A 3 de dezembro de 1992, Neil Papworth, um programador de software britânico de 22 anos, fez história quando estava a trabalhar a 100 quilómetros a oeste de Londres: enviou a primeira mensagem de texto de sempre.
"Fiz parte da equipa que desenvolveu um Short Message Service Center para o nosso cliente, a Vodafone UK, e fui escolhido para ir a Newbury para instalar, integrar e testar o software e fazer tudo funcionar. Inicialmente, a ideia era que eles o usassem essencialmente como um serviço de pager — ninguém tinha ideia do quão gigantesco o fenómeno das mensagens de texto se tornaria", escreveu Papworth no seu site.
Mas a mensagem não foi enviada como hoje em dia. "Como os telemóveis ainda não tinham teclado, digitei a mensagem num computador. Dizia "Merry Christmas" [Feliz Natal, em português] e enviei para Richard Jarvis, da Vodafone, que estava a aproveitar a festa de Natal do seu escritório naquela altura", recordou.
Com isto, Jarvis, diretor da empresa no Reino Unido, recebeu no seu telemóvel Orbitel 901 uma mensagem de conteúdo simples que agora é replicada a cada ano por milhões de utilizadores neste mês de dezembro. Mas aquele primeiro desejo de boas festas marca o início do chamado Short Message Service [Serviço de Mensagens Escritas], o SMS.
A primeira etapa estava cumprida e, já em 1993, o SMS tocava pela primeira vez nos telemóveis, quando a Nokia introduziu um som distinto para assinalar as mensagens recebidas nos seus aparelhos.
Porém, passaram vários anos até a comunicação por mensagens escritas se tornar num fenómeno. A sua popularidade começou a crescer apenas em 1999, quando foi possível trocar SMS entre redes de telemóvel diferentes. A partir daí, ninguém teve dúvidas de que aquela tecnologia ia mudar o quotidiano. Em 2002, por exemplo, os portugueses enviaram 51 milhões de mensagens eletrónicas por telemóvel na véspera e no dia de Natal, com a rede da TMN, agora MEO, a sofrer a maior sobrecarga.
Com o decorrer dos anos, as funções do SMS viram-se alteradas, essencialmente pela existência de aplicações online que permitem enviar mensagens não só de texto, mas com imagens, emojis e GIFs e até vídeos ou documentos, como é o caso do WhatsApp.
Todavia, que não se pense que não são ainda uma forma de chegar às pessoas: em plena pandemia, serviram para convocar para a vacinação e, em fevereiro de 2022, tinham sido enviados mais de 70 milhões de SMS em Portugal com esse fim, através do número 2424. Além disso, o SMS ainda é visto como uma ferramenta segura e um bom veículo para publicidade.
Muito mudou em 30 anos, mas o SMS veio para ficar
Nos anos 1990 e inícios de 2000, os principais responsáveis pela explosão do SMS foram os jovens, cujo acesso a esta tecnologia foi facilitado devido à chegada das tarifas pré-pagas e ao baixo custo do serviço em relação às comunicações de voz.
Assim, foram estes que, rapidamente, se habituaram a escrever com os polegares e criaram uma gramática paralela, feita de abreviaturas e misturas de números e letras. Como as mensagens de texto tinham um limite de 160 caracteres — o que ainda acontece, mas alguns telemóveis já permitem mais e são cobradas pelas operadoras como várias comunicações —, os utilizadores tiveram de ser criativos. E assim surgiu a gíria específica do mundo do SMS — por exemplo, a utilização do 'k' para escrever 'que' —, bem como os emoticons, símbolos feitos a partir de caracteres do teclado para mostrar emoções. Ou seja, os antepassados dos emojis.
Em 2017, a propósito dos 25 anos do primeiro SMS, Neil Papworth afirmou que inicialmente não teve noção do impacto do que fez. "Em 1992, eu não tinha ideia de quão popular se iria tornar a mensagem de Natal, nem que isso daria origem a emojis e aplicações de mensagens utilizadas por milhões de pessoas", afirmou.
"Só recentemente disse aos meus filhos que tinha enviado esse primeiro texto. Olhando para trás, agora é mais claro ver que a mensagem de Natal que enviei foi um momento fulcral na história do telemóvel", acrescentou o programador.
Em 2001, segundo uma sondagem do Instituto Ipsos, 43% dos inquiridos afirmavam já ter enviado SMS (Short Message System) a partir do seu telemóvel e 27% indicaram recorrer “geralmente” a esta forma de comunicação.
O envio de textos variava fortemente segundo a idade. As mensagens curtas eram mais populares entre os mais jovens: 75% entre os 15 e os 19 anos e 56% entre os 20 e os 24 anos trocavam-nas frequentemente. Mais barato que uma chamada, o SMS era também encarado como uma forma de controlar a fatura do telemóvel.
Mas olhemos para os números na atualidade. Com a explosão de aplicações que permitem enviar mensagens de forma gratuita, o número de SMS enviados diminuiu.
Sem tarifas de roaming quando se tem acesso a uma rede Wi-Fi, as apps têm uma vantagem inegável. Entre os utilizadores com idades entre 16 e 24 anos, na Europa, a utilização de aplicações e redes sociais cresceu 53,73% em 2021, enquanto o SMS caiu 29%, segundo um estudo do Órgão de Reguladores Europeus citado pela AFP.
No Reino Unido, berço do SMS, o volume de mensagens de texto caiu quatro vezes em 10 anos, para menos de 10 mil milhões no primeiro semestre de 2022, segundo a Ofcom, a reguladora britânica das telecomunicações.
Em Portugal a tendência não é diferente. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o tráfego de mensagens escritas (SMS) tem vindo a diminuir ao longo dos anos. Se em 2017 eram enviadas cerca de 16,9 mil milhões de mensagens, em 2021 o número ficou nos 10,7 mil milhões, face aos 11,3 do ano anterior.
Contudo, o SMS ainda tem futuro pela frente — mas provavelmente mais fora da Europa. Na Nigéria, o país mais populoso de África, foram enviadas cerca de 10 mil milhões de mensagens de texto em 2021, mais 15% do que no ano anterior, segundo um relatório da Comissão Nigeriana de Comunicações.
Embora a grande maioria dos nigerianos tenha telemóvel, apenas 44% da população tinha acesso à internet em 2021. Por outro lado, o envio de um SMS no país custa 4 nairas (0,008 euros), pelo que é muito mais barato em comparação com o custo de 2 GB de internet. De realçar, também, que metade dos nigerianos vive com menos de dois euros por dia.
Além das vantagens em alguns países, os defensores do SMS dizem, por outro lado, que continua a ser uma ferramenta essencial para verificar a identidade de um utilizador para uma transferência bancária, para confirmar a chegada de uma encomenda ou para receber um código de segurança.
Em França, "o SMS é um dos dois possíveis canais obrigatórios para alertar a população" em caso de catástrofe natural, emergência sanitária ou terrorista, recorda Marc-Antoine Dupuis, filho do engenheiro Philippe Dupuis, considerado o co-inventor do padrão .GSM que permitiu o avanço do SMS. Por cá, recorde-se que também a Proteção Civil utiliza este meio para alertas relacionados com o estado do tempo ou risco de incêndio.
E o SMS também continua a ser uma ferramenta preferencial para publicidade, pelo que está previsto o investimento de mais de 50 mil milhões de dólares em 2023 em todo o mundo, calcula a Juniper Research.
Comentários