Não tem sido fácil a vida de Cristina de Bourbon nos últimos 10 anos. A segunda filha de Juan Carlos e Sofia - a filha do meio, entre a irmã mais velha Elena e o irmão mais novo Felipe, atual Rei de Espanha - passou a última década envolvida em duas frentes de batalha que se revelaram penosas: a judicial, acusada em conjunto com o marido no caso Nóos que hoje conheceu a sentença, e a familiar, tendo sido votada à distância pela família real a partir do momento que se desencadeou o processo legal.
A partir do momento que ficaram expostos à opinião pública com as revelações de desvio de dinheiros públicos através da Fundação Nóos, Cristina e Inaki Urdangarin decidiram mudar-se para Washington, nos Estados Unidos, onde permaneceram por uma primeira temporada fora de Espanha. Inaki Urdangarin trabalhou durante esse período para a operadora de telecomunicações espanhola Telefónica, mas isso foi ainda antes de o processo ter avançado para tribunal e de a família real - sobretudo o pai de Cristina, Juan Carlos, então ainda rei de Espanha ter extremado o seu distanciamento face ao casal.
Quando regressaram a Espanha, os duques de Mallorca - título que entretanto perderam - viveram uns meses em Barcelona e Cristina percebeu que não contaria com o apoio de pais e irmãos na etapa que se seguiria e que se previa mais difícil. A La Caixa, banco que controla em Portugal o BPI e que é o empregador de Cristina de Bourbon há quase 20 anos, propôs-lhe então um lugar em Genebra, ao serviço da Fundação Aga Khan, lugar esse que aceitou. É na cidade suíça que vive com o marido e os quatro filhos há três anos. Cristina trabalha e Urdangarin espera. O futuro do marido da infanta está em suspenso desde o início do processo judicial que hoje conheceu a sentença que dita a pena de prisão de seis anos e três meses.
Diz o El Pais que, apesar das dificuldades, o casamento dos duques nunca esteve em risco e que os laços entre os dois se reforçaram perante as dificuldades. Mesmo que Urdangarin tenha precisado de ajuda médica. E mesmo fortemente abalada pelo rumo dos acontecimentos, Cristina nunca terá deixado de acreditar na inocência do marido, considerando que ambos são vítimas de um processo e que a família real os deixou sozinhos e sem apoio. Os dois estão casados desde 1997 e têm quatro filhos, três rapazes e uma rapariga, entre os 17 e os 12 anos.
Factualmente, o abandono da família real foi efectivo. A infanta mantém laços com a mãe, a rainha Sofia, e com a irmã, a infanta Elena, mas a sua relação com o pai e como o irmão foi profundamente afetada. Juan Carlos insistiu com Cristina para que abdicasse aos seus direitos enquanto infanta e o progressivo distanciamento consumou-se quando o rei comunicou à filha que ela não assistiria à coroação do seu irmão Felipe. Depois de uma cena novelesca, em que Cristina se apresentou no Palácio da Zarzuela mas apenas foi recebida pela mãe, a tensão seguiu com o novo rei, seu irmão, Felipe VI que lhe pediu que renunciasse ao título de duquesa. Cristina recusou fazê-lo voluntariamente e o rei retirou-lhe o título.
Foi na Suíça que Cristina recebeu hoje a notícia da condenação do seu marido e da sua absolvição. O tribunal deverá pedir prisão imediata para Iñaki Urdangarin. E, segundo o El Pais, tudo leva a crer que o exílio que se auto-impôs continuará agora em Lisboa, onde a Fundação Aga Khan vai instalar a sua sede.
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