Em declarações à Lusa, a investigadora Elisabete Pires contou que a ideia surgiu de uma questão que há algum tempo a intrigava: “Qual o passado das raças de cães nos vários períodos cronológicos e como terá sido a sua evolução até ao presente”.
Segundo Elisabete Pires, é devido ao financiamento que receberam, há dois meses, de cerca de 239 mil euros da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) que vão “conseguir aprofundar o conhecimento sobre a domesticação” e “contribuir para a compreensão deste fenómeno a nível mundial”.
“Discute-se se a domesticação foi fruto da ação direta do homem ou se o lobo se autodomesticou, aproveitando um novo nicho ecológico que surgiu com o homem e as suas atividades, e progressivamente foi tolerando a sua aproximação. E, depois surgiu o cão, de menor tamanho e que foi ficando no registo arqueológico, muitas vezes, de forma que denota afeto pelo homem”, explicou.
O estudo, que começou a ser pensado em 2010, centra-se no período Mesolítico e as duas investigadoras pretendem ainda, nos próximos três anos, “compreender as trajetórias evolutivas dos cães e lobos na Península Ibérica e no Norte de África”.
“Queremos estudar a origem destas populações [cães e lobos]. Perceber se existe algum sinal de que os primeiros cães que habitaram na Península Ibérica tiveram origem cá ou, se por acaso, foram trazidos de outros sítios”, revelou.
De acordo com a investigadora, apesar de o “lobo servir de ancestral direto do cão” na região da Península Ibérica, e isso explicar o surgimento da espécie, “tal não se sucede no Norte de África”, mais concretamente no Magrebe, zona que está a ser estudada.
“Sabemos que no Norte de África não existiram lobos, portanto, queremos perceber se os primeiros cães africanos terão sido levados da Península Ibérica para esta zona através do mar Mediterrâneo”, frisou.
Para Elisabete Pires, continuam por desvendar as “informações genéticas”, apesar das diferentes evidências históricas comprovarem que “ao longo do tempo existiram fluxos de pessoas, animais e cruzamentos entre as raças”.
“Os dados genéticos precisam de ser interpretados juntamente com os dados históricos, arqueológicos e zoológicos. E, por vezes, isso falha”, afirmou.
O estudo conta ainda com o apoio de um arqueólogo e um zooarqueólogo e está associado ao Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), no Porto, do qual resulta o EnvArch – Environmental Archaeology.
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