Em entrevista à Lusa, o senador trabalhista considerou que o "PT tem uma grande responsabilidade [na crise política atual], principalmente na questão da reforma política, que devia ter sido feita no primeiro ano de mandato do Presidente Lula da Silva".
Quando questionado sobre se não sentia que as condições económicas, políticas e sociais que propiciaram a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais do ano passado eram responsabilidade dos governos anteriores, Wagner também respondeu: "Não há democracia sem boa legislação eleitoral, e a nossa legislação é obsoleta, a lei que organiza os partidos e as eleições devia ter sido mudada no primeiro ano do Governo Lula, em 2003, e a grande responsabilidade do PT é nesse aspeto".
"Na segunda metade do primeiro Governo da Presidente Dilma houve um exagero de isenções fiscais, mas nem foi culpa dela diretamente, porque a lei enviada para o Congresso era muito mais enxuta, mas depois cada um quis defender o seu setor e a lei foi muito penalizadora fiscalmente para o Estado e já terminámos o Governo com dificuldade na questão da crise fiscal", reconheceu o dirigente em entrevista à Lusa no âmbito da sua participação no VII Fórum Jurídico de Lisboa, que decorreu esta semana na capital portuguesa.
O principal problema, explicou o histórico do PT brasileiro que foi ministro dos antigos Presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff, veio, no entanto, a seguir: "Ganhámos apertado e infelizmente o lado que perdeu, ao invés de se conformar com a derrota, montou toda uma estratégia de criminalização do PT que acabou por criminalizar a política como um todo; é claro que nós temos responsabilidade, mas o saldo da contribuição do PT para a sociedade brasileira é extremamente positivo, os milhões de pessoas que incluímos, tirámos o Brasil do mapa da fome e atacámos o principal problema que eram as desigualdades sociais".
O PT "cometeu erros", admitiu, mas reforçou: "Não mudámos a legislação, esse foi um grande equívoco e estamos a pagar um preço demasiado alto por isso, o PT é feito de homens e mulheres, e uns fazem coisas boas e outros fazem 'bobagens', mas a nossa contribuição para a democracia é muito grande".
Questionado sobre a evolução da imagem do Brasil no mundo depois da tomada de posse do Presidente Jair Bolsonaro, Jacques Wagner não tem dúvida em afirmar que piorou: "O Brasil, e o seu Governo central, é visto com muita preocupação pela maioria dos países, pela forma como se posiciona, pelo que diz e por um discurso muito virado para a abertura de conflitos, constantemente, aposta nisso, precisa de um conflito para sobreviver porque como não apresenta objetivamente o que o povo espera, que é emprego e prosperidade, vive num pico desse debate de costumes e da questão da segurança, por isso a imagem hoje é muito preocupante porque é a de uma instabilidade jurídica muito grande".
Para Wagner, nem sempre foi assim. "O Brasil já foi muito bem visto no resto do mundo, ocupámos um lugar de destaque na constelação internacional, o Banco Mundial disse que tivemos uma década de ouro entre 2003 e 2013, mas depois tivemos a crise e o 'impeachment' artifical da Presidente Dilma".
A batalha jurídica pela deposição de Dilma Rousseff "é uma marca extremamente negativa da história da redemocratização, foi uma quebra de códigos de convivência da democracia, depois veio outro governo sem nenhuma legitimidade e a resposta a essa frustração com a classe política elegeu-se um Governo que projeta uma imagem muito ruim do Brasil para o exterior", concluiu.
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