A manutenção do compromisso de Teerão com o acordo nuclear “depende das garantias da parte da União Europeia”, declarou aos jornalistas Alaeddin Boroujerdi, presidente da comissão de Segurança Nacional e Relações Externas do parlamento do Irão, que foi recebido hoje de manhã pelo vice-presidente da Assembleia da República Jorge Lacão e pelos deputados da comissão de Negócios Estrangeiros.

“Não queremos testemunhar os mesmos erros que os EUA estão a cometer por parte da União Europeia”, disse o deputado, que chefia uma delegação de parlamentares iranianos, em visita a Lisboa.

As autoridades iranianas exigem que a União Europeia (UE) dê “garantias práticas” de que manterá o acordo, até porque “existem dúvidas de que a União Europeia, no seu conjunto, tenha a capacidade de continuar a trabalhar com o Irão e de manter este acordo ou não”, indicou Boro Jerdi.

“Se a UE tem essa capacidade de preservar esse acordo, têm de passar garantias práticas. Para nós, não é aceitável que esta violação dos EUA seja repetida por parte da UE”, acrescentou.

Questionado sobre que garantias são pedidas por Teerão, o deputado respondeu: “Respeitar e cumprir os compromissos assumidos contemplados no acordo nuclear, não aceitar a pressão dos EUA, não ter receio de sanções que os EUA poderiam aplicar aos bancos europeus que trabalham com o Irão”.

“Queremos exigir uma garantia muito prática e não apenas uma conversa oral sobre a sua determinação” de manter o acordo nuclear, acrescentou.

No entanto, Alaeddin Boroujerdi ressalvou que a capacidade do bloco europeu de resistir a pressões dos Estados Unidos é “muito fraca”.

“Imaginamos que a Europa vai continuar os compromissos que assumiu. Mas, pela experiência que temos, certamente os EUA vão pressionar a Europa. Sabemos que a capacidade e potencialidade da UE de resistir perante as exigências é muito fraca”, disse o parlamentar iraniano, afirmando que os 28 devem “garantir que podem resistir e que não estão a executar as decisões dos EUA”.

Questionado sobre a posição do parlamento iraniano, que pediu ao Governo de Teerão uma “resposta feroz” à posição norte-americana, Boroujerdi respondeu que se trata de uma “posição muito justa”.

“Se voltarem a impor sanções ao nosso país, não existe motivo para continuar. Essa é a exigência dos nossos parlamentares”, justificou.

Instado a comentar alertas de que a decisão norte-americana pode fazer escalar o conflito no Médio Oriente, o deputado considerou que esse é o objetivo dos EUA.

"Sabemos que inflamaram a guerra no Iraque, na Síria ou no Iémen. A intenção dos EUA é aumentar a venda do armamento na região e manter ativa essa indústria armamentista, e por isso vão criando cada vez mais conflitos em qualquer parte do mundo", sustentou.

O deputado afirmou ainda que “os EUA mostram que não respeitam regulamentos e acordos internacionais”, sublinhando que o abandono do acordo “criou insatisfação a muitos países no mundo”.

Boroujerdi comentou que, nos encontros que manteve esta manhã na Assembleia da República, ouviu, da parte do vice-presidente Jorge Lacão e dos deputados, “lamentações” em relação a esta decisão, posição idêntica à que foi expressa pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros português.

Já “as outras partes que assinaram o documento – França, Alemanha, Inglaterra - demonstraram a sua determinação na continuidade do acordo”, comentou.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou esta terça-feira que os Estados Unidos abandonam o acordo nuclear assinado em 2015 entre o Irão e o grupo dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, China, França e Reino Unido) mais a Alemanha.

O Governo português “lamenta bastante” a saída dos EUA do acordo nuclear com o Irão, mas espera que esta seja “compensada” pela determinação dos restantes signatários de manterem a sua posição, disse esta terça-feira à Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros.

Pouco depois, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse subscrever “plenamente” a posição do executivo português.

[Notícia atualizada às 14:58]