“Referindo-se à importância do projeto de desenvolvimento de gás natural liquefeito na província de Cabo Delgado, que foi suspenso devido ao terrorismo, a ministra Kamikawa solicitou mais esforços por parte de Moçambique para melhorar e manter a segurança na região”, lê-se numa nota divulgada hoje pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros japonês, sobre o encontro da governante, em Tóquio, com a homóloga moçambicana Verónica Macamo, que se encontra em visita ao país.
“As duas ministras afirmaram também a importância de trabalhar em conjunto no desenvolvimento multifacetado que levará à estabilização da província de Cabo Delgado e ao crescimento da região norte como um todo”, refere a declaração final, acrescentando a disponibilidade do Governo do Japão para apoiar uma agenda comum para esse efeito.
Recorda que as empresas japonesas estão envolvidas no projeto Mozambique LNG, liderado pela TotalEnergies, estimado em 20 mil milhões de dólares (18,3 mil milhões de euros), mas que foi suspenso devido aos ataques terroristas em Cabo Delgado, com a multinacional francesa a admitir, entretanto, a retoma no início do próximo ano.
“A sua localização geográfica posiciona bem o projeto para responder às necessidades do mercado do Atlântico e da Ásia-Pacífico, além de explorar as crescentes procuras de energia do Médio Oriente e do subcontinente indiano”, explica a TotalEnergies sobre o Mozambique LNG.
A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico, que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, pediu em 22 de novembro “decisões” sobre a capacidade de resposta das Forças Armadas em Cabo Delgado, nomeadamente com reservistas, tendo em conta a prevista retirada das forças estrangeiras que apoiam no terreno contra os grupos terroristas.
“Decisões concretas sobre a capacidade de resposta das Forças Armadas em relação à sua ação no combate ao terrorismo em Cabo Delgado no período após a retirada das forças amigas da SAMIM [missão da SADC em Moçambique] e do Ruanda”, pediu Nyusi, na abertura do XXIV Conselho Coordenador do Ministério da Defesa Nacional.
“Para o efeito, a vossa reflexão deve igualmente avaliar a forma de melhor capitalizar o manancial de reservistas, empenhando-os direta ou indiretamente em várias missões em prol da defesa da soberania e integridade territorial do nosso país. E a realidade atual justifica”, acrescentou.
A cimeira da SADC aprovou em agosto passado a prorrogação da missão em Cabo Delgado, Moçambique, por 12 meses, até julho do próximo ano. Uma missão de avaliação propôs em julho passado a retirada completa dos militares da SAMIM em Cabo Delgado até julho de 2024, assinalando que a situação na província “está agora calma”, apesar de os riscos prevalecerem.
Nas recomendações, a missão de avaliação aconselha o início gradual da saída da SAMIM a partir de 15 de dezembro deste ano e a conclusão da retirada em 15 de julho de 2024, isto é, um dia antes do fim do prazo da prorrogação decidida na terça-feira da semana passada pela troika da SADC.
Além da SAMIM e das forças governamentais moçambicanas, combatem a insurgência em Cabo Delgado as tropas do Ruanda, estando estas a operar no perímetro da área de implantação dos projetos de gás natural da bacia do Rovuma.
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