selecionem antibióticos de última linha, porque esses devem ser reservados para situações complexas (…)”.
Caso contrário, “corremos o risco de infeções menores poderem voltar a matar”, advertiu.
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