“Não é em repetidos anúncios de programas governamentais de apoios aos jovens e ao interior que está a resposta”, considerou Jerónimo de Sousa, aludindo ao Programa Regressar e IRS Jovem anunciados há uma semana pelo secretário-geral do PS e primeiro-ministro, António Costa.
Durante quase 50 minutos, o secretário-geral do PCP aproveitou o comício de encerramento da 45.ª Festa do Avante para elencar várias críticas às opções do executivo socialista, como, por exemplo, em relação ao Programa de Recuperação e Resiliência (PRR).
Na opinião do dirigente comunista, o país “não precisa de mais do mesmo, mas de se libertar do ciclo vicioso da política de direita e dos problemas acumulados que criou”.
Contudo, prosseguiu Jerónimo de Sousa, as medidas de que Portugal “precisa para avançar” não estão no PRR.
“Não encontramos no PRR, nem no Portugal 2030, por mais transições que estes proclamem. Ao contrário da propaganda, o PRR não é o instrumento capaz de imprimir as alterações estruturais de que o país precisa. O PRR não parte das necessidades do país, mas das imposições da União Europeia. Por mais milhões que possam ser anunciados (…), sem uma profunda alteração das políticas o país não sairá da cepa torta”, advogou.
Sem nunca referir as negociações do Orçamento do Estado para 2022, o membro do Comité Central do PCP explicitou que “está claro” aquilo que o partido tem defendido.
“E que ninguém alimente dúvidas: O PCP bater-se-á pela rutura e alternativas necessárias. O PCP bater-se-á a todos os níveis e em todos os espaços de intervenção por cada medida necessária ao nosso povo e ao nosso país. Assim temos feitos, assim o faremos”, completou.
Jerónimo de Sousa também acusou o Governo socialista de “assistir sem pestanejar a tentativas de despedimentos coletivos e encerramentos de empresas”, fruto de uma “complacência” e “cumplicidade” com as “normas gravosas das leis laborais”.
No plano da legislação laboral, o secretário-geral do partido acrescentou que “a defesa e afirmação dos direitos dos trabalhadores” têm de “ser assumidas e não varridas para debaixo do tapete da concertação” com o patronato.
Ainda no plano dos anúncios feitos pelo Governo, Jerónimo de Sousa disse que a gratuitidade das creches para todas as crianças tem de ser acompanhada por “uma opção de financiamento que dê prioridade ao apoio às crianças e famílias em vez de fazer figura de bom aluno” para a União Europeia.
Já a valorização dos apoios sociais, sustentou, assim como o aumento do abono da família, e o alargamento e aumento do valor do subsídio de desemprego precisa de uma “decidida opção de combate à pobreza que vá além da propaganda”.
A política de PSD e CDS-PP “falhou” em todos os planos e levou a um país “mais frágil e dependente”, mas para o dirigente comunista a culpa também é partilhada pelo PS por se apoiar na trajetória preconizada pela direita.
“Falhou no plano político com as práticas de submissão do poder político ao poder económico, de promiscuidade entre os negócios e a política, que favoreceram a corrupção e a política de instrumentalização do Estado a favor dos grupos económicos, bem patente nessa placa giratória que faz rodar em permanente concubinato conselhos de administração de empresas e membros de governos”, completou.
"Quiseram silenciar-nos"
“Quiseram silenciar-nos, quiseram limitar a ação deste partido indispensável à luta dos trabalhadores e das populações. Quiseram impedir a Festa do Avante!, insinuaram maldosamente motivações financeiras”, declarou.
O líder comunista negou que estas tenham sido as motivações para o partido ter realizado a Festa do Avante! em pandemia - facto que em 2020 motivou polémica, de partidos e algumas personalidades públicas.
“Se fossem essas as nossas motivações não a teríamos realizado! Hoje é mais fácil perceber quão justas eram as nossas razões”, vincou o secretário-geral.
Jerónimo de Sousa defendeu que “era preciso travar as pretensões dos senhores do medo e do mando, os senhores do dinheiro e as forças que os servem que aspiravam a limitar o exercício das liberdades, minar a democracia, dificultar o protesto e proibir a luta social e a ação coletiva nas empresas, no espaço público e nas instituições e levar longe, a pretexto da epidemia, a intensificação da exploração do nosso povo”.
“Era necessário dar confiança e esperança”, sublinhou, “combater o medo e ao mesmo tempo exigir as medidas e soluções para salvaguardar a saúde de quem vive e trabalha neste país, como sempre o fizemos, lutando e propondo medidas concretas, da vacinação à testagem e ao reforço do Serviço Nacional de Saúde”.
Por essas razões, defendeu o secretário-geral, o partido não aceitou “desde a primeira hora, nem que o vírus infetasse os direitos, nem que a luta fosse confinada , deixando o grande capital em roda livre”.
A 45ª Festa do Avante termina este domingo e representou o ponto alto das comemorações do centenário do PCP. O certame anual comunista teve este ano uma lotação máxima de 40.000 visitantes, mais 23 mil do que em 2020, ainda com limitações devido ao contexto de pandemia da covid-19 (como a apresentação de certificado digital de vacinação ou teste negativo).
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