ICY e SOT, irmãos nascidos em 1991 e 1985, respetivamente, em Tabriz, no Irão, e atualmente a residir em Nova Iorque, intitulam-se “ativistas e artistas”, porque, desde que começaram, em 2006, tentam “abordar assuntos e passar mensagens” através da arte.
Na exposição “Faces of Society”, que estará patente na galeria Underdogs, vão mostrar trabalhos novos, nos quais estão a trabalhar há cerca de seis, oito meses, e nos quais abordam temas como o trabalho, o capitalismo e a igualdade.
“Não é uma exposição super intensa politicamente”, referiu SOT em declarações à Lusa. “Temos peças sobre a sociedade, o que está a passar-se, toda a gente a viver uma vida rápida, a não se preocupar muito com os outros, mas também temos trabalhos sobre pessoas da classe operária, que trabalham muito, mas não recebem o devido pelo trabalho que fazem ou que não recebem atenção”, referiu.
Ao longo de cerca de uma década, o trabalho da dupla passou pelo ‘stencil’ (pintura com moldes), mas nos últimos três/quatro anos, contou SOT, decidiram mudar e começar a experimentar outros materiais e técnicas.
“Qualquer ideia que tenhamos, qualquer meio que a torne mais forte, recorremos a ele. Começámos a experimentar com coisas diferentes e decidimos misturar temas e objetos, usar material que existe e modificá-lo para falar de um tema”, recordou SOT.
Nas paredes da Underdogs está exposta uma série de pás trabalhadas, que batizaram de “Working Class Hero”.
“Passámos por uma loja de antiguidades e vimos estas pás enferrujadas, o símbolo de pessoas que trabalham no duro. Comprámos as pás e pensámos no que poderíamos fazer. Tirámos fotografias de perfil de trabalhadores e cortámos os perfis nas pás”, contou ICY.
Os perfis voltam a surgir em telas, pintadas com umas “ferramentas de raspagem” criadas pelos artistas com aço cortado.
“Fizemos esta ferramenta, de aço cortado e usámo-la para pintar, fomos experimentando e criando ferramentas diferentes e pintámos com ela”, recordou SOT.
Com esta ferramenta, que, segundo ICY, é “um novo tipo de stencil”, para os irmãos continua a haver corte envolvido no trabalho da dupla.
“Costumávamos cortar papel [para criar os moldes para o stencil], mas agora cortamos outros materiais, como aço”, disse SOT.
O capitalismo está representado através de uma mala onde a dupla cortou um perfil – “a mala tem dinheiro dentro e a pessoa está a comer o dinheiro” -, e a igualdade, ou falta dela, surge através de uma balança, cujos pratos são um rosto feminino e um outro masculino.
A série “Working Class Hero”, que representa a classe trabalhadora, inclui ainda perfis feitos com vassouras ou luvas de trabalho.
Quando residiam no Irão, através da arte que faziam abordavam temas como a censura ou o trabalho infantil. “As nossas peças costumavam ser muitas vezes censuradas, vimos tanta censura, que acabávamos por abordar o assunto, ou o trabalho infantil, que víamos muito nas ruas, crianças muito novas a trabalhar e a vender coisas”, recordou ICY.
Com a mudança para Nova Iorque, “os assuntos mudaram um pouco”. “Agora temos uma mensagem mais global, sobre o que está a passar-se no mundo, o que está a passar-se à nossa volta: temos vários trabalhos sobre a crise dos refugiados, as migrações e as alterações climáticas”, afirmou.
Em Lisboa, além da exposição, ICY e SOT vão criar uma obra na rua, que ficará no centro da cidade, junto ao rio.
“É uma ideia simples, a maior parte do nosso trabalho é muito simples”, afirmou SOT sobre a bandeira da União Europeia, “feita em rede de arame e com as estrelas de arame farpado”, um “comentário à crise dos refugiados”.
“Eles precisam de mais ajuda do que a que estão a receber. Há muita gente a chegar, a fugir da guerra e de outros perigos, deixam a família, estão só a pedir ajuda, e às vezes ficam anos a viver em campos [de refugiados], são seres humanos, a pedir ajuda, precisam de ser mais bem tratados”, defendeu SOT.
Embora a peça seja feita em Portugal, o artista ressalva que o tema “não é específico sobre Portugal, é sobre toda a Europa”.
“Faces of Society”, de entrada gratuita, fica patente até 15 de junho.
A Underdogs é uma plataforma cultural, fundada pela francesa Pauline Foessel e pelo português Alexandre Farto (Vhils), que se divide entre arte pública, com pinturas nas paredes da cidade, exposições dentro de portas (no n.º 56 da Rua Fernando Palha) e a produção de edições artísticas originais.
A plataforma tem também uma loja, na Rua da Cintura do Porto de Lisboa, e começou em 2015 a organizar visitas guiadas de Arte Urbana em Lisboa.
Comentários