Num comício comemorativo do 101.º aniversário do PCP, no Campo Pequeno, em Lisboa, Jerónimo de Sousa alegou que o PS irá agora continuar “a política de direita que sucessivos governos prosseguiram”, depois de nos últimos anos ter sido forçado a “inverter alguns dos seus aspetos mais gravosos e assegurar avanços”.

Segundo Jerónimo de Sousa, “isso não se deveu às opções políticas do PS: foram as circunstâncias criadas pela luta dos trabalhadores e do povo e o posicionamento do PCP face à alteração da correlação de forças que o forçaram”.

“Não se tratava de um Governo com uma orientação de esquerda, mas de um Governo do PS forçado pelas circunstâncias a tomar medidas que não queria e a que sempre resistiu”, reforçou.

Em relação à ação do futuro Governo chefiado por António Costa, o secretário-geral do PCP recusou “qualquer processo de intenção” e disse que as “orientações programáticas” do PS demonstram “opções políticas a favor dos grupos económicos e financeiros, de submissão à União Europeia e ao euro, que condicionam e constrangem o desenvolvimento do país”.

“Opções que, naquilo que é essencial e estratégico, não se distinguem das opções de outros protagonistas e executores da política de direita, como o PSD”, prosseguiu.

Sobre o chumbo do Orçamento do Estado para 2022 na generalidade, com o voto contra também do seu partido, que levou à dissolução do parlamento, o secretário-geral do PCP voltou a responsabilizar o PS pela falta de entendimento e criticou a atuação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Segundo Jerónimo de Sousa, “perante o vislumbre da possibilidade de se desfazer da influência que o PCP e o PEV exerciam sobre a vida nacional, o PS não hesitou, provocando a não aprovação do Orçamento do Estado e contando com a conivência do Presidente da República”, e assim “conseguiu antecipar as eleições em condições que lhe garantiram a obtenção da maioria absoluta”.

“Contou para isso com a ação do grande capital e dos seus instrumentos mediáticos, com a operação de estímulo, por todos os meios, de uma dinâmica bipolarizadora, artificialmente construída à volta dos partidos do bloco central”, sustentou.

De acordo com o líder comunista, “esses interesses aí estão, agora, em bloco, a reclamar o seu quinhão, numa vitória que têm também como sua”.

“Os representantes do capital monopolista aí estão a apresentar a sua fatura. Querem, desde logo, a sua agenda de retrocesso social discutida sem delongas na concertação social, onde as suas organizações e a UGT se preparam para acertar um novo pacto de travagem salarial e de regressão de direitos laborais”, apontou.

Jerónimo de Sousa manifestou a certeza de que “o Governo PS carimbará este pacto, tal como acaba de carimbar o novo contrato de concessão para mais sete anos aos CTT privatizados, com novos aumentos de preços, para gáudio dos seus acionistas, que veem as suas ações dispararem 12% enquanto se degrada o serviço postal”.

“Tal como carimbou há dias a reprivatização de cerca de 70% do capital da EFACEC, depois de ter injetado significativos recursos públicos, e como se prepara para avalizar e financiar um meganegócio imobiliário nos terrenos da refinaria da Galp em Matosinhos. Sim, ainda não tomou posse o novo Governo de maioria absoluta e já vemos o vasto rol de exigências, onde se incluem as sempre inacabadas reformas estruturais, a pensar em novos negócios nas áreas das funções sociais do Estado”, acrescentou.

O secretário-geral do PCP alertou ainda para “as exigências de uma maior flexibilização do mercado de trabalho, o questionamento das limitadas propostas de salário mínimo projetadas pelo Governo para as calendas, reduções de impostos sobre os lucros e mais dinheiro público para os seus negócios privados a pretexto da transição digital e energética”.

“Querem o agravamento da exploração e das injustiças. E nós, os trabalhadores e o povo e a sua luta não o podem permitir. Há força para impedir a concretização dos seus objetivos. Não se pode tolerar que a desigualdade que persiste e se agravou nestes anos de epidemia continue e se aprofunde”, defendeu.