A resposta é sim, e ao mesmo tempo, não. A especialista em engenharia alimentar, Susete Estrela, explica, ao SAPO24, que quando falamos em saúde temos que ter em conta dois fatores: “Existe o ponto de vista nutricional, e o ponto de vista da segurança alimentar.”

Do ponto de vista nutricional, a carne mal-passada tem vários benefícios. A vitamina B12, que é essencial para o bom funcionamento dos glóbulos vermelhos, está mais presente antes da carne ser cozinhada, uma vez que é sensível à temperatura.

No entanto, ao mesmo tempo que esta proteína apresenta benefícios nutricionais, também apresenta riscos.

“Existem 4 grandes bactérias que ninguém quer ter na vida, e muito menos no corpo. São elas a Salmonella, a Listeria, a Campylobacter e a E.coli”, disse a especialista. Por este motivo, pessoas que fazem parte de grupos de risco, como grávidas, crianças, idosos e imunocomprometidos devem evitar consumir carne crua ou mal-passada, uma vez que o benefício nutricional deste alimento, não é superior ao risco que acarreta.

Mesmo aqueles que não fazem parte destes grupos, devem ter a certeza que a carne é fresca e vem de um local de confiança, para evitar riscos de infeção. Em casa, também há pequenos cuidados a ter, que podem fazer toda a diferença.

“Devemos ter um termómetro, para cozinharmos as coisas à temperatura certa. A carne de porco pode ser cozinhada a temperaturas mais baixas, mas durante mais tempo. O essencial é, no final, deixar a carne descansar, mais ou menos 3 minutos na grelha. Já as carnes de vaca e frango, devem ser cozinhadas acima dos 70, porque as bactérias típicas deste tipo de carne são mais resistentes à temperatura”, explica a engenheira alimentar ao SAPO24.

Porque é que posso comer um bife mal passado, mas não um hambúrguer?

Se há forma em que a carne não deve ser consumida mal passada, é quando está picada, nomeadamente, os hambúrgueres. Apesar da matéria-prima ser a mesma, existem detalhes que mudam tudo. A especialista, Susete Estrela, explica.

“Vamos pegar no exemplo de um livro. Quando um livro cai ao chão, ele só se vai sujar de um lado, ou do outro. Mas o interior, as folhas, neste caso, não se sujam, por isso, limpamos de um lado e do outro. É o mesmo com um bife. Ainda que possa trazer bactérias, vai para a grelha, sela-se dos dois lados e mesmo que fique mal passado, a parte do bife que teve contacto com o exterior, está cozinhada”.

O mesmo não acontece quando se trata de carne picada.

“Vamos imaginar que quando o nosso livro cai ao chão, todas as folhas se soltam. Quando voltamos a compilar as folhas, algumas vão estar sujas. É o mesmo que acontece quando um bife é transformado em hambúrguer. A sujidade que estava na periferia, é agora sujidade interna. Então, se não cozinharmos bem o hambúrguer, corremos o risco de algumas dessas bactérias sobreviverem”, explica a especialista.

Seguro antes de saudável

Existem duas palavras no que toca a alimentação - o seguro e o saudável, e o seguro deve vir antes do saudável.

A razão é simples, por muitos nutrientes e vitaminas que um alimento tenha, não é possível usufruir delas, se o mesmo não for seguro.

“Nós começámos a educar as pessoas pelas calorias, e não pelos contaminantes. As pessoas querem saber de nutrientes e de emagrecer, não de bactérias. E isto tem prejuízos altíssimos.”, alerta a engenheira alimentar, que relembra que só na Europa, há, anualmente, 23 milhões de pessoas que adoecem por alimentos contaminados.

Assim, não existe um ponto ideal para a carne que comemos, desde que seja atingido o ponto de destruição das bactérias. Mas atenção, é importante relembrar que o organismo dos seres humanos está preparado para comer carne crua. Portanto, a discussão dos riscos para a saúde, não é um problema de indigestibilidade, mas sim de infecção. A carne crua, ou mal passada, não faz mal, mas é preciso ter atenção ao risco bacteriano e aos parasitas que podem vir por acréscimo.

*Editado por Ana Maria Pimentel